Por que abandonar a renda fixa e ir para a renda variável?


O Copom cortou recentemente a taxa de juros para 3,0%, trazendo para nossa realidade os juros reais negativos!

Esse fato é uma motivação suficiente para abandonar a renda fixa e ir para a renda variável? Como enfrentar esse novo capítulo se você nunca investiu em ações ou fundos imobiliários?


Estamos vivendo tempos incertos com a crise do novo coronavírus. Não é só uma questão de saber quando sairemos do isolamento ou quando teremos uma vacina. Se pensarmos no longo prazo, será fundamental avaliar o que mudará nos hábitos dos consumidores.

Como será o padrão do trabalho de home office? As pessoas voltarão a frequentar como antes os restaurantes, academias ou shopping centers? O ensino à distância, veio para ficar? E a telemedicina, gerará ganhos de escala de forma a baratear os serviços de saúde e impactar na geração de caixa das empresas?

Com juros baixos, como ir da renda fixa para a renda variável

Nas incertezas, é uma atitude sensata mantermos uma parte de nossos investimentos na renda fixa, no intuito de formarmos uma reserva de oportunidade e diminuirmos o risco. Mas, lá na frente, o que será mais determinante para nossas rentabilidades? A incerteza da renda variável ou a nova realidade de juros baixíssimos na renda fixa?

Não há alternativa se quisermos rentabilizar nosso portfólio a longo prazo: precisamos, em alguma medida, sair da renda fixa como alternativa de investimentos, independentemente de seu perfil financeiro. Não há sinais de que nossos juros voltarão a patamares que proporcionem um ganho real considerável, como há alguns anos.

Precisamos entender que o risco sempre estará presente, mas, quando o olhar se estende a longo prazo, a melhor alternativa é evidente.

Renda variável e criação de filhos: a edificação de uma obra

A gestora de ativos Alaska, uma das mais conhecidas do mercado em parte pelo ativismo social de um de seus sócios, Henrique Bredda, sofreu muito nesse semestre com a queda da renda variável e, em um fundo de investimento em particular, com suas operações em moedas.

A gestora costuma disponibilizar ao público cartas semestrais com conteúdos bem interessantes ao investidor em geral, independentemente de serem cotistas ou não de seus fundos de investimentos.

Abaixo, compartilho o primeiro tópico da carta do 1º semestre de 2019, onde os gestores mostram as semelhanças atemporais entre começar a investir em ações e ser pai de primeira viagem. É uma forma de pensar o investimento em renda variável como a construção de objetivo, cujos louros obteremos somente no futuro.

Emoções, sejam positivas ou negativas são partilhadas pelos investidores e pais, e costumam gerar sentimentos consequentes que serão fundamentais para o sucesso do “empreendimento”. O texto chamou-me minha atenção, talvez pelo fato de que serei pai novamente, após uma janela de 26 anos…

É um texto bem interessante para pessoas que sempre investiram na renda fixa e estão agora, tanto no meio da crise com a queda da renda variável e novos pisos mundiais de juros reais, avaliando que a migração de parte de seus recursos para a renda variável é uma melhor alternativa do que mantê-los vinculados a remunerações mais baixas.

Se você é um investidor de renda fixa e pensa em ir para a renda variável, gaste 5 minutos lendo esse texto. Pode ajudar muito seu progresso e antecipar sua independência financeira. Se desejar se aprofundar, leia “O que é melhor para seus investimentos: renda fixa ou renda variável?“.

O começo na renda variável

Começar a investir em ações desperta as emoções mais viscerais e primitivas de uma pessoa. É semelhante ao que as mães e pais de primeira viagem sentem. É uma montanha russa emocional. Se um dia você acha que vai morrer louco pela privação de sono, noutro você fica em estado de graça com seu filho ninando em seus braços, momentos tranquilos nos primeiros meses do bebê em casa são raros.

Choros, fraldas, amamentação, limpeza do cordão umbilical, febres e medo quanto à continuidade da respiração enquanto dorme são neuroses análogas ao que o investidor iniciante tem quando imagina o tamanho do estrago que notícias apocalípticas podem causar em suas ações. Medos quanto ao que o Trump ou o Bolsonaro tweetam e seus possíveis impactos sangrentos no portfólio, medo quanto ao tamanho do impacto na ação que a frustração do próximo resultado trimestral terá.


Enfim, o investidor passa a sofrer os mesmos efeitos colaterais dos pais de primeira viagem: mudanças repentinas de humor, cansaço, alteração do apetite, privação de sono, crises agudas de ansiedade. No entanto, desde que os pais e mães insistam no plano inicial de criar e educar seus filhos (normalmente sim, graças a Deus!), certas coisas típicas começam a acontecer.


