O grande sonho dos investidores em comprar ações no fundo do mercado e vendê-las no topo é possível?
Veja como ter cuidado com o excesso de confiança e tomar as decisões mais corretas.
Você acredita que é fácil ganhar dinheiro na bolsa de valores operando o timing do mercado? Se acredita que pode fazer isso, já praticou seus conhecimentos e feelings nos pregões? Por quanto tempo? Quais foram seus resultados?
Embora essa temática de encontrar os topos e fundos da bolsa de valores renda muitas notícias caça-cliques na imprensa, além de centenas de cursos e livros (sobretudo de análise técnica), a realidade não corrobora a expectativa de que essa prática possa ser repetida constantemente com sucesso no mercado de renda variável.
Mesmo os mais respeitados especialistas, erram regularmente. Alan Gresspan, em 1996, alertou para a exuberância irracional dos mercados. Segundo ele, o mercado estava em um topo e o fundo estava para ser testado rapidamente. Os índices americanos, contudo, continuaram subindo por mais de três anos após suas previsões.
Já faz alguns anos que muitos gurus profetizam um novo crash americano. Imaginem o quanto seus seguidores deixaram de ganhar dinheiro desde então? O S&P continua a bater máximas históricas. Seria esse o topo para vender as ações? Devemos esperar a formação de um fundo para comprá-las?
Yes, também temos gurus tupiniquins que previram muitos crashes da bolsa brasileira que não ocorreram. Ele veio a ocorrer (e a se recuperar rapidamente) em virtude uma pandemia que nenhum analista do mercado previu. A imprensa dá atenção a quaisquer declarações, mas reverbera posteriormente apenas as que se tornaram realidade. Dentre milhares de previsões, mesmo quando feita por macacos, uma ou outra vai vingar, não?
O excesso de confiança
As pessoas superestimam seus conhecimentos e suas capacidades de prognosticar. Segundo Rolf Dobelli, autor do livro “Como pensar claramente“, o efeito do excesso de confiança prescinde da diferença entre aquilo que as pessoas realmente sabem e aquilo que pensam que sabem. Em seus estudos, complementa:
“O que de fato surpreende é que os especialistas sofrem bem mais do excesso de confiança que os não especialistas. Em uma estimativa de cinco anos sobre o preço do petróleo, um professor de economia erra tanto quanto alguém que não é da área. No entanto, ele o faz com uma enorme confiança.”
As irracionalidades do mercado financeiro, entretanto, são poderosas e podem durar mais tempo do que o previsto, fazendo com que tais previsões levem ruínas e oportunidades perdidas para quem as segue, procurando vender suas ações no topo e comprando no fundo da bolsa de valores.
Acertar o timing é tarefa quase impossível, uma vez que os ganhos e as perdas ocorrem em período relativamente curto. O histórico dos profissionais em negociar o sucesso dessas operações pode trazer reviravoltas imprevisíveis. Rolf sugere em outro capítulo visitar o máximo que puder as sepulturas do cemitério das previsões fracassadas. É um passeio triste, mas saudável.
Se não tenho bola de cristal, como acertar os fundos e topos da bolsa de valores?
Se acertar os topos e fundos da bolsa é um delírio, o que podemos fazer para buscar o sucesso na renda variável? Veja abaixo os princípios práticos que acredito que são indispensáveis para esse objetivo.
1 – Crie uma reserva de segurança
Por que a reserva de segurança é tão importante?
Ela fornece uma garantia para situações as quais você seja forçado gastar mais do que o previsto em situações emergenciais. Estando corretamente calculada e alocada, impedirá vendas de suas ações em um eventual mercado de baixa, quando seus preços estarão no fundo.
Para algumas pessoas isso pode parecer trivial e irrelevante, mas acredite, muitas operações desastrosas são interrompidas precocemente por necessidades de dinheiro imediato.
Para construir sua reserva de emergência, ou colchão de segurança, use um bom controle de orçamento com uma planilha simples e eficiente. Calcule um montante equivalente de 3 a 12 meses de despesas, dependendo de sua condição financeira e estabilidade salarial e mantenha-o em um investimento com alta liquidez.
2 – Tenha uma visão de longo prazo
Benjamin Grahan, o autor de “O Investidor Inteligente“, uma das maiores bíblias do mercado financeiro, diz que os principais pontos que devem ser analisados em uma empresa são:
- As perspectivas gerais da companhia para o futuro;
- A qualidade de sua administração;
- Sua força financeira e estrutura de capital;
- Seu histórico de dividendos;
- Vantagens competitivas;
- Taxa de crescimento dos lucros
Acredito que é fácil concordar que todas essas métricas são avaliáveis somente no longo prazo, não? Como Graham comenta em seu livro, o sucesso a longo prazo está em procurar empresas maratonistas, e não velocistas. Foco no longo prazo, sempre!
