Veja um aqui um tutorial completo em como usar, simplificadamente, o método de alocação de ativos como a estratégia principal na construção de sua carteira de investimentos.
Com ela, sua independência financeira ficará mais próxima!
Esse tutorial sobre alocação de ativos é mais um texto para elucidar dúvidas de amigos utilizando meu conhecimento e experiência no mercado financeiro. Nesse sentido, ao invés de rápidas respostas, ofereço algo mais completo à pessoa que me pergunta, com embasamento em fatos, gráficos e outras formas de esclarecimento. Além de deixá-los como uma referência futura aos novos leitores.
Outros tutoriais semelhantes estão presentes na página liberdade financeira do blog. Acesse-a se quiser descobrir mais.
- O Método de Alocação de Ativos – fundamentos básicos
- Pilares principais na alocação de ativos
- O percentual inicial para alocação
- A realocação (ou rebalanceamento) dos ativos
- O Método de Alocação de Ativos – a prática
- Montando uma carteira inicial de investimentos como exemplo
- Montagem da carteira de investimentos em renda fixa (40% do total de investimentos)
- Montagem da carteira de investimentos em renda variável (30% do total de investimentos)
- Montagem da carteira de investimentos em câmbio (10% do total de investimentos)
- Montagem da carteira de investimentos de imóveis (20% do total)
- O gerenciamento futuro de sua carteira de investimentos
O Método de Alocação de Ativos – fundamentos básicos
Nesse texto, passo os fundamentos do método, seus pilares de alocação e uma sugestão inicial de carteira de investimentos. É um bom ponto de partida para estudos posteriores mais elaborados.
Antes de continuar, um aviso: lembre-se que a alocação de ativos só deve ser feita se há um excedente disponível no orçamento para investimentos.
É necessário que você possua um fluxo positivo mensal para a construção do portfólio e futuros aportes. Imprescindível é não possuir dívidas em atraso e ter completado seu “colchão” de segurança, uma reserva financeira para gastos emergenciais. Se tiver dúvida como agir nesses casos, veja o artigo onde forneço algumas ideias para o ajuste do orçamento.
A razão sobrepondo-se à emoção
É importante ter em conta que a alocação de ativos nunca dirá a você qual o melhor investimento para seu dinheiro. Ela não o deixará rico do dia para a noite e não renderá conversas de altas animações na mesa do bar. Se você está esperando algo assim, é provável que suas expectativas não sejam preenchidas por esse texto.
Entretanto, a alocação de ativos é um método seguro que, a médio e longo prazo, tem um potencial de superar os melhores índices de mercado por um motivo muito simples: você vai usar muito mais a razão do que a emoção no gerenciamento de seu dinheiro. E quem vive o mundo das finanças, sabe quais destes tipos de atitudes são mais eficientes a longo prazo: os sobreviventes são as pessoas racionais.
Antes de falar do método de alocação de ativos propriamente dito, vamos apenas a algumas palavrinhas sobre diversificação, uma das bases dessa estratégia.
Diversificação da carteira de investimentos na alocação de ativos
Alocar nosso dinheiro em diversas classes de investimentos pressupõe uma diversificação. E é uma sábia decisão, pois ninguém possui a habilidade de prever o futuro a longo prazo. Todos bons investidores praticam a diversificação, mesmo que falem mal dela. Portanto, esqueçam aquela besteira de colocar todos os ovos na mesma cesta e cuidar dos ovos.
Tais ideias são disseminadas pela confusão entre o possível e o provável. É possível você ganhar na loteria (desde que jogue)? Sim, é possível! Mas é provável?
Concentrando seus investimentos em apenas um ativo de risco, você pode ganhar muito. Mas não é provável que vencerá o longo prazo. Mesmo que conheçamos muito de um negócio, aceitemos nossa limitação de que não somos capazes de prever os próximos cisnes negros.
Além disso, apostar em apenas um ativo de risco, muitas vezes seguindo uma dica quente de algum guru pode alterar seu estado emocional, principalmente se você possui responsabilidades familiares. Estresse, ansiedade e preocupação estariam certamente presentes. Com a diversificação, você tem mais segurança e tranquilidade, pois seu capital estará alocado em diversos ativos, diluindo seus riscos.
Todo excesso deve ser, entretanto, evitado. Diversificar de forma exagerada pode também causar problemas, como a falta de foco, uma maior demanda de seu tempo e um aumento na movimentação financeira, o que pode gerar um aumento de tarifas pagas a bancos e corretoras. Equilíbrio sempre é bom.
Por fim, é importante entender que o conceito da diversificação está muito ligado à ideia de controle de risco no mercado financeiro. E acreditem, ninguém vai muito longe sem um bom gerenciamento de risco em seus investimentos. A alocação de ativos é um método que embute esse conceito de uma forma muito apropriada.
