Será que seu perfil de investidor é o mesmo que seu perfil de investimento? Você se conforma apenas com os rótulos simplificados de conservador, moderado ou arrojado em seu perfil financeiro?
Veja por que há muito além a considerar para entender como devem ser suas atitudes perante sua carteira de investimentos.
Perfil financeiro é um conceito que está presente em vários textos desse blog. Lendo alguns trechos dessas postagens, entretanto, acredito que eu não tenha deixado muito clara a ideia que tenho sobre o conceito. O comentário do Stark, do blog Acumulador Compulsivo, chamou minha atenção para o assunto na semana passada.
Nesse texto, explico que o perfil financeiro pode ser entendido sob dois prismas: o perfil de investimento e o perfil do investidor. Ambos são totalmente diferentes, porém não excludentes. Encontrar seus perfis mais adequados, e sair da tríade “conservador, moderado e arrojado”, podem ser atitudes determinantes para o sucesso de sua carteira de investimentos e, como consequência, o alcance da independência financeira.
Perfil financeiro
Antes de mais nada, reforço a ideia de que as definições são minhas. Não fiz pesquisa e os pensamentos são fruto de minha experiência em leituras e práticas no dia a dia do mercado financeiro, após vinte anos de operações.
Entendo que o conceito de perfil financeiro engloba todos os perfis voltados às operações do mercado financeiro. Logo, é um conceito geral que não deixa claro ao investidor exatamente o que define. Eu mesmo generalizei e escrevi no passado sobre o termo, quando questionei a utilidade dos questionários que as corretoras de valores nos enviam para cumprir a legislação vigente.
Naquele momento, havia escrito sobre a relação do perfil financeiro com o conhecimento e qual deles seria mais importante para definir nosso sucesso como investidor, mas não adentrei nas segmentações que farei adiante. Se desejar ler sobre perfil financeiro, conhecimento e sobre os questionários dos agentes financeiros, clique aqui.
Perfil de investimento
O perfil de investimento é a condição com a qual estamos mais acostumados a associar quando pensamos em perfil financeiro. Afinal, você já viu em algum lugar os famosos perfis conservador, moderado e arrojado, correto? O que pretendo chamar a atenção nesse conceito é que eles estão muito mais ligados ao investimento em si, e não ao investidor.
Veja que não podemos, como pessoas físicas, ser caracterizados com o rótulo de um perfil de investimento. Somos indivíduos únicos mas podemos ter, em diferentes épocas, cenários de riqueza, objetivos e motivações diversos. Imagine a situação de alguém que, quando jovem, colocou mais renda variável em sua carteira de investimentos e, mais velha, decidiu diminuí-la ou até zerá-la. A pessoa não mudou, continua a mesma. Ela, porém, mudou seu perfil de investimento em função de sua idade.
Ou imagine o caso de uma pessoa que iniciou sua vida financeira sem conhecimentos e aportou inicialmente apenas em renda fixa em títulos do Tesouro Direto. Com o tempo, ela foi estudando o mercado de ações, as debêntures incentivadas, os fundos imobiliários e resolveu incluí-los em sua carteira de investimentos. Ela mudou seu perfil de investimento em relação ao conhecimento que obteve.
Antes de torcer o nariz para a ideia, sugiro um pensamento final: imagine que você é uma pessoa arrojada e que gosta muito de renda variável. Porém, você também possui sabedoria e, para realizar uma viagem em um ano, decidiu reservar o investimento destinado a ela em renda fixa. Ou em um fundo de dólar. Veja que você não mudou. O que muda é o seu investimento!
Assim, tudo que envolve o gerenciamento de riscos, o conhecimento dos ativos que compõem o mercado financeiro e os aportes relacionados a uma meta específica está relacionado ao perfil de investimento, e não ao investidor. O conceito, de qualquer forma, pode estar incluído na definição geral de perfil financeiro.
