T. Boone Pickens morreu no ano passado e deixou uma carta com pontos interessantes para reflexão.
Veja quem foi ele e porque, quando um bilionário com tal história de vida resolve falar após sua morte, devemos ouvir.
O norte-americano T. Boone Pickens morreu em 11 de setembro de 2019. Começando do zero, como entregador de jornais, fez fortuna no ramo de petróleo e exploração de minerais. Também escritor e ativo politicamente, foi um dos maiores doadores do mundo juntando-se a Bill Gates e Warren Buffet na campanha The Giving Pledge. Mais detalhes de sua bibliografia podem ser vistos aqui.
Após sua morte, a fundação que presidia publicou uma carta escrita pelo bilionário para ser divulgada após sua morte. Nela, Pickens faz uma reflexão sobre sua vida e dá alguns conselhos para quem ficou por aqui. Veremos alguns deles.
Pickens fez sua fortuna do nada. Rico, procurou meios de usar seu tempo e fortuna para promover melhorias no país que vive e criar alternativas para ajudar instituições pelo mundo. Claro, também teve seus defeitos como todos nós, mas viveu uma vida em prol à sociedade. Não é isso que pretendemos, com nossos devidos ajustes pessoais, atingindo a independência financeira e aposentadoria antecipada (FIRE)?
Comentarei partes de sua carta que considerei mais significativas. Caso deseje vê-la integralmente, acesse-a aqui.
O que você deixará para trás?
Essa é a pergunta que inquietava Pickens. Um de seus favoritos poemas era “O homem indispensável”, escrito em 1959 por Saxon White Kessinger, abaixo em tradução livre.
Em algum momento em que sentir que sua partida
Deixará um vazio impossível de preencher,
Apenas siga simples estas simples sugestões
E veja como elas desdenham de sua alma;
Pegue um balde e encha-o com água,
Mergulhe sua mão até o seu pulso,
Puxe-a para fora, e o buraco que fica
É uma medida de quanto você fará falta.
Você pode espirrar a água que for ao mergulhar,
Você consegue agitá-la em abundância,
Mas pare e você verá que em pouco tempo
Ela parecerá exatamente a mesma que antes.
Parece meio sombria essa ideia, não? O quão significativa será nossa falta no mundo após nossa morte? Pickens, porém, usou essa ideia para criar condições para que o balde lembre dele por um tempo um pouco maior. Uma de seus primeiros avisos é que reconhecia o poder da comunicação eficaz.
Compartilhe o que você aprendeu
Talvez essa seja a mensagem mais forte da carta de Pickens. Ele gostava de escrever e discursar para os jovens, incluindo com seus netos na plateia. Sua experiência de vida poderia ser passada aos demais, de maneira que, quem o ouvisse, poderia transpor barreiras de forma mais fácil do que ele transpôs. Afinal, esse é um dos princípios do progresso da humanidade, que galgou seu desenvolvimento sempre com o apoio de ombros pregressos, concorda?
Essa ideia também conversa com um texto que escrevi em janeiro de 2020, onde escrevo sobre os motivos de manter um blog. No fundo, nós, blogueiros, pensamos como Pickens: o conhecimento deve ser compartilhado. E devemos ter a responsabilidade de escrevermos somente aquilos que conhecemos. Em tempos de internet, esse grande princípio dissolveu-se como sal: temos que separar ativamente, dia a dia, o joio do trigo. Agora, até nos livros publicados…
Assim, se você souber muito de uma área e acreditar que pode ajudar outras pessoas, não espere muito por isso: faça! A palavra escrita dura muito mais do que a vida humana, e você nunca sabe o impacto que ela pode fazer para as pessoas que as lerem depois de sua partida. A água de seu balde ficará mais tempo agitada!
Procure a autosuficiência
A avó do bilionário uma vez disse a ele:
“Sonny, eu não ligo para quem você é. Algum dia você terá que ser independente.
O que ela quis dizer com isso? Esse é um provérbio americano (“Every Tub On Its Own Bottom“) que significa que as pessoas devem ser independentes no sentido de serem responsáveis pelos seus próprios atos. Não há sentido em culpar os outros pelo o que ocorre na sua vida. Você é o protagonista e a única pessoa incumbida de seu próprio sucesso.
Várias vezes aqui nesse blog citei que a independência financeira está intimamente ligada à responsabilidade pessoal. Ter essa liberdade envolvem escolhas que somente cada um de nós pode fazer. Ninguém pode falar o que é melhor para sua vida, exceto você mesmo. Os caminhos que você decidir seguir devem cobrir e alargar seus ideais e propósitos genuínos como ser humano.
É uma faca de dois gumes: sua responsabilidade de estar à frente da sua vida vai definir seu sucesso como pessoa realmente livre. Algumas pessoas ainda não estão preparadas para isso, e precisam de alguém ou de um emprego para ditar o que elas devem fazer, como mostrou uma discussão recente na blogosfera, que comentei no texto sobre a diferença entre independência financeira e aposentadoria antecipada.
Cuide primeiro de você
Essa ideia pode soar egoísta, mas não é. Você já deve ter visto os avisos de segurança em um avião: “em caso de emergência, coloque primeiro as máscaras em você, e depois ajude as pessoas“. Stephen Covey, em seu excelente “Os sete hábitos das pessoas altamente eficazes“, diz:
Acredito que nessa fábula se manifeste uma lei natural, um princípio — a definição básica da eficácia. A maioria das pessoas enxerga a eficácia a partir do paradigma dos ovos de ouro: quanto mais alguém produz, quanto mais faz, mais eficaz a pessoa é. Entretanto, conforme se pode ver na história, a eficácia resulta de duas coisas: o produto (ou seja, os ovos de ouro) e o meio de produção, ou a capacidade de produzir (a galinha).
