Independência financeira passiva? O que é isso? Ela é algo possível?
Será que ela se ajusta ao seu estilo de vida?
Tempos atrás o blog de nosso empreendedor Frugal lançou uma ideia na finansfera: “não existe independência financeira passiva!“. Comentei por lá que isso poderia ser visto sob vários ângulos. Nesse texto vou detalhar um pouco de minha opinião em relação ao tema.
Inicialmente, precisamos conceituar o que seria essa passividade. Posteriormente, explico como tudo dependerá da segurança financeira em que a pessoa se encontra e de como pretende usar seu tempo pelo resto da vida. Vou usar o meu exemplo próprio, posteriormente, para exemplificar alguns pontos.
O que é independência financeira passiva?
O termo “passivo” utilizado nesse texto está relacionado ao número de horas que você utiliza para gerenciar seu patrimônio durante a independência financeira, assegurando que seus rendimentos, baseados em sua TNRP, garantam indefinidamente suas despesas mensais.
Mensurar o limite entre essa “passividade” e “atividade”, entretanto, é algo relativo, não havendo unanimidade para definir o número de horas para tal controle.
Talvez você, que utilize 10 horas pode semana gerenciando sua carteira de investimentos seja considerado um investidor “passivo” para um day-trader, que fica ligado diariamente no home-broker. Talvez seja considerado um investidor ativo, para uma pessoa que não possui investimentos e só se preocupa em sobreviver até o final do mês com seu salário.
Para uma pessoa que considera o termo “passividade” ao pé da letra, alguém financeiramente independente que checa seus investimentos por 2 horas por semana deveria ser considerado um investidor ativo. Pouco ativo, mas ativo. Para outra pessoa, isso pode ser considerado um trabalho prazerosamente passivo.
Afinal, com apenas duas horas semanais gastas com seus investimentos, sobrariam muitas para tornar sua vida ativa do seu jeito, seja somente para apreciar a lua ou pular de paraquedas toda semana. Escolhas emocionais que transitam entre a contemplação ou o choque.
Passividade precisa estar acompanhada de paz e tranquilidade
Logo, quem pode definir o seu ideal de “passividade” é somente você próprio. Encorajo apenas que você não se fie somente em horas semanais para estabelecer tais premissas. Pense também em sua paz e tranquilidade no processo.
De que adianta gastar somente 2 horas semanais gerenciando sua carteira de ativos se essas duas horas forem torturantes? Os efeitos negativos perdurarão muito além desse tempo e nunca deveriam ser uma alternativa. Talvez seja muito melhor dedicar 1 hora por dia em um processo estruturado e organizado, baseado em princípios que você definiu para a administração de seu portfólio.
Duas horas semanais torturantes ou cinco horas tranquilas? Qual seria a melhor definição de passividade?
Sob este ângulo, fica claro que passividade não pode ser medida apenas em tempo, mas sim em bem-estar geral. Vamos ver dois exemplos extremos abaixo para ilustrar a ideia.
A independência financeira do empreendedor
Um dos exemplos que o Frugal deu em seu post, baseando-se em si próprio, é o caso do administrador de um negócio. Tanto ele com sua franquia, como o Cowboy Investidor, que comercializa gado, tendem a não possuir uma independência financeira passiva, caso continuem com seus negócios.
De forma nenhuma, entretanto, apresento esse exemplo como negativo. Sou, desde que me conheço por gente, um entusiasta dos empreendedores. São eles que assumem os riscos, exacerbados no Brasil, para criar negócios geradores de lucro e que promovem o desenvolvimento da região e satisfação das pessoas.
Em geral, as pessoas que se aventuram no empreendedorismo possuem um perfil mais dinâmico e arrojado do que a maioria da população. Em outras palavras, são detentores de uma vida mais ativa, desejando sempre criar e assumir riscos com novas experiências.
Assim, será que teria algum sentido falar em independência passiva do empreendedor? Será que ele deseja essa passividade?