Correlações de variáveis na alocação de ativos
O cerne do entendimento dessa ferramenta é alocar seus investimentos em determinados ativos financeiros que possuam covariância entre eles.
Covariância? Calma, vou simplificar…
A covariância é uma técnica da estatística que procura nos mostrar como dois conjuntos estatísticos estão relacionados entre si. É fácil entender o conceito mesmo sem usar nenhuma notação matemática. Para simplificar, daqui para a frente vou usar a palavra correlação em lugar da covariância, pois ela é mais intuitiva. Apesar de possuírem uma pequena diferença teórica, para nosso estudo elas são similares, uma vez que quando uma é positiva ou negativa, a outra também o é.
Imaginem uma variável, como o preço da energia elétrica. Quando seu valor cai ou desce, influencia uma infinidade de outras variáveis no mercado. Em geral, quando temos um aumento na conta de luz, tendemos a encontrar formas de consumir menos. Ou seja, a variável CONSUMO geralmente diminui quando a variável PREÇO da energia elétrica aumenta. Por isso, essas duas variáveis possuem uma correlação NEGATIVA.
Um aumento do preço da energia elétrica pode, por outro lado, beneficiar o caixa das empresas envolvidas na sua distribuição, aumentando seus lucros. Assim, a variável LUCRO das empresas elétricas geralmente aumenta quando a variável PREÇO da energia elétrica aumenta. Assim, essas duas variáveis possuem uma correlação POSITIVA.
Veja que usei a palavra “geralmente” em ambas asserções. Estamos usando exemplos de mercado e, como o mercado é composto por ações de milhões de agentes, interferindo continuamente em todas as variáveis, a certeza nunca existe.
Se você usar mais o ar-condicionado, mesmo com uma redução no preço da energia elétrica (bandeira vermelha para verde), o seu consumo pode ter aumentado tanto de modo que o valor pago seja maior. Ou a empresa elétrica pode ter sofrido um aumento de seus custos acima do reajuste de preços, o que não proporcionou aumentos de lucros. Sempre quando estamos conversando sobre decisões de mercado, estamos falando de probabilidades.
Assim, para escolher os ativos que irão compor nossa carteira de investimentos, é bom observar algumas correlações. Vamos conversar sobre esse tipos de ativos e suas correlações a seguir.
Pilares principais na alocação de ativos
É comum muitas referências estabelecerem 3 pilares principais na alocação de ativos. Eu prefiro organizar a minha carteira de investimentos em quatro pilares, que serão explicados abaixo.
Lembro aos leitores que esse artigo não tem como objetivo dissecar todas as vantagens e desvantagens de cada um dos pilares. Seria uma quantidade de texto expressiva que exigiria uma postagem para cada um. O objetivo é mostrar na prática, como funciona uma alocação de ativos em sua forma mais simples.
1. O pilar da renda fixa
Embora nada seja, na verdade, “fixo”, o pilar da renda fixa é o pilar que trará certa previsibilidade ao seu portfólio, principalmente tratando-se do curto prazo. Sua importância na alocação de ativos já deveu-se muito, em países como o Brasil (onde a taxa de juros real sempre foi uma das maiores do mundo), à boa rentabilidade de seus produtos.
Com um cenário de taxas de juros mais baixas, ele continua sendo importante para garantir uma reserva de oportunidade para ser usada em momentos críticos do mercado. Além disso, em países onde a economia e a política estão intensamente interligados, nada garante uma redução muito expressiva e perene. Assim, a renda fixa sempre terá seu papel em um portfólio gerenciado pela estratégia de alocação de ativos.
Entende-se por renda fixa investimentos como poupança, fundos DI, títulos públicos (Tesouro Direto) e títulos privados (CDBs, LCIs, LCAs, CRAs e debêntures). Cada um desses títulos possuem rendimentos e riscos diversos. Eles devem ser escolhidos com base em diversas variáveis, como o total do capital investido, perfil e idade do investidor, expectativas quanto à liquidez e previsão de resgate.
Como essa postagem está direcionada à montagem de uma carteira de ativos inicial e com baixo capital, sugiro que os leitores estejam focados em títulos públicos do Tesouro Direto (ou seus fundos de gestores com taxa zero) e títulos privados de bancos médios como CDBs, LCIs e LCAs. Entendo que esses são os que possuem o melhor equilíbrio entre risco e retorno dentre as aplicações de renda fixa. Fuja da poupança (rendimentos baixos) e fundos de bancos (taxas elevadas).
2. O pilar da renda variável
A renda variável envolve principalmente as ações de empresas. Podemos pensar em investir em ações de empresas brasileiras ou de outros países. Uma vez que o público alvo desse texto é aquele que está iniciando a montagem de sua carteira de investimentos, focarei em ativos nacionais. Considerações adicionais sobre o investimento no exterior estarão presentes no próximo pilar.
