Há muita confusão sobre a diferença entre independência financeira e aposentadoria antecipada, mesmo para as pessoas imersas no mundo das finanças pessoais.
Conheça essas diferenças e cheque se você está buscando sua independência financeira pelos motivos certos!
O começo de 2020 foi um mês com altas discussões na Finansfera, relacionadas ao conceito errado que muitas pessoas possuem do termo aposentadoria antecipada. A partir de duas postagens que debatiam o termo, no início pelo Blog do Uó e posteriormente no Blog do Corey, ocorreu uma chuva de mensagens associando-o com o ócio, pura e simplesmente.
Postagens posteriores, como do AA40, procuraram colocar as coisas no lugar, mesmo objetivo do texto abaixo. Decidi por bem também dar minha contribuição para desfazer a confusão e mantê-la como referência aos leitores desse blog, uma vez que muitos não acompanham toda a Finansfera.
Vamos entender então qual a diferença entre independência financeira e aposentadoria antecipada, pensar sua relação e como elas contribuem para sua liberdade financeira de forma mais ampla.
O que é FIRE?
FIRE é o termo em inglês para Financial Independence, Retire Early, o que se pode traduzir livremente para “Independência Financeira e Aposentadoria Antecipada”. É um movimento que existe já há algum tempo nos Estados Unidos e tem despertado interesse crescente no Brasil, muito divulgado pelo blog AA40, já citado.
Buscar a FIRE consiste em associar constantes economias no orçamento com bons investimentos, almejando a construção de um patrimônio que lhe proporcionará no futuro uma renda passiva. Com esse novo fluxo de renda, poderíamos pedir demissão de nosso emprego e ter a liberdade de escolher o que fazer em nossa vida, seja em autodesenvolvimento pessoal ou em agregar mais valor ao mundo.
Apesar do termo não ter sido citado até hoje nesse blog, a ideia sempre se fez presente, seja em textos que mostram como vendemos nossas horas em um emprego tradicional como em diferentes formas de investimento para uma independência financeira passiva ou ativa.
A diferença entre a independência financeira e a aposentadoria antecipada
A independência financeira
A independência financeira é a FI, a parte inicial da FIRE, e é alcançada quando os rendimentos de seus investimentos cobrem suas despesas. Você não precisa mais trocar, se desejar, horas de sua vida por trabalho.
O conceito de independência financeira não se coaduna, obrigatoriamente, com riqueza material. Um empresário que vive no luxo, mas precisa acordar todo santo dia para ir ao seu negócio e fazer dinheiro para manter o padrão de vida de sua família, não é independente financeiramente. Se ele faz isso apenas por prazer em crescer seu negócio e possui uma renda passiva suficiente, a história é outra.
Existe, segundo algumas ideias, uma diferença entre a independência e a liberdade financeira. Enquanto na primeira possuímos uma renda passiva para manter nosso padrão de vida, a segunda oferece uma tranquilidade maior para mudarmos nossa rotina ou projetos sem se preocupar com a renda. Ou seja, ser livre financeiramente envolve ter uma abundância financeira maior de forma que não haja restrição no estilo de vida que deseja levar, dentro, claro, de certos limites. No texto “Independência ou liberdade financeira? Será que você está chegando lá?“, detalhei mais essa diferenciação.
A aposentadoria antecipada
A aposentadoria antecipada vem após a independência financeira: é o RE do acrônimo. Ela não só ocorre depois, mas sua possibilidade de existência é uma consequência: a segunda não pode existir sem a primeira, exceto se você se submeter a uma vida miserável. O mais importante para entender a relação entre ambas é que você, alcançando a independência financeira, tem a opção, e não a obrigação de se “aposentar”. Você pode continuar com seu emprego se desejar ou criar outras formas para acumular patrimônio.
O que causou confusão nas postagens da finansfera, entretanto, não foi nem tanto a diferenciação entre a opção ou a obrigação, mas sim sobre o conceito de aposentadoria antecipada. Infelizmente, o termo “aposentadoria”, tanto em inglês como em português, está associado com velhice, incapacidade, ócio e preguiça. Essas definições não ajudam muito e causam muitas confusões.
No termo FIRE, aposentadoria significa liberdade de escolhas. O “RE” é uma consequência do “FI” tornando a FIRE um conceito próprio caso você decida pela aposentadoria antecipada. Uma pessoa pode querer ser independente financeiramente, mas continuar trabalhando em seu emprego 24/7. Há pessoas cuja única vida é o trabalho. Não possui amigos fora dele, não dá tanta importância para a família ou não se vê capaz de alçar voos próprios. Alguém pode chegar na FI dessa forma e não exercitar sua opção de ser RE. Não julgo: é uma decisão pessoal de cada um.