Pense nos grandes empreendedores que você conhece, como, por exemplo, Warren Buffet, Bill Gates, Ray Dalio ou Steve Jobs. Todos foram independentes financeiramente desde muito tempo, e quando eles pararam de trabalhar? Mesmo Gates, que deixou a presidência da Microsoft em 2008, permaneceu ativo na fundação que possui com sua esposa.
Você conseguiria imaginá-los de pijama em casa diariamente, ou tirando um ano totalmente “off” para uma viagem pelo mundo, ou, simplesmente, indo morar em uma ilha paradisíaca, longe dos holofotes? Eu não…
Assim, não vejo muito sentido no conceito de independência financeira passiva para algumas pessoas. Elas serão sempre ativas, pois a atividade é um dos principais impulsos que as move. Para o bem delas e do mundo.
A independência financeira com uma carteira de investimentos
Do outro lado da mesa, eu nunca tive o tino para vendas, necessário para qualquer empreendimento. Acabei por fazer a escolha de viver a partir de uma carteira de investimentos, que me permite ter uma vida tranquila e sem estresses. Além de precisar “vender” o produto, ficar à mercê da bagunça contábil e trabalhista brasileira sempre esmoreceu quaisquer entusiasmos que, porventura, apareceram na minha vida.
No caso do suporte de uma boa carteira de investimentos, para mim é clara a possibilidade de viver sua independência financeira de forma passiva. Porém, o grau de passividade depende de como você vai montar e gerenciar seu portfólio.
Vou explicar como gerenciei meus ativos em dois momentos de minha IF, e como pretendo prosseguir no futuro.
Carteira de investimentos no automático?
Quando eu pedi demissão de meu emprego, em 2010, comecei imediatamente a cursar um novo curso na universidade (Educação Física). Na verdade, tudo aconteceu meio de surpresa. Prestei vestibular no ano anterior, mais para ver se seria preciso fazer algum cursinho no ano seguinte, ou se era possível eu estudar em casa, por conta própria. A ideia era prestar no ano seguinte “para valer”.
O fato é que acabei passando e tive que fazer uma demissão meio “às pressas”. Quando o curso começou, eu ainda estava trabalhando e estive em um período de transição meio cansativo, não somente pelo antigo emprego: passei por outras adaptações, uma vez que voltei a Campinas e minha filha, em plena aborrescência adolescência, voltou a morar comigo. Foi uma etapa de mútuo aprendizado para nós dois que vivíamos fases bem singulares de nossas vidas.
Durante os 4 anos seguintes, eu me dediquei ao curso, aos estágios e a vários trabalhos extras-classe. Emendando um semestre, fiquei fora do país por 7 meses, o que fez com que eu adiantasse matérias para poder cumprir toda a carga horária dentro do período recomendado pela Unicamp.
Bom, mas qual a razão de toda essa história? Simples: nesses 4 anos minha carteira de investimentos funcionou praticamente no automático. O tempo que eu me dedicava a ela era muito pequeno, e, com alguma restrição, eu poderia declarar que vivi uma independência financeira passiva em relação aos meus investimentos.
Porém, os resultados não foram tão bons para o portfólio. O que me fez mudar a atitude.
Gerenciamento mais intenso da carteira de investimentos
Após a minha viagem e a conquista do canudo, já tinha plena ciência de que a rentabilidade de minha carteira de investimentos não estava tão boa quanto antes. Estava, inclusive, abaixo dos benchmarkings que eu tomava como meta. “Abandonar” o gerenciamento dos ativos não foi uma atitude sábia, uma vez que o portfólio não estava preparado para essa passividade.
Exceto pelos planos de previdência, eu não possuía nenhum fundo de investimento. Ou seja, tudo estava em ativos diretos, sejam ações, fundos imobiliários, câmbio (ah, ok, tinha alguns fundos aqui) e títulos de renda fixa, espalhados em várias modalidades e investimentos. Ou seja, era um portfólio que demandava um acompanhamento mais dedicado.
A partir de 2015, então, livre da faculdade, comecei a gastar mais horas em seu gerenciamento. Passei, inclusive, a operar opções, principalmente vendas de opções de compra e de venda. Larguei os fundos de dólar e passei a usar os contratos futuros.