Podemos segmentar as ações de empresas em vários aspectos. Para a montagem de uma carteira de ativos mais complexa, é interessante possuirmos ações com perfis diversos. No mercado brasileiro, existem empresas com perfil de distribuição de dividendos, com mais tempo no mercado e já consolidadas, não exigindo grandes investimentos futuros.
Por outro lado, existem empresas que estão em uma fase de crescimento acelerado, e que em geral não pagam gordos dividendos, preferindo alocar seu caixa para financiar sua expansão. São as chamadas small caps. Possuem, entretanto, alto potencial de valorização para o futuro.
Existem ainda ações de empresas com perfil exportador, que podem beneficiar-se com aumentos no preço das commodities e de altas do preço em dólar. Dentre a renda variável, são ações consideradas defensivas em caso de crises cambiais.
Porém, para o pequeno investidor, que inicia agora a montagem de sua carteira e não tem tempo para acompanhar o mercado, eu sugiro a compra de ETFs, que são fundos de índices disponibilizados pela BM&FBovespa. É uma alternativa mais simples e adequada para operacionalizar a alocação de ativos, principalmente para perfis de determinados investidores.
Para aprofundar a visão dos perfis de investidores e o conhecimento de ETFs, bem como acompanhar uma carteira de investimento onde acompanho sua rentabilidade, acesse os links abaixo.
Qual a rentabilidade de uma carteira de ETFs e fundos de índice?
Perfil financeiro, perfil de investidor e perfil de investimento: quais as diferenças?
Veja, entretanto, que a alocação de ativos, por si só, não é uma panaceia que dará resultado independentemente das ações que escolhemos. A avaliação qualitativa de qualquer ativo, nesse caso, deve ser bem considerada.
3. O pilar do câmbio
O pilar do câmbio não é propriamente um investimento, mas um seguro. Se entendermos moedas como investimentos, é provável que venhamos a nos decepcionar no futuro.
O Brasil é um país instável. Assim, é prudente o investidor reservar uma parte de seu dinheiro em ativos como moedas estrangeiras e metais preciosos. Alguns investidores, como citei acima, investem em acões e ETFs no exterior, em um processo que embora não seja simples como investir na poupança, não é tão complicado.
Para quem ainda não possui uma carteira de investimentos consolidada, ou está no início do processo de acumulação de capital, não acho necessário o investimento externo, uma vez que esse pilar proporciona uma boa segurança quanto às crises. Aplicar em renda variável no exterior, de qualquer forma, não blinda o investidor de uma crise sistêmica de âmbito mundial, uma vez que tais ativos também acompanhariam a queda de valor global.
Sugiro assim, pensarmos em dólar e ouro. Embora ambos sejam um fator de segurança, o ouro é ao mesmo tempo, um fator de segurança para quedas do dólar. O dólar é uma moeda que a médio prazo, em condições normais, irá sofrer um lento processo de declínio nos próximos anos. Mas ainda é o seguro mais líquido contra crises imediatas.
O leitor deve lembrar que conversamos sobre correlações positivas e negativas. O câmbio é a classe de ativos que possui uma correlação negativa muito precisa com a renda variável. Se esta entrega uma forte alta, em geral, o dólar e ouro vão abaixo, e vice-versa. Esse tipo de reação é essencial para o gerenciamento de riscos e da carteira de ativos, como veremos posteriormente.
Diferentemente do dólar, que como moeda está ameaçada a longo prazo, o ouro possui uma grande solidez. Como a entrada de ouro novo no mercado é um processo moroso, ele praticamente é uma moeda à prova de inflação. Entretanto, ele tende a valorizar apenas em grandes crises. Exatamente por isso que não o considero como um investimento, e sim como um seguro.
É interessante que o dólar e ouro, apesar de estarem na mesma classe de ativos, possuem uma correlação negativa entre um e outro. Em geral, quando o dólar sobe, o ouro cai, e vice-versa. Temos aqui um caso de gerenciamento de risco dentro de um mesmo pilar. Falaremos adiante mais sobre os ativos de câmbio quando definirmos os percentuais de alocação na carteira de investimentos.
4. O pilar dos imóveis – os fundos imobiliários (FIIs)
Algumas pessoas colocam os FIIs no pilar da renda variável. Embora eles sejam de fato uma renda variável a curto prazo, eu os vejo como uma renda fixa, como se você fosse o dono de um imóvel e recebesse mensalmente um rendimento disponibilizando-o para aluguel. Como um imóvel, fornece ainda segurança real, garantindo confiabilidade e solidez de sua carteira de ativos.
