Você avalia corretamente a sua riqueza pessoal?


O que vem rapidamente à sua cabeça quando pensamos em riqueza pessoal? Imóveis de luxo? Carros caros? Gastos extravagantes?
Onde mais podemos enxergar “riqueza”, seja em nossa vida ou na dos outros?


Riqueza pessoal. O que é? Como podemos percebê-la?

O que se vê e o que não se vê

Já citei em outros textos as ideias do economista francês Frédéric Bastiat. Um de seus ensinamentos mais conhecidos é que devemos atentar para “o que se vê e o que não se vê“. Muitas decisões são tomadas, erroneamente, apenas pelo o que é visto. É a forma mais superficial para analisar uma situação. Pensar sobre o que não vemos, é algo mais complicado.

Na introdução do livro “O Poder do Pensamento Matemático“, o autor nos convida a analisar a situação vivida pelos técnicos de aviação britânicos na Segunda Guerra Mundial sobre a decisão de reforçar os aviões que voltavam do combate aéreo contra os nazistas. Segundo o que se via, a área mais atingida pelo inimigo era a fuselagem e não os motores.

Com base nessas informações, os oficiais acreditavam que seria prioritário blindá-la nos próximos aviões que iam para o combate. Um desses técnicos, Abraham Wald, pensou exatamente o oposto: deveria-se reforçar os motores, uma vez que blindar todo o avião era inviável por conta do peso.

Wald baseou-se na premissa de Bastiat: o que NÃO se via, era que os aviões que não voltavam da guerra receberam mais balas na área de seus motores e proporcionalmente caíam mais. Logo, os tiros na fuselagem deveriam ser mais tolerados, uma vez que mais aviões nessa condição conseguiam voltar para suas bases.

Mas como aplicar a ideia de Bastiat para a avaliação da riqueza pessoal?

A riqueza pessoal exposta

Ninguém teria dificuldade em identificar a riqueza material ao nosso redor. Os seres humanos são, evolutivamente, seres visuais. É natural, entretanto, que captemos primariamente as informações vindas do que nossos olhos captam.

Quando se trata de riqueza, então, tendemos a exacerbar as posses visuais alheias. Afinal, a grama do vizinho é sempre mais verde, não? A espiral consumista e a corrida de ratos começa nessa percepção, com a tímida expressão da vergonha por não termos o que os outros possuem.

O fluxo de decisões irracionais nos faz gastar dinheiro constantemente para suprir necessidades que “deveriam” trazer mais felicidade em nossa vida, mas termina por ocasionar somente mais insatisfação e ansiedade para querer ainda mais. Um círculo vicioso.

A riqueza pessoal oculta

A sugestão desse texto é capturar a ideia de Bastiat e procurarmos avaliar a riqueza que NÃO vemos. Para isso, precisamos fechar os olhos e anular a informação visual que captamos do mundo. O pequeno príncipe já dizia que “o essencial é invisível aos olhos”. Cervantes complementaria que “riqueza não se mede pelos bens e pelo dinheiro”. O que seria essa riqueza oculta então?

Vamos pensar sobre três aspectos…

1) Riqueza das coisas que não compramos

Você já parou para pensar que existe riqueza em tudo que não compramos? É verdade que nem em tudo vale a pena economizar dinheiro, mas quando isso ocorre, o que representa a riqueza que você não gastou?

Essa é a riqueza que, se bem investida, vai trabalhar sob as regras dos juros compostos e ser essencial para sua independência financeira. É uma riqueza que poucos percebem, mas que está ali, ao seu lado, gerando frutos para proporcionar liberdade e protagonismo a você no futuro.

Será que essa riqueza, que não é “vista” pelos outros, não seria a riqueza real? A riqueza do imóvel não comprado. A riqueza do carro 0km que você sabiamente deixou de dispender. As joias e os sapatos que as mulheres veneram. Ou os Iphones ou tênis de R$ 500,00 que muitos jovens amam.

Normalmente não pensamos em riqueza dessa forma, pois é difícil contextualizar o que não se vê. Uma vez que pensamos somente no que o dinheiro pode nos fornecer no presente, não percebermos na riqueza a longo prazo, que, para tornar-se realidade, deve ficar lá, quietinha, escondida dos olhos de todos. Nesse sentido, é importante pensar no que você não está comprando.

É claro que não estou fazendo apologia à mesquinharia com essa ideia. Já deixei claro em outros textos onde não vale a pena economizar dinheiro e que viver de forma minimalista não significa apenas economizar como um fim, mas sim possuir o que realmente importa.