Para reforçar: perfil de investimento envolve a escolha das classes dos ativos que comporão sua carteira de investimento. No comentário que o Stark fez, ele possui amigos que gostam de “emoções” e investem mais em renda variável, desprezando a renda fixa e ETFs. Veja que definir um percentual em renda variável é estabelecer um percentual em classes de ativos, e não quais ativos comprar, embora ETFs seja uma classe de ativos mais específica, que entrará na análise adiante.
Isso faz parte do perfil dos investimentos que eles possuem, e não deles como indivíduo, ou de seu perfil de investidor. Talvez se avançar para o próximo conceito, as coisas fiquem um pouco mais claras.
Perfil de investidor
Se os conceitos de perfis de investimento já são mais naturais entre os investidores, a definição de perfil de investidor é pouco comentada. Uma pena, pois ela é tão importante para o sucesso financeiro, e talvez ainda mais, se pensarmos na vida globalmente, enveredando por conceitos como a felicidade e tempo livre.
O perfil de investidor está muito mais correlacionado a pessoa, como o nome já diz, do que aos investimentos. Você, por exemplo, pode ter um dos quatro perfis que comento adiante e, ao mesmo tempo, preferir investir mais em renda variável ou em renda fixa. Ou em qualquer outra classe de ativos. Seu perfil individual não está relacionado a essa variável, como comentei anteriormente.
A definição de seu perfil de investidor envolve dois pilares: o tempo e o interesse que deseja oferecer para cuidar de sua própria carteira de investimentos. A utilização do conhecimento que possui para escolher seus ativos pode definir seu perfil. Veja que esse “conhecimento” que coloco aqui pode até ser o mesmo que comentei no item do perfil de investimento. Porém, a disposição para usá-lo, que está relacionada ao seu tempo e interesse dispensados ao mercado, é a variável determinante.
Para esclarecer: imagine que possua conhecimento em renda variável, seus riscos, os percentuais adequados, etc., definindo seu percentual na carteira de investimentos a 30%. Isso é seu perfil de investimento. Agora, como você vai compor esse pilar de renda variável? Fundo de ações de terceiros? ETFs? Ou estudar e comprar individualmente suas ações fazendo o stock picking? Isso é perfil de investidor.
Assim, o perfil de investidor envolve a escolha dos “ativos” e não das classes. É algo muito mais relacionado em como você vai gerenciar sua carteira de investimentos do que como ela será composta. Algo determinante para definir o tempo e o interesse que dispensa ao mercado financeiro.
Quais são as alternativas para definir um perfil de investidor?
Provavelmente, como é um conceito menos difundido, as pessoas tenham mais dificuldade em estabelecer seu perfil de investidor. Como vimos, os rótulos comumente usados como “conservador”, “moderado” e “arrojado” definem os perfis de investimentos, e não os perfis de investidor. Assim, vou tentar exemplificar para tornar a ideia mais clara.
Imagine uma pessoa que tenha um conhecimento razoável do mercado financeiro, entende sobre gerenciamento de riscos e possui um objetivo para seus investimentos com um horizonte bem definido. Com base nessas premissas, ela possui um perfil de investimento com uma alocação de ativos da seguinte forma:
- Renda fixa: 50%
- Renda variável (ações): 20%
- Renda variável (FIIs): 20%
- Câmbio (ouro/dólar): 10%
Provavelmente ela seria rotulada como uma pessoa com perfil moderado/arrojado pelo mercado financeiro. Reforçando os conceitos, isso seria seu perfil de investimento. Mas quais seriam seus perfis de investidor possíveis?
Como comentei, o perfil de investidor está relacionado ao interesse que essa pessoa possui no mercado financeiro e ao tempo doado para o controle de seu portfólio. Vejamos as possibilidades:
- Ser uma analista própria: estudar muito, analisar empresas, mercados e definir, com especificidades, onde investir e como alocar seu dinheiro, como, por exemplo, fazer stock picking e decidir em quais empresas comprar. Nesse caso, é patente que ela iria usar muito tempo em sua vida para controlar todos seus ativos e finanças pessoais. Essa alternativa geralmente é escolhida por quem não tem um emprego ou trabalho próprio, justamente em função do tempo dispendido.