Já alguém que chegou na FI e escolheu ser RE, preferiu usar seu tempo de um modo mais gratificante. Seja para ela mesmo ou para outras pessoas. Se ela decidiu ficar apenas em casa assistindo Netflix ou Amazon Prime e comendo pipoca, é uma decisão dela. Na minha opinião, ela terá problemas no futuro e precisará alterar seu caminho. Outros, podem se engajar mais com a família, criar valor para as pessoas ou praticar atividades voluntárias. Uma vida, provavelmente, de mais significado que tinha em seu trabalho.
Atuar no papel principal de sua vida, envolve também acertar e errar. Quando o plano de vida após a declaração da aposentadoria antecipada não dá certo, você pode fazer tudo de forma diferente para tentar outra ideia. Afinal, sendo financeiramente independente você possui liberdade de escolha. Liberdade até para escolher outro tipo de aposentadoria se desejar, como escrevi no texto: “As 5 formas diferentes de aposentar-se antecipadamente“.
Seja nos erros ou acertos, em nenhum momento tais rotinas de vida podem ser associadas com o surrado termo “aposentadoria” que está nos dicionários. Ser protagonista em sua vida, ser livre, ter atividades recompensadoras, estar perto de quem gosta e criar valor ao mundo, não pode ser confundido com o conceito de “vagabundagem”, como algumas pessoas comentaram nos posts dos artigos da Finansfera.
A responsabilidade na promulgação da aposentadoria antecipada
Acredito que há algo fundamental que várias pessoas esquecem: a responsabilidade individual de nossas ações. Uma pessoa que alcançou a independência financeira é a única responsável por criar uma vida significativa, caso decrete sua aposentadoria antecipada.
Os últimos posts do Corey denotam sua grande dificuldade de adaptação, mas isso não torna a FIRE sem sentido, como deu entender em seu texto. Não podemos atribuir um fracasso ou uma incapacidade pessoal caluniando a aposentadoria antecipada. Se algo não deu certo na vida após a “FI”, a pessoa precisa refletir como ela construiu sua “RE”, comparar com suas expectativas e, se for o caso, tentar algo diferente. Mas é leviano posar de vítima perante um conceito.
Afinal, a pessoa possui a liberdade de escolha, lembram? Se ela não deseja assumir sua responsabilidade perante à FIRE, ou à RE, esqueçam dela e continuem escravos pelo resto de suas vidas, acordando cedo, indo ao seu trabalho, engolindo as baboseiras do seu chefe, etc. É uma opção pessoal. Outras pessoas preferem usar seu tempo melhor e suas decisões devem ser respeitadas.
10 anos de independência financeira
Minha independência financeira ocorreu aos meus 37 anos. Estou com quase 48. Já passei de dez anos de independência financeira e aposentadoria antecipada.
Nunca aprendi e produzi tanto como nesses dez anos. Nunca ajudei tanto as pessoas como nesses dez anos. Nunca tive tanta saúde e pude fazer tantas atividades que escolhi fazer como nesses dez anos. Nunca tive a liberdade de “sair de férias” de minhas atividades quando quiser. Justamente porque antes, não tinha TEMPO, por possuir um emprego que me consumia muitas horas por semana.
O que faço hoje dá mais sentido para minha vida. Criar valor sem patrão, sem despertador, sem sujeitar nossa vida aos desejos dos outros. Vejo o protagonismo como algo fundamental, e não há dinheiro que valha sua vida controlada pelos outros.
Agora, ao final de 2020, terei meu segundo filho, o que faz a condição de ser financeiramente independente ainda mais especial. Terei um longo tempo para estar junto a ele durante todo seu crescimento. Tempo para ensiná-lo, para brincar, para fazê-lo sentir amado e ser um pilar sólido para ele se apoiar quando precisar. Só por esse motivo, uma declaração de FIRE já terá valido a pena, não?
Enfim, já resumi como foi minha história até a independência financeira, como foi esse período, as coisas boas, as não tão boas e as coisas ruins. Como mudei de um projeto para o outro e como mantive em minha mente um sentido de propósito para não cair na armadilha do ócio (o que, confesso, não foi tão fácil como eu imaginava). Também já mostrei os 5 elementos necessários para alcançar a FIRE.
A mensagem final desse texto é que existe sim, uma diferença entre independência financeira e aposentadoria antecipada, sendo que a última é uma consequência da primeira e é opcional. É apenas uma oportunidade de trocar um emprego típico das oito às cinco pela busca em tempo integral de uma paixão, seja um hobby, seja um empreendimento empresarial ou uma atividade voluntária. Ou ainda, dedicar mais tempo à sua família, a quem você gosta e outros projetos que dão a você um significado pessoal.
Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
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… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.
