Como as taxas de juros são ingredientes essenciais para a conquista de sua independência financeira e aposentadoria antecipada?
Veja porque você não pode dispensá-las e porque estamos em uma conjuntura onde até elam podem ser ameaças ao futuro.
As transformações contidas na passagem do tempo são inevitáveis. Imagine quaisquer aspectos ao seu redor. Pessoas, objetos, natureza, paciência, saúde, riqueza… Tudo é afetado marcadamente pelo tempo, que passa sem pedir licença. Essa influência, intensa e altiva, é talvez mais marcante do que todos os poderes da Terra reunidos.
Até mesmo Tomás de Aquino, para exemplificar a eternidade do mundo criada por Deus, teve de realizar uma separação do conceito de tempo para trazer sentido às suas teses. Ele dizia que o tempo e a eternidade diferem-se como tipos de duração do ser em si: “só é medido pelo tempo o que tem princípio e fim temporais”. Ou seja, precisamos ultrapassar as noções de tempo, espaço e movimento para sermos capaz de explicar a eternidade.
As mutações através do tempo, indomáveis, seguras e onipresentes, nos alertam diariamente que, por mais poder que tenhamos, nunca poderemos interromper ou quebrar essa corrente. Para quem está em busca de sua FIRE, ou seja, sua independência financeira e aposentadoria antecipada, isso é, na verdade, um alento.
Qual seria a instituição econômica que personificaria da melhor forma essa inexorável marcha? Ludwig von Mises, em sua fantástica obra “A ação humana“, de 1949, nos diz que são as taxas de juros. Sendo assim, elas sempre estarão disponíveis para abusarmos de suas propriedades em proveito próprio. Quem conhece a força dos juros compostos, não hesita em usá-los para equilibrar seus projetos no futuro e aproveitar melhor o tempo presente, que não podemos trazer de volta.
Taxas de juros: implacáveis e oportunas
Todos preferem possuir um bem agora do que no futuro, caso o valor seja o mesmo e demais condições constantes. Não haveria sentido deixar de usufruir algo se receberemos por ele a mesma fruição adiante. Usamos as taxas de juros para refletir o grau de valorização que atribuímos aos bens presentes sobre os bens futuros.
Normalmente, ela é melhor exemplificada pela ponta do consumo. Desde o famoso teste do Marsmallow, onde crianças decidiriam se deveriam esperar para comer seu doce no momento, ou receber um adicional posteriormente (e, assim, ficar com dois), a sociedade escolhe quais bens e serviços deseja ou se recusa a comprar. Precisa de um celular novo e não pode adiar? Sem problemas, mas você perde a chance de comprá-lo no futuro e ter mais dinheiro em caixa. Prefere economizar em sua viagem mediana esse ano e ter mais dinheiro para fazer a viagem de seus sonhos mais tarde? É outra escolha. Ambas são legítimas e estão regidas, mesmo que de forma oculta, sob o poder das taxas de juros.
Na ponta dos investimentos, estamos também usando-a constantemente. As taxas de juros sinalizam a todos nós, investidores, como gerenciar nossos ativos ao longo do tempo e esperar uma recompensa adicional, na forma de juros compostos, seja em aplicações puras que pagam juros como renda fixa, mas também como dividendos de ações, aluguéis de fundos imobiliários, lucros de operações, etc.. Todos são exemplos de escolhas onde adiamos o consumo para planejarmos melhor os dias que virão.
A escolha do grau de cessão que você fará no presente em prol do futuro, pode determinar o quão rápido você está se aproximando de sua independência financeira. Por outro lado, pode definir também o tamanho do estrago que o planejamento futuro é capaz de fazer em seu presente. São decisões que cada pessoa deve fazer com base em suas prioridades e impulsos. Se essas escolhas possuem um alto grau de relativização, as taxas de juros são uma condição estabelecida, e você deve ter a responsabilidade pessoal de saber os custos de cada decisão que tomar. Esse entendimento é essencial para ser protagonista em sua própria vida.