Para colocar em prática essa ideia, você precisa escolher os FIIs corretos: os FIIs chamados de tijolo, que administram imóveis reais. Existem muitos FIIs que investem em outros FIIs e em papéis de renda fixa. Em geral, eles oferecem rendimentos maiores do que a renda fixa, pois aplicam em CRIs e CRAs não acessíveis ao pequeno investidor.
Há espaço na alocação de ativos para esses papéis (substituindo o pilar da renda fixa), mas como estamos montando uma carteira inicial com menos riscos, podemos deixá-los de lado por enquanto.
A classe dos FIIs de tijolos possuem uma correlação levemente negativa com o pilar original da renda fixa. Quando os juros estão em queda, os investidores, ávidos por maiores rendimentos, procuram outras alternativas dentre as mais seguras, para seus investimentos. E com o aumento da procura, impelem os preços dos FIIs de tijolo para cima.
Da mesma forma que os ETFs, os FIIs podem ser adquiridos através do homebroker de sua corretora.
O percentual inicial para alocação
Veremos aqui quais os percentuais que devemos definir para cada um desses ativos em nossa carteira. Infelizmente, isso não tem uma resposta pronta. Vou exemplificar aqui dois perfis opostos de investidores, e como a alocação de ativos poderia funcionar bem para eles.
Imagine uma pessoa já com 50 anos que queira parar de trabalhar aos 65 anos e complementar sua aposentadoria. Essa pessoa não tem muito tempo para montar um portfólio expressivo e deveria ser conservadora com seu dinheiro, evitando riscos desnecessários. Além disso, como seu horizonte de vida não é muito longo, pode ser inócuo imobilizar muito capital em seguros (pilar do câmbio).
Uma alocação sugerida para esse perfil de pessoa seria algo em torno de 50-60% em renda fixa, 10-20% em fundos imobiliários, 10-20% em renda variável e 5-10% em câmbio.
Agora imagine uma pessoa que acabou de entrar no mercado de trabalho, que possui uma perspectiva de vida longa e que presenciará muitas variações no mercado financeiro nesse tempo. Essa pessoa, por possuir muito tempo para acumular seu patrimônio, pode arriscar um pouco mais, mas deve possuir um valor maior em seguros.
O capital imobilizado aqui será compensado pelo maior tempo de rendimento de outros pilares da carteira de investimentos.
Uma alocação sugerida para esse perfil poderia ser percentuais em torno de 20-30% em renda fixa, 20-30% em fundos imobiliários, 30-40% em renda variável e 10-15% em câmbio.
Caberá ao leitor entretanto, analisar as considerações feitas e definir onde ele se situa entre esses dois extremos. É possível ainda incluir análises macroeconômicas na definição desses percentuais. Se espera-se um futuro com juros reais escandalosamente baixos, é natural que aumentemos o percentual destinado à renda variável.
A realocação (ou rebalanceamento) dos ativos
Esse é o último conceito da alocação de ativos necessário para pularmos adiante para o exemplo prático. A realocação de seus ativos é o procedimento que diferenciará positivamente a sua carteira de investimentos da grande maioria. Por isso é essencial entender esse conceito e praticá-lo frequentemente.
Imagine que você começou com uma carteira hipotética com 40% em renda fixa, 30% em renda variável, 20% em FIIs e 10% em câmbio.
Agora imagine que passaram-se alguns meses. Nesses meses, o mercado reagiu de uma forma diferente para essas quatro classes de ativos. Em um período de bonança na renda variável e com quedas nas taxas de juros, o novo quadro de sua carteira de ativos modificou-se.
Sua parcela de renda variável aumentou de 30% para 37%, a alocação de FIIs aumentou de 20% para 23% e as alocações em renda fixa e câmbio diminuíram, como pode perceber no gráfico a seguir.
Supondo que o seu racional de investimentos, ou seja, a base percentual que você determinou no início deve ser mantida, você precisa realizar a realocação desses ativos, de forma a reabilitar os percentuais iniciais.
Como rebalancear os ativos
Nesse exemplo, você precisará vender cotas de ações e FIIs na sua carteira e com esse dinheiro, comprar cotas de renda fixa e câmbio, restabelecendo a base percentual inicial. É a melhor forma de gerar liquidez para possibilitar a compra de ativos que estão mais desvalorizados no momento.
Atente, portanto, que rebalancear não é vender e comprar “qualquer coisa” para recompor os percentuais. A qualidade dos ativos sempre deve ser considerada nas operações. Não necessariamente você comprará o mesmo ativo que caiu, mas sim algum ativo da mesma classe, gerenciando riscos futuros.
O momento de realizar a realocação de ativos varia de investidor para investidor. Existem os menos preocupados que definem uma data para realizar essa realocação, como por exemplo, a cada seis meses ou um ano.
