Como os traços dos locais e cidades que visitamos modificam-se no tempo e no espaço? As viagens são sempre diferentes umas das outras?
Como expressar locais por meio de uma fotografia ou de um texto? Ou como esses mesmos locais se expressam para o viajante? A resposta não é óbvia. O fato é que a expressão está longe de ser única.
Ela é uma função do tempo e do espaço, e pode não ser bem traduzida nas viagens onde nossa presença em um mesmo local seja efêmera, sem um tempo dedicado à uma maior incorporação da sensação de “pertencimento” a aquele momento específico.

Kant chamava o tempo e o espaço de “formas de sensibilidade”, e como vemos o mundo através de “lentes” diferentes, percebemos as coisas no tempo e espaço conforme nossa característica inata, ou seja, eles não existem fora de nossas próprias percepções. São sobretudo propriedades de nossa consciência e não simplesmente atributos do mundo físico. Assim, essas expectativas e compreensões serão únicas para cada indivíduo.
Espaços e tempos diferentes em um mesmo local
Locais podem expressar várias facetas diferentes, e quanto maior o desejo e as possibilidades de exploração, sem restrições físicas de determinados espaços, maior a descoberta dessa diversidade. Em continentes históricos, várias épocas estão presentes nas cidades, como presenciei na cidade de Bodrum. Construções de 2500, 1000 e 500 anos atrás misturam-se na cidade, e clamam por uma exploração mais cuidadosa.
A mesma cidade exala sensações diferentes quando exprime seu presente na marina atual, repleta de iates refletindo o estilo de vida de seus usuários. A exploração física, com tempo, faz-se imprescindível para a absorção da região de forma mais abrangente, tornando o espaço, uma função complementar e direta dessa expressão.
Em determinada região, essa mesma expressão pode modificar-se demasiadamente também com o tempo. Nos ciclos anuais e em latitudes mais elevadas, as estações do ano fazem esse papel, alterando o clima, a vegetação e influenciando os hábitos das pessoas, fatores que transformam radicalmente o local de visita.
Quando morei em Berlim, pude presenciar a mudança que as quatro estações trazem para a expressão da cidade. Berlim não é a mesma cidade em viagens no verão ou no inverno, o que gera uma mudança na forma que interpretamos as diferentes sensações nos mesmos locais apenas com a alteração desse ciclo.
Se extrapolarmos esse tempo a longo prazo, mudanças podem ser emanadas através de movimentos políticos e alterações de condições econômicas, como as manifestações que presenciei em Atenas há pouco tempo atrás. Mesmo fora de condições naturais ou situações de longo prazo, o ciclo de mudança e de novas descobertas faz parte da natureza humana, da construção e reconstrução de seus locais.
Enfim, os locais presenciados por um determinado viajante, expressará sensações e sentimentos diferentes para os futuros visitantes. A expressão que o viajante leva desses locais, portanto, não é a mesma que um outro viajante, por mais características comuns que possuem, retem em sua memória.
As expectativas devem ser consideradas com cuidado, pois ele não vivenciará a mesma experiência. E ao invés de achar isso algo ruim, ele deve considerar o privilégio em ver o tempo e o espaço tornar suas viagens expressões únicas e, como consequência, sua absorção, o que ele leva de volta para casa, é individual, algo somente seu.
Se formos extrapolar a análise de como cada expressão interage com a individualidade de cada um, alcançaremos um número infinito de combinações, o que mostra que a nossa visão de mundo é única apenas no interior de cada indivíduo, e que a percepção do mundo físico pode ser muitas vezes relativa.
Uma excelente tese para estudantes de psicologia, à luz da filosofia de Kant. Mas, cuidado! Sem confusões com os relativismos culturais da moda, como escrevi no texto “O relativismo cultural como sanção para incoerentes tolerâncias sociais“, ok? 🙂
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