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Sensacional, André. Reflexão muito sóbria, sobre toda essa questão. Não sabia que você já estava há 10 anos em IF e acho que uma das melhores partes disso é que você fez uma “viagem lenta”, equilibrada. Bom, gosto demais dos seus pontos de vista a respeito da questão. E além da parte positiva, independência financeira e construção de patrimônio são proteções, para a pessoa e para a família e entes queridos. Crises acontecem direto. O meu motivo para buscar IF é justamente proteção para problemas de falta de renda
Olá Crono! Obrigado!
Eu não sei se essa viagem foi tão lenta assim (10 anos também), mas foi uma mistura de privilégio (bom salário), estudo, interesse e uma boa dose de sorte. Talvez possamos pensar em uma viagem “lenta” no sentido de que não fiz apostas arriscadas: apesar do curto tempo, tudo foi feito de degrau a degrau, subindo apenas quando eu me sentia apto a operar em novos mercados.
Sim, as proteções tiveram um papel fundamental em 2008. Por isso que insisto que toda carteira de investimento precisa ter um pezinho nelas 🙂
Abraço e boa semana!
Olá André,
Muito bom o texto!
Abraço,
Berti
Fala Berti, que bom ver você aqui!
Muito obrigado!
Abraço!
Fala André! Excelente texto! Seu texto reflete com brilhantismo suas experiências de vida e maturidade após ter alcançado tudo o que queria com a independência financeira, e, muito mais do que isso, reflete pensamentos de alguém que pode com autoridade falar muito bem do assunto, pois você “já chegou lá”, e, mais do que isso, “está se mantendo lá”. Vejo o planejamento como uma peça central em sua vida, e que, juntamente com disciplina e vontade de aprender, tem te conduzido por escolhas muito boas ao longo desses últimos dez anos. Como disse o Vaga, vc é o MMM brasileiro!… Leia mais »
Opa, Guilherme, muito grato pelas suas palavras! De certa forma você tem razão sobre o planejamento que fiz, embora muitas coisas vão se ajustando com o tempo. O planejamento inicial que pensei para minha “RE” era diferente no começo, mas depois foi mudando. Tudo são adaptações. O que não mudou é a vontade de estar à frente das escolhas que fiz. Isso é o fundamental. Nem penso em demonizar o trabalho. Entretanto, costumo vê-lo sob lentes diferentes de muitas pessoas de quem li comentários essa semana. Mas enfim, cada um pensa de um jeito, né? rsrs Olha, tenho certeza que… Leia mais »
Falou o MMM brasileiro. Vc é o cara, meu !
Nem tanto, Vaga rsrs!
Abração!
Olá, André.
Esse conceito eu entendi desde quando comecei a buscar a IF. Sempre falo no blog que eu busco a Independência Financeira. FIRE pode acontecer ou não.
“Criar valor sem patrão, sem despertador, sem sujeitar nossa vida aos desejos dos outros. …e não há dinheiro que valha sua vida controlada pelos outros.” Você falou tudo nessas frases. Eu busco a IF para não sujeitar a isso. Quero ter mais liberdade.
Abraços!
É isso, Cowboy! Liberdade de escolha. Simples, mas muita gente não entendeu ainda.
Abraços!
Perfeito André. Achei mesmo que você precisava escrever sobre isso, já que tlvz seja um dos FIREs mais “antigos” da finasfera. Aliás, estou ansioso para escutar sua entrevista para o SRIF365. Está pensando nisso? Acho que contribuiria imensamente para a discussão.
Abcs e obrigado pelos backlinks.
Obrigado, AA40!
Bem, ele precisa me convidar, né rsrs?
Abraços!
Olha me parece que ele falou que não iria convidar para não pressionar ninguém e quem quisesse era para mandar um e-mail para ele.
Humm… vou analisar AA40!
Abraço!
Não precisa esperar o convite, ele estava procurando pessoas para entrevistar. Eu iria adorar ouvir sua história de vida!
Humm, quem sabe, Yuka?
Eu completo 10 anos de FIRE só em Março, será que deixo para lá ou entro em contato já rsrs?
Eu já fui no blog do Luís e pedi pra ele te convidar rsrsrs. Entra em contato… até sair a entrevista já vai ser março. 😀
🙂
André,
A sua própria vida após a IF ilustra bem a grande diferença que há entre IF e RE. Além disso, a aposentadoria não precisa ser necessariamente da forma como é compreendida no Brasil: pode sim ser uma fase muito útil, produtiva e significativa.
Boa semana!
Oi Rosana!
Sim, esse é o debate, que via como algo claro e óbvio, mas que não é muito compreendida, inclusive em parte da finansfera. Espero que as dúvidas fiquem mais esclarecidas com as postagens do AA40 e do Inglês.
Abraços!