Para aqueles que gostam de acompanhar seus investimentos, definir um desvio para cada ativo pode ser interessante. Por exemplo, no nosso exemplo eu defini o percentual inicial em renda variável de 30% do total da carteira de investimentos. Podemos determinar que um desvio absoluto de 5% seja o ponto onde devo realizar a realocação. Assim, se o percentual de renda variável na carteira de ativos chegar a 25% ou 35%, é a hora de realocar.
Essa realocação pressupõe que o futuro é desconhecido. Não sabemos quais ativos vão subir ou cair no mês seguinte. Realizar o rebalanceamento faz com que, racionalmente, nós aceitemos essa condição e nos obriguemos a vender parte dos ativos do pilar que se valorizou e a comprar parte dos ativos do pilar que se desvalorizou. A longo prazo, essa atitude racional dará melhores frutos do que atitudes emocionais em comprar ativos “baratos” e vender ativos “caros”.
Vale lembrar também que para as pessoas que fazem aportes mensalmente, elas devem aportar nos ativos da classe que teve seu percentual diminuído da carteira de investimento. É possível que esses aportes mensais sejam suficientes para postergar futuros ajustes, pois o aportador está mensalmente realizando uma regulação fina nesses percentuais.
Subentende-se que, para isso, o leitor deve realizar um mínimo de controle sobre seus investimentos. Realizar um fechamento mensal dos valores de ativos em sua carteira é essencial para tomar tais decisões. Veja meus rebalanceamentos semestrais aqui para consolidar o conceito. Agora, vamos à prática!
O Método de Alocação de Ativos – a prática
Montando uma carteira inicial de investimentos como exemplo
Para montar uma carteira inicial pela estratégia de alocação de ativos, é necessário um valor mínimo em cada pilar de forma a diminuir percentualmente as taxas incidentes em cada operação. Mas é muito menos do que os leitores podem pensar.
No pilar de renda fixa não é necessário pagar taxas. Existem corretoras que não cobram taxas de administração no Tesouro Direto, incidindo apenas a cobrança do próprio Tesouro, de 0,25%.
Já existem fundos de títulos do Tesouro pós-fixados sem cobrança de taxa de administração. A taxa zero também é padrão em títulos privados em bancos médios.
Nos pilares de renda variável (ETFs) e FIIs, existem corretoras que não cobram corretagens para tais fundos. Caso fôssemos montar uma carteira de ações diversificada em corretoras que cobram taxas de corretagens, os custos inviabilizariam investimentos menores.
Reforço que, independentemente do valor de sua carteira de investimentos, é interessante que a montagem desse portfólio ocorra quando o investidor tiver em seu poder um montante superior às suas despesas de, no mínimo, 6 meses. Para os mais conservadores, podemos pensar em até um ano. A partir da formação desse colchão de segurança, que será usado em emergências, teremos mais tranquilidade para começar a diversificar.
Já conversamos sobre a definição dos percentuais de cada ativo na alocação. Vou atribuir os valores do mesmo exemplo que citei anteriormente e em seguida vamos conversar sobre cada pilar da carteira de investimentos.
Montagem da carteira de investimentos em renda fixa (40% do total de investimentos)
Pense em uma reserva financeira de oportunidades, para ter caixa e aproveitar quedas de outros ativos no mercado comprando-os a um preço descontado. Cerca de 1/4 da alocação de ativos em renda fixa pode ser dedicado a ela. Invista em títulos públicos do Tesouro Direto vinculados à taxa SELIC ou fundos atrelados ao mesmo indicador com taxa zero, existentes na Pi Investimentos, BTG Pactual, Rico e Vítreo. O que você quer aqui é liquidez e ausência de volatilidade.
Escolher bons CDBs de liquidez imediata de bancos médios também é uma boa escolha. Muitos desses títulos privados possuem títulos que rendem bem mais do que os títulos públicos.
A partir do momento em que você acumule essa reserva financeira, você deve começar a diversificar dentro do pilar de renda fixa e em outros pilares. Você deve buscar, dentro da renda fixa, investir em ao menos 3 tipos de títulos:
- De liquidez imediata (Tesouro SELIC, fundos taxa zero ou CDBs com liquidez diária de bancos médios): cerca de 1/4 da alocação de renda fixa (10% do total do patrimônio);
- De médio prazo pré-fixados (Tesouro Pré-fixado e CDBs, LCIs e LCAs pré-fixadas de bancos médios: a menor parcela, pois envolve um pouco mais de risco;
- Ou títulos atrelados à inflação de longo prazo (Tesouro IPCA), dentro do horizonte de vencimento em que você ainda possa resgatar o investimento e desfrutá-lo. Hoje já existem fundos de investimentos com taxa muito baixa que investem nesses títulos.
Atualmente, também existem ETFs de renda fixa que podem substituir o trabalho de compra de ativos individuais, como o ETF IMAB-11, do Itaú, com 0,25% de taxa de administração (idêntica ao Tesouro Direto) para títulos indexados à inflação.