- Ler análises de terceiros e ela mesmo gerir sua alocação: uma opção intermediária, onde ela assina uma consultoria financeira de investimentos através de casas de análises (Empiricus, Suno, Eleven Financial ou Nord Research), usando as recomendações para gerir seu patrimônio. Ela teria de ter ainda um conhecimento bem razoável de alocação de ativos, diversificação e riscos envolvidos. Ou seja, ainda teria que usar um tempo para entender sobre gestão de carteiras de investimentos, embora terceirizasse a análise de empresas individuais.
- Gerir seu fundo somente através de ETFs: uma opção ainda intermediária, embora com menos trabalho do que a acima, onde seria necessária a leitura de relatórios. Nesse caso, ela conhece os ETFs disponíveis para montar a carteira na alocação que ela definiu e fará apenas o rebalanceamento dos ativos quando seus percentuais se desviarem dos percentuais primariamente definidos. Para os FIIs, poder-se-ia pensar nos FoFs. Nesse caso, a pessoa não se preocuparia nem com a quantidade ideal de ações a ter na carteira de investimentos, pois ela já possuiria uma boa diversificação.
- Aportar somente em fundos de investimentos: terceirizar totalmente a gestão de seu patrimônio para fundos de investimentos, reservando um tempo apenas para estudar e escolher bons fundos e gestores. Embora seja recomendável uma alocação minimamente adequada de ativos, o rebalanceamento é menos necessário, uma vez que, ao menos nos fundos multimercados e FoFs, ele ocorre internamente. Nesse caso, ela teria um tempo livre muito maior para dedicar-se à sua profissão.
Claro que são apenas algumas das alternativas. Existem vários tons de cinza entre uma e outra. Quando minha filha criou sua carteira de investimentos e definiu seu perfil de investidor, ela escolheu um caminho intermediário entre o 2 e 3. Um pensamento semelhante a: “Invisto eu mesmo, mas não quero perder muito tempo com isso não”.
Em seu menu de opções decidiu inicialmente pelos fundos imobiliários e títulos de renda fixa de longo prazo, mas posteriormente, escolheu os ETFs para as ações e, em seguida, fundos de câmbio para segurança. O perfil de investidor pode envolver vários tons de diferentes estratégias.
Perceba que não há escolhas melhores e piores entre esses perfis. Tudo depende do tempo disponível e de seu interesse e conhecimento do mercado financeiro. É possível ser vencedor com qualquer uma delas.
Perfil de investidor e perfil de investimento devem ser conexos
Finalizando, reforço que ambos perfis financeiros devem possuir conexões lógicas entre si e envolverem uma decisão sequencialmente lógica. Primeiro, devemos definir nosso perfil de investimento, com base em nossos objetivos, no conhecimento dos ativos e gerenciamento de riscos. Daqui sai o percentual de cada classe de ativos.
Feito isso, definimos o quanto queremos e podemos nos dedicar ao mercado financeiro. Gosta do seu trabalho? Tem uma participação ativa em sua família? Possui muitas atividades sociais? Talvez seu perfil de investidor seja criar uma alocação simples entre fundos de investimentos de terceiros e balanceá-los espaçadamente, ao invés de ter uma carteira com ativos individuais. Tenho realizado a comparação de rentabilidade mensalmente entre minha carteira ativa e passiva, caso tenha interesse em compará-las.
Lembro, novamente, que esse texto não é uma tentativa de redefinir termos do mercado financeiro, mas apresentar a ideia de que ambos são coisas bem diferentes, e ainda assim, importantíssimos para seu sucesso financeiro. Não adianta você, por exemplo, querer fazer day-trade na hora do almoço de seu emprego: pode ser a pior escolha possível.
A aplicação do conhecimento que possui precisa estar concatenada com o tempo que pode dispensar ao mercado. Ou ainda, fazer com que o perfil de investimento e perfil de investidor conversem adequadamente entre si.
E você, o que pensa dessas definições? São úteis de alguma forma ou preferem os rótulos atualmente utilizados no mercado financeiro?
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Ótima publicação!
Muito obrigado, Engenheiro!
Abraço!