Utilizei os rebalanceamentos de uma forma mais ativa, procurando vender ativos em alta e a comprar ativos em baixa. Essa gestão ativa fez com que a rentabilidade de minha carteira se recuperasse, anulando a estagnação vista nos anos anteriores.
Nada vem sem consequências, entretanto. O tempo dedicado à administração de meu patrimônio aumentou para algo em torno de 3 a 4 horas diárias, o que passa muito longe da independência financeira passiva, como afirmou nosso amigo Frugal. Estar vendido em opções e em contratos futuros também não traz, digamos, uma paz e tranquilidade plena em sua vida.
Assim, também é fato que existe independência financeira não passiva, mesmo que você não seja empreendedor. Basta você dedicar mais horas ao seu patrimônio do que poderia destinar a outras áreas de sua vida.
Independência financeira passiva – o retorno?
Já faz ao menos um ano e meio que estou fazendo algumas experimentações para voltar à situação de independência financeira passiva que vivi durante os anos da faculdade. Mas agora, esse retorno possui um método. O erro em praticamente abandonar o portfólio, como fiz há quase dez anos, foi aprendido.
Expliquei já em alguns textos que estou “terceirizando” parte de minha carteira de investimentos. O pontapé inicial foi a descoberta das gestoras digitais operadas por robôs de investimento, a qual estou fazendo uma comparação mensal da rentabilidade mês a mês. Entretanto, ainda não investi muito nas mesmas, pois as fintechs ainda são muito novas e não passaram por algum estresse do mercado.
Mas comecei, desde o final do ano passado, a investir em fundos de investimentos geridos por gestores mais experientes, como o Verde, Adam, Legacy, Alaska e outros mais. Minha meta é fechar esse ano com 1/3 de meu patrimônio gerido por terceiros, incluindo a previdência privada empresarial que carrego desde que saí de meu antigo emprego.
No segundo semestre de 2020 comecei também a monitorar uma carteira de ETFs e fundos de índice, uma alternativa mais equilibrada entre gestão e disponibilidade de tempo: não gasto tempo escolhendo ativos, mas tenho que rebalanceá-la periodicamente.
Estou agora, acompanhando a rentabilidade de todas essas carteiras no meu portfólio. Procuro manter um certo equilíbrio em renda fixa e renda variável, embora seja difícil obter uma boa precisão em função dos fundos multimercados, que não seguem uma composição estável.
A ideia é, se os resultados forem bons, ir gradativamente aumentando o percentual das carteiras de investimento mais passivas de forma a ganhar mais tempo na independência financeira. Quem sabe, chegando no modo “passivo” que o Frugal não acredita que exista 🙂
Para fechar esse tópico, uma observação: mesmo na minha carteira de controle pessoal, estou começando a simplificar alguns pontos com a chegada de novidades no mercado. Não vejo muito mais sentido em ficar, por exemplo, com uma infinidade de títulos no Tesouro Direto. Migrei a reserva de emergência para um dos fundos de taxa zero que existem por aí, parei de comprar novas debêntures para adquirir o fundo da Kinea (FDC Kinea INFF01) e as futuras compras de títulos do tesouro IPCA, serão direcionadas para fundos como o IMAB11, do Itaú.
Objetivo da passividade: paz e tranquilidade
A finalidade dessa transição é, no fim das contas, ter mais tempo. Algumas pessoas podem perguntar: mas para fazer o quê?
Cada um tem sua própria resposta. Talvez essas pessoas não se vejam fazendo mais nada na vida do que elas hoje já fazem. Ok, sem problemas: cada um com suas aspirações. Particularmente, entretanto, acredito que a conquista da independência financeira abre muitas portas à sua vida.
Você não crê que sempre podemos aprimorar nossas ações no dia a dia? Seja para os outros, seja para nós mesmos, seja para o mundo. Para isso, além de iniciativa e agilidade, precisamos do talento necessário, dedicação e… tempo. Com tempo, você tem muito mais condições de decidir de forma autônoma o que deseja para sua vida. Você não precisa vendê-lo em troca de um salário. Você não é preso a alguém.