Assim, a conta inicial será feita com base no item “1” (reserva de oportunidade). O item “3” pode ser de 3 a 4 vezes o valor do item “2”, considerando que aplicações vinculadas à inflação são mais seguras até o vencimento, embora os rendimentos são bem variáveis no período. O objetivo final é que, toda a carteira de renda fixa corresponda a 40% do total de seus investimentos.
Na fase inicial da montagem da carteira de investimentos em renda fixa, esse processo dar-se-á aos poucos, pois a manutenção do valor correspondente a 6 meses das despesas mensais distorcerá em um primeiro momento, os percentuais.
Lembre que a reserva de emergência, utilizada para despesas extras não previstas, deve estar alocada à parte do portfólio onde a alocação de ativos será gerenciada. Comentei isso no texto da montagem da carteira de investimentos de minha filha.
Montagem da carteira de investimentos em renda variável (30% do total de investimentos)
Enquanto seu capital for baixo, concentre-se em comprar um ETF. Historicamente, o PIBB11 possui uma rentabilidade um pouco melhor do que o BOVA11, embora no ano passado e nesse ano, até o momento que escrevo, o BOVA11 tem se saído melhor. Porém, essas informações nada indicam sobre a rentabilidade futura.
A decisão deve ser tomada em função da taxa de administração, caso o investidor não vá realizar grandes movimentações por mês. O PIBB11 tem uma taxa bem inferior ao BOVA11, mas possui menor liquidez. Isso quer dizer que é possível que o investidor pague algum spread de compra e venda no momento da operação. Além disso, o BOVA11 possui uma maior diversificação do que o PIBB11, embora as 50 maiores empresas compostas nesse índice já sejam mais do que suficiente.
Eu escolheria o PIBB11 pela taxa de administração menor, mas deixo o leitor decidir entre ambos. Os demais ETFs possuem liquidez muito baixa, ou menor diversificação, ou ainda, aplicam-se a empresas no exterior. Não acho uma boa ideia, uma vez que o risco Brasil estará segurado no pilar do câmbio.
Como um convite a checar possibilidades reais, veja no blog do Investidor Inglês uma comparação de rentabilidades para BOVA11, PIBB11, Renda Fixa e a ação da Ambev nesse estudo de caso.
Lembro que a sugestão dos ETFs aplica-se a pessoas com baixo capital inicial ou que não querem usar seu tempo para escolher bons ativos. Se você não inclui-se nessas categorias, pode ser muito mais produtivo escolher bem suas ações e montar sua carteira com “sub-percentuais” de alguns setores da bolsa.
Por exemplo, se definiu um valor de 20% para renda variável, poderia atribuir algo como 5% em ações de empresas de energia, 5% em commodities, 5% tecnologia e 5% seguros. Como comentei anteriormente, escolher bem as ações de venda e compra nos rebalanceamentos é essencial para uma estratégia vencedora no longo prazo. Leia sobre o número de ações que considero ideal para operar uma carteira de investimentos com a alocação de ativos.
Montagem da carteira de investimentos em câmbio (10% do total de investimentos)
Novamente aqui podemos dividir os dois perfis de investidores. Aqueles que não querem (ou não tem tempo de) preocupar-se muito com sua carteira, ou seja, fazem uma gestão mais passiva, com aqueles que querem estar mais ativos gerenciando o seu portfólio.
Se você está no primeiro grupo, a melhor forma de começar é aplicar parte de seu dinheiro em um fundo cambial. Esteja ciente, entretanto, que existem algumas desvantagens nessa aplicação, como a taxa de administração, o come-cotas semestral, além da necessidade de confiança no gestor.
Para os investidores mais ativos, sugiro o método que recomendei no artigo “Porque é interessante ter dólar na sua carteira utilizando contratos futuros“. Lá explico todas as vantagens de utilizar os contratos futuros de dólar nesse pilar, comparando-os inclusive com os fundos cambiais.
Conforme sua carteira de investimentos em câmbio vá recebendo mais aportes, é interessante dividir pela metade os investimentos cambiais em dólar e ouro (5% de cada no total de investimentos, em nosso exemplo).
Ao contrário do que muita gente pensa, não é difícil comprar ouro físico no Brasil. Essa modalidade apresenta em geral um spread alto entre a compra e venda (como a compra de dólares), mas que torna-se irrelevante a longo prazo. O problema nesse caso é garantir sua custódia em segurança.
Existe ainda a possibilidade de comprar ouro através de contratos pela BMF, diretamente através de sua corretora. Essa modalidade possuirá uma taxa mensal de custódia pela guarda do metal, mas você estará livre dessa responsabilidade. Em grandes crises sistêmicas, entretanto, nada garante que o seu contrato será um dia cumprido.