É exatamente por isso, que o dinheiro reservado para emergências e projetos de curto prazo não devem ser investidos em ações na bolsa de valores.
3 – Invista aos poucos
Se você sempre foi conservador com os investimentos, possui todo seu portfólio em renda fixa e deseja investir em renda variável, vá com calma. Não faça grandes migrações para as ações de uma vez. O mais importante para alcançar a independência financeira é a direção, e não a velocidade.
Como mostrei anteriormente, ninguém sabe se estamos no fundo da bolsa para comprar ações ou no topo para vendê-las. Assim, movimentos bruscos tendem a ser muito arriscados.
Defina um percentual de ações para ser atingido dentro de um prazo, e mês a mês, vá escolhendo seus ativos de renda variável constantemente. Aos poucos, você terá o percentual escolhido em sua carteira de investimento e usará esse tempo para adquirir mais conhecimento e experiência.
Isso também vale se você receber uma herança ou ganhar na loteria, ok?
4 – Diversifique: não concentre seus investimentos em poucas ações
A quantidade de ações ideal para uma carteira de investimentos é um assunto muito debatido entre os investidores. Possui também muitas considerações a serem feitas, tanto que escrevi um texto dedicado a isso: “Quantas ações ter em sua carteira de investimentos“. Acesse-o se tiver interesse.
Muitos estudos já foram feitos e mostram que uma carteira bem diversificada possui uma maior chance de sucesso a longo prazo do que carteiras não diversificadas. Escolha seus melhores ativos, dividindo seu risco em diferentes classes de investimentos, reduzindo o impacto de um declínio acentuado em um mercado específico.
Defina também, se deseja uma carteira mais ativa ou passiva (ou uma carteira de ETFs) e estabeleça percentuais máximos do portfólio de cada ação. O meu limite atual é de 1% do portfólio. O êxito a longo prazo de uma carteira diversificada, porém, será muito maior se não esquecermos a última sugestão, a seguir.
5 – Não esqueça de rebalancear seus ativos
Uma prática fundamental é reequilibrar seus percentuais de alocação de papéis periodicamente, de forma que você tenha sempre o equilíbrio restabelecido em seu portfólio. Se um papel valorizou demais, venda uma parte dele, sem querer adivinhar se vai subir ainda mais ou não. Se cair, e você ainda acredita na empresa, compre um lote adicional e aumente sua posição.
Essa forma de atuar no mercado faz com que você se obrigue regularmente a vender na alta e comprar na baixa. É verdade que não será algo perfeito: você nem sempre acertará os topos e fundos momentâneos, mas, feita de forma consistente, fará de você um vencedor a longo prazo.
Essas alterações devem ser feitas de maneira estratégica, estruturada e disciplinada, e possui um método: a alocação de ativos.
A Alocação de Ativos é a estratégia que uso há mais de 15 anos para investir meu portfólio. É ela que me permitiu pedir demissão de meu emprego em 2010 e, desde então, viver apenas dos rendimentos de meus investimentos. É vivenciando-a na prática que torna muito confortável a sugestão de sua adoção pelos leitores.
Se quiser conhecer mais desse método, acesse-o aqui: “O que é a Alocação de Ativos? Um guia para iniciar sua carteira de investimentos“.
Palavras finais
Entendo que propostas de ganhos rápidos são tentadores. Principalmente para os mais jovens no mercado financeiro, embora existam muitos veteranos por aí que se recusam a aprender que, a longo prazo, elas são insustentáveis.
Muito desse pensamento está em encontrar soluções fáceis para problemas complexos, como acertar fundos e topos na bolsa de valores. Não funciona. É o caminho para o desastre.
Como disse Ecker em seu já clássico “Os segredos da mente milionária“:
O segredo do sucesso não é tentar evitar os problemas nem se esquivar ou se livrar deles, mas crescer pessoalmente para se tornar maior do que qualquer adversidade. (…)
Saber treinar e manejar a própria mente é o maior talento que se pode ter na vida, tanto em termos de felicidade como de sucesso.
Além do artigo sobre a Alocação de Ativos, convido aos leitores a clicar nas abas abaixo e escolher algum dos excelentes livros citados no texto. Eles são muito úteis para o crescimento e mudança de modelos mentais.
Dúvidas e questionamentos serão muito bem-vindos na seção de comentários logo abaixo.