As ameaças das taxas de juros irreais
No mundo perfeito, as taxas de juros são estabelecidas pelo mercado financeiro, que inclui todas as trocas entre pessoas e empresas sendo feitas concomitantemente, de forma livre e sem interferência estatal. Porém, não estamos em um mundo perfeito. E parece que nos últimos anos, ele tem estado muito menos perfeito do que a margem de segurança permite. A crise do coronavírus veio colocar uma lápide definitiva no sonho dessa perfeição.
O desespero dos bancos centrais mundiais ao baixar os juros atingiu algo irracional. Já estávamos nos limites do mundo desconhecido, com taxas de juros maciçamente negativas. O COVID-19 nos atirou além desses limites. Para quem gosta da Escola Austríaca de Economia, o perigo que vivemos atualmente é real. No livro “A Bela Anarquia“, de Jeffrey Tucker, há um capítulo onde ele discorre sobre o assunto, mesmo sem saber da aposta dobrada que estaria na mesa com a pandemia atual. Reproduzo o texto sobre o assunto abaixo:
A taxa de juros deveria sinalizar aos investidores como lidar com os compromissos ao longo do tempo. Uma taxa de juros baixa deveria sinalizar bastante dinheiro poupado numa sociedade que adiou o consumo e planejou o futuro. Uma taxa de juros alta sugere uma relativa escassez de recursos e uma corrida para usar o que está disponível. Assim, a taxa de juros sincroniza cuidadosamente o presente e o futuro.
A passagem do tempo também se manifesta na instituição do capital — bens produzidos não para o consumo imediato, e sim para a geração de outros bens. Se não houvesse uma estrutura temporal de produção, o capital não teria um valor único e tampouco contribuiria realmente para a prosperidade geral. Mas ele tem valor porque sua própria existência mostra como os proprietários podem fazer planos para o futuro.
Em sociedades nas quais não há planejamento para o futuro, seja porque a cultura é voltada para o presente ou porque a lei é instável demais para permitir o planejamento, o capital não se forma. A estrutura temporal de produção não existe. E não há poupança para sustentar a disponibilidade de crédito.Em economias desenvolvidas, a estrutura do capital reflete uma enorme variedade de comprometimentos temporais. Todo processo de produção termina em consumo, mas estas terminações estão por todos os lados. Posso preparar sopa para comer agora. Ou posso economizar para comprar umas videiras e construir uma vinícola para fabricar vinho que só poderá ser bebido e vendido daqui a dez ou quinze anos.
Os economistas da Escola Austríaca nos dizem que outras teorias econômicas são praticamente nulas quando se trata de pensar na passagem do tempo e em seu papel na instituição do capital. Este é um dos muitos motivos por que eles ignoram um ponto extremamente importante quanto às políticas do Federal Reserve (Fed). Ou seja, que manipulando as taxas de juros, o Fed brinca com o sistema de sinalização que diz aos investidores e capitalistas até quando eles podem planejar — quanto do “real” está disponível para que os planos deles deem certo.
Desta forma, uma taxa manipulada como a que temos hoje não é nada mais do que uma mentira. Ela manda os capitalistas contrair empréstimos e planejar, sendo que não há recursos disponíveis para justificar isso. Ela nos diz que há enormes reservas disponíveis a fim de dar suporte ao consumo futuro, quando não há. Como resultado, o sistema cuidadosamente calibrado de sinalização dos mercados de capitais não está realmente funcionando como deveria.
Estranhamente, então, o Fed está em negação quanto a algo que todos aceitamos na era digital. Até mesmo o Facebook reconhece que suas contas morrerão um dia. O Fed parece pensar que seu poder o permite viver como se o tempo não tivesse importância. Ben Bernanke* pode ser um homem poderoso, mas ele não pode conquistar o que ninguém conseguiu: abolir o tempo como um fator inegável da vida econômica. Nada mais arrogante do que agir como se a marcha incansável o tempo fosse pura ilusão.
* Ex-chairman do FED
O que você pensaria dessa disfunção atual? Será algo que passaremos ilesos ou haverá uma grande tempestade à frente? Estaremos vivos para ver os resultados?