Para entender com mais detalhes como funciona cada modalidade, leiam esse link que explica como comprar ouro no Brasil.
Montagem da carteira de investimentos de imóveis (20% do total)
Desde que o investidor invista em papéis de FIIs de tijolo, o pilar da carteira imobiliária fornece uma segurança semelhante à posse de imóveis físicos. Com pouco capital, podemos possuir cotas de grandes empreendimentos e receber aluguéis com o benefício fiscal da isenção de Imposto de Renda.
Os fundos cobram uma taxa de administração, da mesma forma que uma imobiliária cobraria para cuidar de seus imóveis, que gira em torno de 0,5 a 1,5% ao ano. É o preço de não ter o trabalho na gestão dos imóveis.
A compra de cotas desses fundos pode ser feita através do home broker de sua corretora. Para começar, sugiro a escolha de dois ou três fundos de tijolos e com múltiplos imóveis. O leitor pode ver uma lista bem abrangente desse fundo no site do Investidor de Risco, nessa página. Existem ao menos 10 bons fundos com essas características.
O gerenciamento futuro de sua carteira de investimentos
Direcione inicialmente os aportes para os pilares que estiverem com o percentual abaixo da meta. Analise os montantes mensalmente, realizando um fechamento dos percentuais para essas tomadas de decisão.
Uma vez que a carteira de investimentos estiver com os percentuais dentro da meta, é hora de começar a realocar os montantes quando esses percentuais sofrerem um desnível pré-determinado, como foi explicado anteriormente, no parágrafo da realocação de ativos. Sempre atentando para a qualidade dos ativos para venda e compra.
A carteira inicial sugerida nesse artigo é a forma mais simples de fazer alocação de ativos. Existem muitas formas de montar carteiras mais elaboradas. Em renda fixa poderíamos acrescentar debêntures. Em ações, além de comprar empresas específicas, podemos proteger o capital com opções, seja em venda coberta de calls ou em compra de puts. No câmbio, podemos comprar outras moedas ou investir no exterior. E em FIIs, podemos possuir também outros tipos de fundos, não somente os de tijolos.
Porém, não há a necessidade de dar esse passo. Se o seu perfil é de uma pessoa que não gosta de acompanhar o mercado financeiro e não deseja aprofundar nas métricas de fundos e ações, escolha a simplicidade. A carteira de investimentos simples, apresentada nesse texto, pode ser usada para toda sua vida, garantindo rendimentos a longo prazo bem maiores do que a aplicação isolada da renda fixa.
A alocação de ativos também funciona bem para quem não quer perder tempo no mercado financeiro. Ela apenas exige, uma vez construída, um simples acompanhamento mensal que fornecerá informações para possíveis realocações.
Assim, podemos focar nas coisas que gostamos de fazer. Guarde seu tempo para ser uma das referências na atividade que já pratica ou deseja praticar. E esteja sempre no controle. Lembre que a responsabilidade é e sempre será, só sua.
Obrigado pela leitura. E se tiver alguma dúvida ou opinião, responderei com o maior prazer nos comentários abaixo.
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André, obrigado pelo post, tentarei aplicar na minha vida financeira.
Por favor, você possui um post ou poderia fazer um sobre o que fazer com papel moeda (euro ou dólar). Pode servir como esse seguro que você menciona? Ou seria melhor vender e aplicar em fundos cambiais?
Obrigado.
Inácio.
Anon, desculpe-me pelo atraso. Tive problemas com vários comentários no spam e não me atentei a isso. Vou acertar para não ocorre novamente!
Que bom que os textos estão ajudando a tomas boas decisões financeiras!
Eu comentei sobre as vantagens e desvantagens do papel moeda no post sobre dólar, comparando com outras alternativas. Digite “dólar” na lupa no menu e ele deve aparecer entre os primeiros.
Abraço e bom final de semana!