A proposta é mostrar que existe também uma riqueza oculta, que está justamente no que NÃO vemos, nas coisas que NÃO compramos. E que ela será essencial para sua futura liberdade financeira, que provém, em última análise, do que recebemos e do que decidimos não comprar.

2) Riqueza do que você controla

Outra maneira mais difícil de incorporar o conceito de riqueza em seu modelo mental é pensá-la avaliando o que você realmente controla. É uma questão de autonomia e responsabilidade pessoal em sua vida.

Se você segue o mantra daquele hit do Skank “vou deixar a vida me levar…”, desculpe, mas você não está tirando vantagem da escolha que possui de assumir o protagonismo em sua vida. Algumas pessoas podem ver vantagem nisso, assumir uma vida com menores preocupações, mas acredito que é abrir mão de uma condição essencialmente humana.

Como você usa seu tempo? Você pode escolher uma semi-aposentadoria para ficar mais com sua família? Você escolheu o lugar em que mora? A companhia das pessoas que você passa a maior parte de seu tempo, foi uma escolha sua? E o seu trabalho? Você o escolheu o ele escolheu você?

Será que não poderíamos considerar como “riqueza pessoal” o poder que temos de tomar essas decisões, sem pressões ou necessidades externas e ficar reclamando daquilo que está fora de seu controle? Segundo Ray Dalio, em seu “Princípios”, psicólogos chamam isso de ter um “locus de controle interno”, e estudos mostram que pessoas com essa habilidade vivem melhor. Para fechar a ideia:

  • Sentimentos. Você está no controle deles? Ou sendo manipulado e cedendo aos caprichos de suas emoções ou desmandos de outras pessoas? Não possuir a oportunidade de ser você mesmo acaba lhe afastando cada vez mais do que deseja da vida.

  • Objetivos. Eles são, no fundo, somente seus? Você os controla? Ter riqueza pessoal também é estar a frente na escolha da direção que der à sua vida. Pode ser que não percebamos isso de imediato, mas, em alguma etapa da vida, iremos acordar e perceber que a vida com que sempre sonhamos só é possível quando temos a riqueza pessoal de ser o personagem principal de nossa própria jornada.

3) Riqueza em ter saúde

Saúde é um tema que, eventualmente, vejo na blogosfera. Mas eu mesmo falei pouco dela. Somente por falta de oportunidade mesmo, não por neglicenciar sua importância.

Se já estamos na casa dos 50, é muito provável que tenhamos amigos que não estão tão bem de saúde. Hoje a diabetes, a pressão alta, problemas de visão e de mobilidade são comuns em nosso meio.

É verdade que muitos desses problemas são causados por omissão das próprias pessoas em manter hábitos nocivos, como o fumo, a bebida ou a falta de exercícios. A hipocondria também é um dos males contemporâneos, embora negada pelos próprios hipocondríacos e estimulada pelos médicos.

Riqueza pessoal na saúde não provém somente de bons hábitos. A herança genética também ajuda muito. Mas confiar plenamente nela não é uma boa decisão para nos manter saudáveis na maior parte da vida.

No fundo, precisamos um pouco do “controle” visto no tópico anterior no sentido de decidir corretamente o que podemos fazer para manter essa riqueza. E lembrar-se sempre de que, para podermos ser úteis nessa passagem, precisamos de saúde para poder distribuir nossos valores ao mundo.

Riqueza na saúde até pode ser vista, mas é pouco notada. Do que vale aquele personagem com seus hábitos milionários se internamente, ele está se consumindo aos poucos, e nenhum dinheiro do mundo o levará a ter a qualidade de vida que poderia ter no futuro? Vemos sua casa, seu carro, suas extravagâncias. Mas deixamos de ver, novamente, o essencial.

Enfim…

“Riqueza pessoal” é, como assim dizer… uma visão “pessoal”. Desde os primórdios da civilização, a maioria das pessoas a vê como algo tangível, o que se traduz, simplificadamente, em “coisas”. Mas existe algo muito além dessa percepção, que, no decorrer da vida, muitos passam a dar mais valor. Outros, claro, morrem sem descobrir que o essencial não está sujeito à visão.

A verdadeira riqueza é apreciar todos os aspectos que a vida pode nos oferecer, não somente os bens materiais. Tempo. Liberdade. Pessoas. É uma condição interior de si mesmo, onde o protagonismo encontra um propósito que culmina com uma filosofia de vida construída por você.

Em outras palavras, a riqueza pessoal é cada momento que você teve e terá consigo mesmo, sem intermediários.

E vocês leitores, o que acreditam que seja, enfim, a riqueza pessoal?

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Scant
Scant
4 anos atrás

Boa reflexão

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