Lembrete importante: qual passividade?
Para ficar claro: a passividade de que falamos aqui está vinculada, somente, à administração de sua carteira de investimentos. Seja delegando ela a gestores independentes ou mantendo uma carteira de fácil administração. Como citei anteriormente, ela não está ligada somente ao tempo, mas também a paz e tranquilidade. Confiar nos gestores ou possuir uma boa alocação de ativos para gerenciar seus riscos, é essencial para o sentimento de plenitude.
Sendo o dono de seu próprio tempo e com segurança de seus investimentos, você alcança facilmente o equilíbrio de sua vida genuína, que pode tornar-se muito mais ativa do que já foi um dia. Reflita, use sua criatividade e veja quantas coisas novas você poderia fazer!
Tempo é uma das poucas variáveis que podemos dominar no futuro. Alguns levarão mais anos para alcançar sua independência financeira, outros levarão menos. Mas é algo possível, principalmente quando começamos cedo. Se está iniciando a jornada agora, veja uma sugestão de montagem de uma carteira de investimentos. Minha filha começou assim em 2018.
E vocês, leitores: O que concluíram dessas ideias? É possível uma independência financeira passiva? Ou nossa sina é sempre ficarmos preocupados com nosso patrimônio?
Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
… assistir uma entrevista de vídeo no YouTube
… ler sobre um resumo de minha história
… ouvir uma entrevista de podcast no YouTube
… participar de um papo de boteco
… curtir uma live descontraída no Instagram
… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.
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Olá! André, excelente post.
É um assunto muito pessoal. Hoje eu acredito que tudo que for feito pra se adquirir mais “TEMPO” é válido, pois afinal esse é o nosso maior ATIVO.
Enfim, cada um deve analisar qual atende melhor a sua filosofia de vida buscando sempre a tranquilidade.
Abraço!
Olá Danilo!
Concordo! O tempo possibilita tornar realidade tudo que sonhamos, não? Além disso, ele proporciona paz para que essa jornada seja tanto efetiva quanto prazerosa.
Abraço e obrigado!
A cada 24 horas devemos dormir cerca de 8 h
Descontando este tempo, numa semana teremos 112 horas acordado.
11 horas seriam 10% do tempo acordado
Quem passa 11 h ou menos por semana gerenciando seu patrimônio deve ser considerado passivo
Quem passa menos que 5 h por semana deverá ser considerado negligente !
Hehe, gostei da última frase, Anon!
É, é uma boa e válida forma de analisar a questão!
Obrigado pelo comentário!
Outra coisa que esqueci de mencionar, é que estou desenvolvendo um aplicativo de controle de investimentos.
Estou buscando colocar o que há de melhor em cada um dos aplicativos do mercado.
Espero que dê tudo certo. Quando estiver pronto, te mando um convite de teste eheh.
Um abraço.
Estou no aguardo, Stark!
Vamos ver se ele ganha do MS Money haha!
Abraço!
Gasto cerca de 2 horas por Mês com meus investimentos. Tudo está automatizado e indexado de modo que foco no fazer dinheiro e melhorar profissionalmente do que ficar com o hb aberto tomando decisões baseado em sentimentos que nunca dará certo. Fica a dica
Perfeito Renato!
Temos que devotar nosso tempo às coisas que são importantes para a gente. Se você investe passivamente, é possível focar quase 100% na sua profissão.
Ficar com o HB aberto tomando decisões emocionais de fato acaba destruindo mais valor.
Abraço!
Pessoal, segue o link de parte dos comentários no Disqus, que não migraram para o WordPress mas continuam em sua plataforma. Muitos, nem por lá estão mais…
https://disqus.com/home/discussion/viagem-lenta/independencia_financeira_passiva_ou_ativa_qual_se_ajusta_mais_a_voce/
Se desejarem ler mais sobre o assunto, ou comentar com sua conta Disqus, ou ainda, se tiverem conhecimento desse bug de migração e quiser ajudar, é só enviar um email para mim.
Obrigado!