Como os esportes radicais atuam no culto da emoção humana? Você prefere a emoção-choque ou a emoção-contemplação?
E ainda, como a seletividade na atitude passiva e ativa mexe com as atitudes de cada praticante?
Como comentei no relato da viagem em Rishikeshi, no norte da Índia, era possível experimentar localmente várias oportunidades de realização de esportes radicais, como rafting – o qual participei, escalada, hiking e bungee jump.
Em meu conceito, podemos dividir os esportes radicais em duas categorias bem definidas. Na primeira, consideramos os esportes onde possuímos o controle da situação, mesmo que de forma parcial. Como exemplo, temos o rafting, a escalada, montanhismo, entre outros. Na prática dessas atividades, você e suas ações são determinantes, e muitas vezes, as peças-chave do momento. Ou seja, o sucesso ou fracasso da atividade depende fundamentalmente do grau de suas habilidades, decisões e atitudes.
Na outra ponta, existem os esportes em que você não tem controle algum durante o ato. Você depende de um prévio treinamento e de uma preparação dos equipamentos – que em geral é feita por terceiros, para que tudo ocorra como esperado. Ou seja, você é apenas um passageiro. Aqui situa-se o bungee jump, o paraquedismo e seus assemelhados, que são os esportes mais geralmente caracterizados pela liberação da “emoção”.
Choque ou contemplação no culto da emoção ?
Mas como nos relacionamos com nossas emoções frente a estes tipos de situações? Claro que os sentimentos e a forma de encará-las diferem de indivíduo para indivíduo, mas é interessante analisar o que filosofa Michel Lacroix em seu livro “O culto da emoção”:
“(…) É revelador que o homem contemporâneo se interesse mais pela emoção, que é de tipo explosivo, do que pelo sentimento, que tem caráter duradouro. (…)Prefere a emoção-choque, que é da ordem do grito, à emoção-contemplação, que é da ordem do suspiro. (…) Assim, o tema sedutor da “liberação da emoção” tende a se transformar numa vulgar reivindicação de “cada vez mais adrenalina”.(…) Daí esse paradoxo: nossos contemporâneos emocionam-se muito, mas já não sabem sentir.”
Em minha opinião particular, percebo os esportes em que a pessoa é a peça-chave, em geral com ações lentas, como mais propícios a gerar emoções que se consolidarão de forma permanente na nossa vida. Sentimos de uma forma mais compassada cada ato que praticamos, cada visão que temos, cada sensação de passagem.
Esse pensamento está imerso na descrição desse blog em relação às nossas viagens, sejam internas ou externas. Claro que esse é uma situação onde o relativismo é bem vindo, pois, de fato, não existe a definição do que é “melhor” ou “pior”, ou mesmo uma verdade absoluta. Pessoas pensam de formas diferentes e viva a liberdade de pensamento!
Mas eu particularmente, sinto-me mais à vontade, e aprecio mais a “emoção-contemplação”. Essa situação brota quando estou no controle da situação, quando eu faço parte do acontecimento e sou uma peça ativa escolhendo o próximo passo. Por outro lado, isso torna-me uma pessoa um pouco ansiosa e que inconscientemente gosta de estar sempre à parte do que está acontecendo, procurando sempre participar ativamente das decisões.
E, evidentemente, isso já trouxe-me consequências negativas. Como alívio, a meditação mostrou-me nos últimos anos que a meditação é uma forma de amenizar a ansiedade e abster-se, positivamente, de tudo o que ocorre ao redor, como comentei nas postagens de Mahabalipuram e Rishikeshi.
A fantástica lei das causas e consequências é implacável em todas as situações. Assim como, inconscientemente, me recuso a ficar de mãos atadas e não poder agir ou modificar uma situação, esse sentimento torna avessa à minha participação de esportes radicais na segunda categoria do culto da emoção, pois eu simplesmente sou um nada, uma peça da engrenagem que nada pode fazer para alterar uma situação. Não me sinto bem com isso. Falta um protagonismo que considero essencial na prática.
E, divagando um pouco, esse sentimento poderia até ser extrapolado para situações básicas do dia a dia. Como exemplo, eu não consigo mais assistir (já nos últimos 10 anos) noticiários. Mesmo antes, já sentia a mesma sensação quando ainda lia jornais em papel (um mundo antigo…). Nesses cenários, sinto-me como um sujeito passivo, limitado às informações que me são oferecidas no momento – e no caso da TV, ainda pior: disponibilizadas em um momento não determinado por mim. É como você não pudesse escolher o seu próprio menu de informações.
Com o advento da internet, aprofundei e consolidei ainda mais esse sentimento, pois, nessas circunstâncias, posso ler o que eu quiser, no momento em que eu quiser. Sinto-me uma peça ativa no processo. Como tudo na vida, porém, devemos estar atento aos excessos, um conceito que não é positivo para nenhum tipo de atitude. Porém, nos conhecer melhor ajuda a procurarmos um equilíbrio saudável nas práticas do nosso dia a dia.
E você, gosta da emoção-choque ou contemplação? Sente-se confortável em ser um sujeito passivo ou precisa estar sempre ativo em cada situação?
Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
… assistir uma entrevista de vídeo no YouTube
… ler sobre um resumo de minha história
… ouvir uma entrevista de podcast no YouTube
… participar de um papo de boteco
… curtir uma live descontraída no Instagram
… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.
E, se gostou do texto e do blog, por que não ajudar a divulgá-lo em suas redes sociais através dos botões de compartilhamento?
Artigos mais recentes:
- Atualização das rentabilidades de todas as carteiras
- Atualização das rentabilidades das carteiras ativa e passiva
- Atualização das rentabilidades das carteiras de ETFs
- Atualização das rentabilidades dos FoFs
Este foi o quarto artigo que acabei de ser relacionado a esse tem e foi o que mais deixou claro para mim. Gostei. São Paulo de Prêmios
O tema me lembrou o XGames, adorava ficar assistindo aquilo e pensando como o povo não tem limites. Sua publicação me fez refletir sobre isso
Olá Engenheiro!
Não conheço o XGames, mas, pelo contexto, imagino o que seria… Pois é, deve ser emoção-choque na veia, né rsrs?
André, Há diversões que são tão estressantes que parecem até extrapolar o âmbito do que é considerado diversão. Acredito que esportes radicais podem ser incluídos nessa categoria. E também alguns filmes, que são puro estresse do começo ao fim. Sempre penso no que há por trás da necessidade de emoções tão fortes e estressantes. Seria a sociedade tão conturbada na qual vivemos? Ou a angústia existencial que precisa ser acalmada de alguma maneira? Enfim, talvez sejam perguntas sem respostas… Na vida, passamos por muitas situações da categoria emoção-choque que não são escolhidas por nós, como perda de emprego, acidentes, incidentes,… Leia mais »
Olá Rosana! Excelentes indagações! Mais pontos para refletirmos! A vida já pode nos proporcionar emoções-choque e ainda procuramos por mais delas, hein? Seria uma forma de amplificar sentimentos negativos? Ou tentar anulá-los com a mesma receita? Ou caminhar para o outro lado da corda poderia ser uma forma de equilibrar a situação? Acredito que tem um pouco a ver com a ideia daquele texto sobre a “vergonha” que escrevi referente ao consumismo. O incentivo a participar de certas atividades cria, principalmente entre os mais jovens, um sentimento de vergonha, de derrota por ver as outras pessoas participarem e eles não.… Leia mais »