Opa André, tudo bem? Acompanho seu blog há mais de 1 ano, e recentemente ouvi sua entrevista no IF365. Primeiro: parabéns! Já estou compartilhando com bastante gente, principalmente quem não tem muita educação financeira. Agora queria uma dica, e claro, não se sinta comprometido, é mais uma reflexão que fiz ouvindo o podcast e que já estava matutando durante minhas leituras: Eu aidna não tenho ativos em FII na minha carteira, e meu pilar de imóveis ficou vazio. Eu assim como vc tinha um imóvel, liquidei, e agora tenho um capital remanescente (200K+), que pretendo aportar durante o ano em… Leia mais »
Olá Felipe, tudo bem? Em primeiro lugar, gostaria de agradecer por levar a mensagem adiante. As pessoas precisam de muita educação financeira e responsabilidade, para viverem melhor. Mas, enfim, minha opinião é que (principalmente com esses juros no chão…) você deve usar todo o montante de uma vez, porém, em diversos ativos. Minha ideia de ir devagar é enquanto você está conhecendo o ativo, aprendendo a operá-lo, enfim… quando é algo novo mesmo. Se você quer uma alternativa em seu patrimônio para o setor imobiliário, não deve esperar não. Mas veja bem, isso se o pilar de FIIs for o… Leia mais »
Posso aproveitar pra uma pergunta extra? No caso da sua filha, por exemplo, estou também procurando uns fundos com mais liquidez, tem os exemplos clássicos: KNRI11, HGRE11, etc. Mas o P/VP deles é bem alto para esse momento (imagino que por causa dos nossos juros todos migrando e meu caso coincidiu com essa época). Me sinto como que entrando na alta. Mas sei que pode ser só por causa do VP ainda não atualizado. Um jeito que vi como alternativa é pegar por exemplo o FOF BPFF11 que tem knri11, xpml11, e aí sim tem o p/vp regular, e uma… Leia mais »
Então… esse lance de P/VP é complicado… Eu opero FIIs já há uns 7 anos, e antes eu me preocupava mais com isso. Minha experiência diz que, para FII de tijolo, varia demais e não significa maior ou menos precificação exatamente. A expectativa conta mais. É claro que temos que ficar atentos para excessos. O que você alertou dos juros é verdade: muito capital foge dele para ir aos FIIs. Mas isso é geral… Já nos FIIs de recebíveis, pode fazer mais sentido, uma vez que os títulos que estão em poder do administrador tem um valor atribuído e não… Leia mais »
André, parabéns.
Muito obrigado por compartilhar seu conhecimento e experiência de vida. Acompanho seus textos desde de 2018, e aprendi e continuo aprendendo muito em cada postagem sua.
Mais uma vez muito obrigado.
Abraços.
Opa, Danilo, eu que agradeço!
A ideia do blog é apenas essa: ajudar cada pessoa que deseja estar à frente de sua própria vida!
Obrigado pelas leituras! Abraços!
Taí um texto de leitura obrigatória para todo investidor, do iniciante ao avançado. Parabéns, André!
Obrigado, Guilherme!
Um comentário positivo vindo de uma pessoa que também escreve ao mesmo público e com o sucesso que alcança com seu blog Valores Reais, gera um grande sentimento de satisfação!
Abraço!
André, muito obrigado!
Você está fazendo um trabalho fantástico, não só de Educação Financeira como também de Educação Emocional.
Valeu!!
Obrigado Welber!
Muitos investidores dizem que a razão e o intelecto tem uma importância de 5 a 10% para o sucesso financeiro. O restante vem da carga emocional. Acredito muito nisso. A alocação de ativos exercita muito esse aspecto.
Abraço e obrigado pelas palavras! 🙂
Fala, André!
Vejo que vc tem feito um trabalho monstruoso para atualizar o blog na nova plataforma. Parabéns!
Sobre o conteúdo do texto, concordo em tudo com seus argumentos, afinal de contas, temos uma filosofia de investimentos muito parecida.
O ponto que eu preciso ainda melhorar é, confesso, o investimento em câmbio, que não é bem, conforme você bem disse, um investimento, mas um seguro. É o preço que pagamos por viver num país instável economicamente…..rsrs
Obrigado Guilherme! Esse semestre eu perdi a oportunidade que tinha de fazer voluntariado, uma vez que a casa de educação que eu trabalhava fechou 🙁 Assim, como ainda não encontrei algo nas redondezas de casa, estou com um pouco mais de tempo e decidi dedicá-lo ao blog, para ajudar mais pessoas a encontrar o caminho da liberdade financeira, que, como sabemos, resulta em vários outros benefícios. O câmbio é, realmente, a maior resistência para muita gente rsrs. Eu sou seu adepto desde que ele “me salvou” da crise de 2008. Na época eu tinha um alto valor alocado em ações,… Leia mais »
Excelente, André, agradeço os links, bem como o seu próprio depoimento pessoal da crise de 2008. Infelizmente, em 2008, eu não tinha nada em dólar e senti na pele a falta dessa porção em câmbio……rsrsr
Abraços!
p.s.: comentei mais uma vez sobre o seu texto agora há pouco, pois não tem como não apreciá-lo como um verdadeiro guia para todo tipo de investidor!
Bora fazer um segurinho então rsrs. Veja os fundos do BTG: 0,10% de administração ao ano só! 🙂
Abraços!
Olá pessoal!
Na migração dos arquivos do Blogger para o WordPress, não consegui, ao menos por ora, migrar os comentários do Disqus. Caso desejem ver a discussão anterior, o link é: https://disqus.com/home/discussion/viagem-lenta/a_alocacao_de_ativos_ao_alcance_de_todos_viagem_lenta/
Obrigado!