Os filhos passam pelo terceiro mês e as cólicas começam a cessar, é um dos primeiros grandes marcos e melhorias na qualidade de vida dos pais. Seria como os investidores iniciantes começando a entender que existem notícias que são ruídos e outras que são sinais.


A imensa maioria são ruídos que servem apenas para sacudir os preços e gerar cliques/assinaturas para quem as produziu, não indicam mudanças nos fundamentos das empresas que estão investidos. Mas, como pais de primeira viagem ou investidores iniciantes, há muito aprendizado pela frente.

Uma forma de cortar caminho, tanto para investidores neófitos quanto para pais de primeira viagem, é se apoiar na sabedoria de quem já seguiu esses mesmos passos, pois aprender cometendo erros pode ser muito doloroso e só alimenta a insegurança inerente a ambos assuntos.


Para encurtar esse sofrimento, não só aceite, mas procure ajuda dos mais experientes que sejam verdadeiramente bem intencionados. Converse com os mais velhos, leia sobre os assuntos, há uma literatura extensa disponível que permitirá o aprendizado com erros dos outros.

O tempo inevitavelmente passará e os medos aos poucos se dissiparão. Os pais começam a entender o choro de seus filhos, facilmente separando o que é fome, sono, somente uma “manha” inofensiva, do que é realmente grave. O investidor passa a entender que uma subida repentina com base em notícia especulativa pode ser apenas um fogo de palha ou que a tela toda avermelhada do monitor não passa de uma correção típica e corriqueira, não um sinal inequívoco do Armagedon.


Cada vez ficará mais claro que ambas as tarefas terão duração para a vida toda. As horas de estudo investidos na educação dos filhos (ou na gestão dos investimentos) não trarão efeitos imediatos. Pelo contrário, ensinar valores sólidos, desenvolver virtudes e investir em conhecimento acadêmico não tornará o seu filho e filha um gênio ou um sábio educado amanhã.


Na verdade, nada do que você fizer de extraordinário e profundamente bom para o seu filho hoje provocará um salto repentino de comportamento amanhã. A disciplina, dedicação e amor contínuos dos pais trarão impactos no longo prazo, não na semana seguinte. Nada de relevante acontece do dia para a noite”.

Na sequência, os gestores do Alaska mostram como a história da bolsa brasileira é recente, e, em certo sentido, pode ser comparada ao investidor neófito. Uma dessas maiores expressões é o viés de recência, ou seja,  “a atribuição de pesos desproporcionalmente grandes para eventos recentes no processo de tomada de decisões”.

Uma das formas de se defender desse e de outros vieses, é ter um horizonte de investimento mais dilatado, não atribuindo pesos excessivos a eventos recentes que não alteram a perspectiva de longo prazo dos ativos. Ao final da carta, vem a conclusão.

“Consistência, paciência e Value Investing

Qualquer empreitada que almeja resultados realmente grandiosos envolve uma liturgia inevitável; não é possível se tornar campeão olímpico em 20 dias, muito menos gestar um filho em um mês ou educá-lo completamente em apenas cinco anos. É necessário um processo de evolução consistente, coerente e muito tempo de maturação.

No início da jornada, mesmo ancorados em leituras, estudos e orientações sobre as possíveis dificuldades ao longo do processo, vemos que a teoria não é substituta para a prática. Somos atingidos pelo sentimento de descontrole sobre as variáveis, submetendo-nos a picos de ansiedade que nos compelem a ações (na grande maioria das vezes) irracionais.


O aprendizado pode até ser lento, mas é inevitável, e consultar aqueles mais velhos que já passaram pelas mesmas situações várias e várias vezes pode dar uma vantagem em como prosseguir no caminho. Quanto menos peso dermos para “atalhos”, quanto menos tempo perdermos buscando “balas de prata”, mais tempo nos dedicaremos ao que realmente importa”.

Lembre-se que, nessa mudança da renda fixa para a renda variável, a educação é fundamental para seu sucesso financeiro ao longo da jornada. O vínculo ao analfabetismo financeiro é uma barreira poderosa para que atinjamos nossa independência financeira, meta de muitos leitores desse blog.

Crie meios que lhe ajudem a aproveitar o tempo para ler bons livros. Mas, como a carta mostra, não se fie totalmente à teoria. Comece a investir o quanto antes, mesmo que seja montando uma carteira muito simples de investimentos, e aprenda sempre durante todo o processo.

Para ver a carta completa do Alaska, clique aqui. Se você deseja acompanhar as cartas aos cotistas de outros gestores e acessá-las em um drive virtual, atualizado mensalmente, veja esse texto.

Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
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… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.

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