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Artigos mais recentes:
Oi André
Não concordo com o rebalanceamento ativo (deixando de ser sócio de empresas boas que estão trazendo ótimos retornos).
Existe algum estudo que corrobore essa sua visão?
Olá Rafa! Não vejo muito significado no termo rebalanceamento “passivo”. Assim, entendo a operação apenas como “rebalanceamento”, e não “rebalanceamento ativo”. Eu não concordo com essa ideia de “deixar de ser sócio de empresas boas”. Resumo porque: 1) É difícil avaliar o que são empresas boas. Não há consenso geral. Veja a pasta de recomendações de vários analistas e corretoras e verá que há muitas diferenças. 2) Uma empresa “boa” pode estar sobreavaliada (indicando venda) ou subavaliada (indicando compra); 3) Histórico: há muitas empresas que muitos consideram “boas” que estão patinando há tempos. Exemplo: Itaú. Mesmo com a valorização recente,… Leia mais »
Bom dia, André! Sua resposta foi bastante completa. Obrigado. Responderei com meu ponto de vista nos mesmos tópicos. 1) Empresa boa ao meu ver é empresa consistentemente lucrativa (há 15 ou mais anos), pouco alavancada (exceto em situações específicas) e com longo histórico de bolsa (15 ou 20 anos), segurança ao minoritário, governança corporativa, etc. São empresas normalmente precificadas com premissas otimistas, mas inegavelmente estão com as chances ao seu favor. Naturalmente que os analistas costumam ignorá-las, pois existe aí o grande conflito de interesse a respeito do giro de patrimônio. 2) Como investidor de longo prazo, eu não assimilo… Leia mais »
Olá Rafa! Legal! Apenas para complementar: 1) Ok, concordo. E elas podem estar sobreavaliadas e subavaliadas. Venda as primeiras e compre as segundas. Veja que “empresas com chance a seu favor” é algo totalmente aleatório. Se fosse assim, as carteiras das corretoras e casas de análises sempre estariam voando acima do Ibov. E não estão. Não é fácil encontrar empresas “boas” e que vão performar acima do Ibov. 2) Perfeito. Isso é operar ativamente com base em informações que nem sempre são verdadeiras. E essa é a base do uso do rebalanceamento. E sim apenas devido a uma valorização excessiva,… Leia mais »
André,
Muito bom o seu post.
Considero o rebalanceamento da carteira muito importante para maximizar os ganhos.
Eu costumo colocar algumas ordens com um prazo maior para ações que acredito que tenham um potencial de crescimento maior do que o atual. Ordens do tipo colocar e esquecer, pois já obtive um bom lucro. Já consegui bons ganhos dessa forma.
Boa semana!
Olá Rosana! Rebalanceamento é fundamental! Não sei se entendi bem se são ordens de compra ou venda o que quis dizer, mas atualmente eu utilizo mais o sistema de alertas por e-mail. Quando uma ação chega a determinado preço previamente cadastro para o disparo, realizo um segundo filtro para avaliar se ainda vale a compra ou a venda. Mas manter as ordens ativas também ajuda para não nos levarmos a comprar e vender pelo impulso. Se você as lançou previamente, é porque avaliou bem os prós e contras da operação e dessa forma, as coisas tendem a sair melhores! Boa… Leia mais »
Oi, André,
Costumo deixar as ordens somente para venda. Para compras, não achei tão interessante.
Boa semana!
Entendi, Rosana!
Boa semana para você também.
Click bait esse título hein
Vc achou Josias?
Acho que nem tanto… o último item mostra uma forma factível se se comprar nas altas ou baixas relativas. E os anteriores deixam claro que não existe mágica no mercado.
Acredito que o texto responde à questão do título, nem que seja para mostrar que é algo impossível.
Abraço!
Excelente post, André. Como sempre…
Obrigado.
Abraço!
Muito obrigado, Danilo! Abraço!
Parabéns pelo post, André! Teu blog é uma inspiração!!!
Obrigado pelas palavras, One!
Abraço!
Oi, André
Gostaria de te parabenizar pelo post. Bem simples, mas informativo.
Nos últimos dias tenho lido os blogs da finasfera e percebi que o investimento em ações e fii por conta própria parece bem mais comum do que imaginava. Quais livros ou conteúdos vc recomenda para alguém que queira se tornar completamente independente nos investimentos em renda variável ?
Desde já, agradeço.