Se você adotar um modo de vida focalizado nos ovos de ouro, negligenciando a galinha, em pouco tempo perderá a fonte dos ovos de ouro. Por outro lado, se cuidar apenas da galinha, sem dar importância aos ovos de ouro, logo não terá mais meios para alimentar a galinha, ou a si próprio. A eficácia consiste no equilíbrio — no que chamo de Equilíbrio P/CP. P representa a Produção dos resultados desejados, os ovos de ouro. CP indica a Capacidade de Produção, a habilidade ou bem que produz os ovos de ouro.
Ou seja, não conseguiremos produzir coisas boas consistentemente no mundo se também não cuidarmos de nós mesmos. Para você que é ou deseja ser uma galinha que produza ovos de ouro, Pickens também dá alguns conselhos.
Permaneça em forma e envelheça bem
Manter boa saúde é fundamental para apreciar mais a vida, seja para você mesmo ou para auxiliar os outros. Criar uma rotina de exercícios e manter a alimentação correta é fundamental (ainda não fiz um texto sobre exercícios, mas explico como funciona minha alimentação paleo e a prática de jejum intermitente aqui).
Saber que, no futuro, nossas aptidões, principalmente físicas, vão se deteriorar, pode criar gatilhos até para alterarmos nossa forma de ver a aposentadoria mais a frente, como, por exemplo, pensar em uma semi-aposentadoria ou aposentadoria temporária, ao invés da aposentadoria definitiva. Viagens arrojadas e voluntariados mais destemidos (conheço um médico que participa dos Médicos sem Fronteiras, na África) só serão possíveis para muitas pessoas se abandonarem a ideia da aposentadoria mais tardia.
Aprenda com os erros
Proveniente de alguma leitura do passado, uma frase ficou gravada em minha mente: “Os erros são os maiores momentos de nossa existência“. Parece radical, mas se pensarmos em autodesenvolvimento, ela carrega um fundo de verdade imenso. A forma mais rápida e eficaz de melhorarmos não é quando erramos e decidimos não errar novamente?
Ok, eu concordo que podemos melhorar continuamente pensando em ineficiências, em melhorias, etc, mas também é verdade que os erros fornecem um gatilho mais imediato para a resolução. Não os repreendam: se eles aparecerem, abrace-os como uma oportunidade para ser uma pessoa melhor.
Não dependa do governo
Esse conselho de Pickens tem muito a ver com esse blog. A página sobre “Liberdade e Filosofia Política” contém muitos textos sobre o quanto precisamos ter menos Estado para construirmos uma sociedade mais forte, responsável e virtuosa.
Sim, eu sei que no Brasil o Estado está em todo lugar, prejudicando nossas iniciativas e massacrando as oportunidades para sermos pessoas realmente livres e responsáveis. Muitos, entretanto, comemoram essa conjuntura e desejam ampliá-la ainda mais. Fique do lado oposto: lute por menos Estado para crescermos mais como pessoas e cidadãos.
Terminando…
Pickens falou mais. Se tiver interesse, acesse a carta original. Compartilhei, por ora, alguns de seus pensamentos que estão mais alinhados às ideias desse blog. Convido os leitores a refletir um pouco em suas palavras finais.
Isso nos faz pensar: o que poderíamos colocar em uma carta a ser lida após nossa morte? Quais seria suas prioridades? O que você sugeriria às pessoas próximas e para aqueles que não conhece? Seria um assunto muito sombrio para pensar?
Infelizmente, a morte é uma ocorrência que não nos podemos furtar, e foi muito bem abordado em um post do blog Viver Sem Pressa, já citado anteriormente. Será que ponderar um pouco mais no assunto pode nos fazer pessoas melhores em vida? Ajudar a decidir o que queremos realmente fazer na nossa vida? Ou o que queremos deixar ao mundo?
Eu acredito que sim. E você?
Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
… assistir uma entrevista de vídeo no YouTube
… ler sobre um resumo de minha história
… ouvir uma entrevista de podcast no YouTube
… participar de um papo de boteco
… curtir uma live descontraída no Instagram
… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.
E, se gostou do texto e do blog, por que não ajudar a divulgá-lo em suas redes sociais através dos botões de compartilhamento?
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Oi André, muito bom o texto. A pergunta “o que você deixará para trás?” me fez parar por um minuto para pensar…
Toda hora levo um susto quando vejo no seu texto um link para o meu blog kkkkk.
Aliás, coloquei seu blog no meu blogroll, só hoje percebi que apesar de ser um dos blogs que mais gosto, ainda não estava lá.
Um grande abraço, bom fim de semana pra você! Yuka.
Haha, por que susto?
Aquele seu texto foi matador, como todos os posts do Viver sem Pressa!
Confesso que também que bobeei de não colocar o seu na minha página da Finansfera. Agora já está lá!
Abraço e excelente final de semana!
Bela reflexão!!!
Obrigado, Marcos!
Abraço!
Fala André!
Cara, muito interessante essa do balde d’água. Uma bela de uma reflexão. E também gostei dessa frase “Os erros são os maiores momentos de nossa existência“. Bem profunda e tocante.
Hoje um dos maiores legados que pretendo deixar é que minha filha tenha “sede de conhecimento”. Espero ensina-la a sempre ir em busca de mais.
Afinal, por mais que estudamos, nunca sabemos nada rs
Abração!
Olá Inglês!
Também gostei da metáfora do balde. Não conhecia antes de ler o texto.
Concordo contigo: o maior legado que pretendo deixar para minha filha é conhecimento e sabedoria. O dinheiro é secundário e muitas vezes, atrapalha.
Abração!