Pensando nos conceitos de alocação de ativos, que tanto comento aqui no blog e adicionando alguns vieses, estou deixando o percentual em ouro subir em meu portfólio e comecei a colocar um pezinho em criptomoedas, mesmo após meus comentários anteriores em que não acreditava muito nelas. Afinal, gerenciamento de riscos é isso: melhor garantir e preservar parte de seu principal, mesmo que a remuneração não seja tão atrativa.
Se tiver interesse em uma composição com criptomoedas, saiba que é possível montar uma carteira de investimentos completa apenas com ETFs e fundos de índice. Estou com uma em gestação e logo iniciarei a apuração de sua rentabilidade, comparando-a com minhas carteiras ativas e passivas.
E você? O que está esperando para adicionar o pilar de câmbio em seu portfólio e fazer um seguro de tudo o que alcançou até agora? Não seria melhor aceitar uma valorização possivelmente um pouco menor, mas ter por onde se reerguer em caso de uma grande crise mundial?
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Excelente texto, André!
Realmente, estamos vivendo tempos muito estranhos. Ninguém imaginava uma SELIC na faixa dos 3%, caminhando para os 2 e alguma coisa.
Só o tempo dirá quais serão as consequências para a economia disso tudo.
E você tem razão: temos que nos precaver!
Abraços!
Olá Guilherme!
Primeiro, desculpe-me pelo atraso. Alguns comentários foram diretamente para a lixeira aqui do painel do WordPress, acredito por uma configuração restrita do spam. Vou acertar…
Agora já estamos mais perto dos 2% rsrs. Tempos bem estranhos… Feijão com arroz e c
canja de galinha não faz mal a ninguém rsrs
Obrigado pelas palavras! Bom final de semana!
Acho sim que é uma questão de tempo pra essa irracionalidade cobrar seu preço. Ouro e dolarização no caso do brasileiro são para mim saídas mais rápidas e viáveis. Se no primeiro mundo a coisa arrebentar aqui já estaremos destruidos há muito mais tempo.
É isso, Marcos! Segurança é sempre necessária para nossa carteira de investimentos!
Abraço e bom final de semana!
Seus posts e reflexões estão cada vez mais legais, André. Apesar de nem sempre comentar, leio todos.
Ter investimento em moeda forte é fundamental. Estou chegando perto dos 20% da minha carteira. Ainda não criei coragem para criptomoedas nem ouro.
Aliás, fica a pergunta: suas alocações em ouro serão em fundo com ou sem exposição cambial? Na XP, por exemplo, tem as duas opções. Na Orama é com exposição. Nos últimos 12 meses, a diferença foi brutal no rendimento.
Também fica a pergunta se investe por fundo ou compra OZ1D na B3.
Abraço
Olá Aposente Cedo!
Mais um post seu que fico no spam rsrs. Desculpe o atraso. Vou olhar isso com mais cuidado.
Obrigado, que bom que está gostando!
Na minha carteira tenho ambos, inclusive OZ1D. Na carteira de ETFs, o ideal seria ter os dois, mas acho que complica demais o que quero simplificar. Entre um e outro, fiquei com exposição, pois em caso de default, acredito que o real vai cair mais do que o dólar em relação ao ouro rsrs. É o fundo da Vítreo.
Abraços e bom final de semana!
Fala André! Vou adicionar esses livros citados para minhas leituras. Acabei de ler o livro do Musk e vou tentar já engatar outro rs Sobre as taxas de juros, eu chuto que vem tempestade a frente. Mas devido a complexidade que é o sistema financeiro atual, meu chute é bem xoxo. Um adendo as taxas é o que estamos vivendo agora em terras tupiniquins. Em solo de primeiro mundo, juros negativos é ruim mas nem tanto, vamos dizer assim. Agora em países de terceiro escalão, o quão danoso é ter juros negativos não? Assim, é sabido que ainda não entramos… Leia mais »
Pois é Inglês… essa semana estou até sentindo um certo receio pelo Campos Neto… Acho que ele está repensando a situação…
Eu coloquei um pezinho, bem pequeno, na construção daquela carteira de fundos de índice. Mas investi através de um fundo. Não quero me estressar com isso não rsrs.
Abraço e bom final de semana!