Abraço
Obrigado, Iuri. Sim, é verdade! O número de CPFs cadastrados nas corretoras vem batendo recordes atrás de recordes. Ainda falta muito chão para chegarmos a um nível norte-americano, mas a perspectiva futura parece boa. Conteúdo tem de monte, você só não deixou muito claro em que nível de conhecimento e prática você está agora. Além disso, é importante saber se você pretende estudar empresas para valer ou se pretende seguir sugestões de analistas para compor sua carteira. Há vantagens em ambos os lados, dependendo do tempo que irá dispor nisso. Se procurar na lupa d procura do blog, veja os… Leia mais »
Muito obrigado pela resposta, André. Tenho um conhecimento razoável sobre as opções de renda fixa e variável, eu imagino. Invisto no Tesouro direto ipca+ 2045 (75%) e em dois fundos de ações (25%), ambos com foco no longo prazo (20-25 anos). Minha ideia principal é aprender a analisar os indicadores de empresa, como dados de balanço de relatórios e demonstrativos de resultados, bem como de FIIs, com o objetivo de me tornar autossuficiente no investimento em ações e FIIs. Gostaria de realizar o valuation das empresas, mas imagino que relatórios de casas de análise, como sugeriu, sejam necessários pelo menos… Leia mais »
Olá Yuri! Já está de caminho andado então 🙂 Se você quer fazer isso por conta, perfeito! Você pode começar com uma ajuda inicial com os relatórios, mas aí precisa se envolver nos livros de análise de balanços mesmo e entender a dinâmica dos mercados. Eu já li vários livros de demonstrações financeiras de empresas, contábeis mesmo, mas isso foi mais no passado. Acho que podem estar desatualizados, mas é nessa linha que precisa seguir. Sobre entendimento do mercado, tem um livro bem legal de seus crashs, que chama Salvem-se quem puder. Achei bem legal. Um pouco de psicologia, como… Leia mais »
Mto bom artigo André, objetivo e didático.
Quem dera eu ter começado a equilibrar os percentuais de alocação de papéis já há anos atrás ao invés de ouvir os “especialistas” do mercado.
Um abraco
Cabeça, nunca é tarde! Estamos apenas na metade da vida hehe.
Teve comentário positivo hoje lá no seu texto, vc viu? Aguardando aqui o texto do equilíbrio das finanças com um bebê!
Abração!
Olá,
também sigo esse modelo, balanceando a carteira com os aportes inicialmente, depois quando os aportes não tiverem mais tanta influência vou ter que definir uma periodicidade pra fazer isso através de vendas também.
Abraços
Perfeito, Bilionário!
É o mesmo conselho que dou à minha filha: primeiro tenta equilibrar com os aportes. Se mesmo assim, for desequilibrando demais, aí precisa interferir.
Eu não uso muito a periodicidade, mas sim a variação percentual.
Abraços!
Tb prefiro equilibrar com novos aportes, mesmo que leve algum tempo aportando. Nao descarto rebalenciamento, mas não gosto da ideia de perder a subida de alguma nova MGLU3.
Sim, anônimo, os aportes podem ser muito úteis no rebalanceamento. Mas, com o tempo, fica mais complicado, pois o patrimônio cresce mais rápido que eles. É legal vc definir um percentual máximo de tolerância para atuar diretamente com vendas e compras. Não vai muito nessa linha de perder a subida não. O que se vê mais por aí é fanfarronice. Ninguém sabe o que vai cair e subir. Esse mês mesmo, vendi parte de minhas GOAU4, VALE3 e PETR4 perto das máximas, mesmo com uma porção de analistas falando p comprar mais. Todas elas hoje estão bem abaixo do valor… Leia mais »
Quais são ou seriam seus critérios para definir essas porcentagens em ações? É entre fiis?
Leonardo, os critérios são subjetivos e dependem de seu perfil, idade, objetivos, etc. Fica difícil explicar tudo em um comentário.
Sugiro ler os textos sobre “alocação de ativos”, “o nascimento de uma carteira de investimentos” e “perfil de investidor”. Você pode usar a lupa no menu e digitar esses termos que encontrará rapidamente os artigos.
Abraço!
Excelente post!
Ninguém tem o dom de prever o futuro, embora a Análise Técnica tenha sua utilidade, é quase impossível prever um fundo ou topo.
Ãcredito que Mercado Brasileiro não seja plenamente eficiente e por conta disso abre brechas de comprar boas com bons preços, então basta ficar esperto para capturar essas oportunidades.
Estou iniciando um Projeto, se puder dar uma conferida no meu Blog, agradeço. https://colheitadedividendos.blogspot.com/
Opa, que legal! Mais um blogueiro na finansfera! Sucesso no novo projeto!
Obrigado pelo comentário! De fato, previsões são meras quimeras em que ainda resistimos a acreditar. Já confiei mais na análise técnica, mas hoje não vejo ela com bons olhos.
Abraço!