Renda variável e renda fixa: qual é a mais tangível no dia a dia?


Por que há resistências em investir parte da carteira de investimentos em renda variável?
Quais as empresas que você conhece bem e pode sentir-se mais seguro para investir?
Veja alguns cenários em minha rotina e como a renda variável, definitivamente, faz parte dos ativos reais da vida.


Loja Hering Store: ações de empresas no nosso dia a dia

Por que há poucos investidores em renda variável no Brasil?

Atualmente há mais de 2,6 milhões de pessoas físicas com investimentos diretos em renda variável no país (junho/2020). Apesar grande crescimento nos últimos meses, ainda é um valor pequeno perto de nossa população de quase 200 milhões de pessoas. O espanto talvez sobrevenha de nossa base inicial muito baixa.

Ainda há um desconhecimento grande da maioria das pessoas em relação ao mercado acionário. É comum acreditar que os ativos são apenas papéis, sem ligação com o mundo real: coisas de “especuladores”. Esse conceito não está correto: ações de empresas e cotas de fundos imobiliários de tijolos são ativos muito mais reais do que o dinheiro que você mantém na poupança ou qualquer outra aplicação de renda fixa.

No sistema financeiro atual, o dinheiro que você possui investido em renda fixa é basicamente, virtual. Os bancos, devido a operacionalização das reservas fracionárias, possuem apenas um pequeno percentual de dinheiro disponível aos clientes em um mesmo momento. Em uma situação onde muitas pessoas desejem sacar o seu dinheiro ao mesmo tempo, pode significar tanto a causa como a consequência de uma grande crise financeira.

Assim, tais investimentos, assim como suas derivações, como fundos imobiliários de papel, são ativos muito mais intangíveis do que ações de empresas e fundos de tijolos. São, simplesmente, pedaços de papéis sustentados pela confiança. A situação fica ainda mais grave com a farra financeira que assistimos desde o começo da crise do novo coronavírus: dinheiro criado sem lastros e juros negativos.

Caso você tenha lido o texto que explico como fazer uma alocação simples de ativos em uma carteira de investimentos, percebeu que coloco as ações e fundos imobiliários em pilares diferentes, mas aqui eles são agrupados em renda variável em virtude simplesmente do fato das cotas… variarem.

Entretanto, a ideia não é preocupar ninguém. O sistema vem funcionando bem, com alguns soluços, por enquanto. O objetivo de uma alocação diversificada, com um efetivo rebalanceamento de ativos, é justamente equilibrar esses riscos.

A renda variável também pode incluir algum risco regulatório do direito de propriedade das cotas de ações ou fundo imobiliários, mas para tomarmos decisões corretas no âmbito dos investimentos, precisamos ter um mínimo de otimismo no sistema. Caso contrário vamos gastar tudo em suprimentos, armas e nos fechar dentro de nossa propriedade esperando o Armagedom. Não seria racional.

O mercado de renda variável está presente no nosso dia a dia

A ideia desse texto partiu de uma conversa do grupo do Facebook Suno Research. Em certa ocasião, o moderador perguntou para as pessoas como elas veem a renda variável em seu dia a dia. De fato, é um modo interessante para incentivar um maior conhecimento sobre os ativos.

Em meu caso, mesmo dentro do apartamento, tenho momentos que me permitem “analisar” prazerosamente alguns dos meus ativos. Gosto de deitar na rede na varanda para ler meus livros com tranquilidade no Kindle, para checar minha central de notícias particulares do Feedly e para meditar. Mas um fato sempre tira minha concentração e convoca minha atenção.

Moro perto de uma das malhas ferroviárias paulista, e a passagem do trem é um dos motivos para eu observar alguns de meus investimentos. Tenho participações na Rumo Logística, concessionária da malha ferroviária paulista e na Cosan, que usa parte da malha para o transporte de combustíveis.

Pode parecer besteira, mas sempre que estou na varanda, conto os vagões que passam. É uma forma de sentir-se próximo aos nossos investimentos e analisar, mesmo de maneira superficial, o desenvolvimento das empresas.

Em curtos passeios pela cidade é possível analisar outras presenças no mercado. Uma visita ao shopping Dom Pedro em Campinas, mostra o movimento do fundo de investimento imobiliário PQDP11, que possui participação no empreendimento. Um shopping que estava, antes da crise, sempre cheio com uma vacância baixíssima.

Uma vez um amigo abriu um quiosque no local e fiquei impressionado com o valor que pagava de aluguel. Algo absurdo para 10m2. Partiu daí a ideia de como ser sócio de shoppings poderia ser bom para sua carteira de investimentos. Vamos ver se o pós-crise ajuda a confirmar a tese.

Galpão centro de distribuição em Sumaré (SP) de propriedade do fundo imobiliário KNRI11 - Kinea
O PIB Sumaré, propriedade do fundo imobiliário  KNRI11, da Kinea

Dentro do shopping, gosto de passar na Hering, avaliar o movimento e, mesmo que não adquira nada, observo se as pessoas estão comprando e se são bem atendidas. Acredito que possuo esse olhar de “dono” desde meu antigo emprego, quando passeava pelas fábricas avaliando pontos de atenção, o que poderia ser melhorado etc.

Mais um exemplo: regularmente visito meus pais, onde, logo na entrada da cidade, existe um amplo galpão logístico de 13.600m2, arrendado para empresas como a Rápido Cometa, Arcelormittal, Itron e Saint-gobain.

Parece que a sensação de segurança financeira é maior ao passar ao lado de um grande empreendimento ciente de que recebo uma fração dos aluguéis que essas empresas pagam mensalmente ao Fundo de Investimento Imobiliário Kinea (KNRI11). O fundo é dono da totalidade do imóvel do qual sou cotista. Possuir tranquilidade com seus ativos é um fator importantíssimo para não perder dinheiro no mercado. Muitas besteiras são feitas na falta de confiança em seus investimentos.

Enfim, esses são pequenas amostras onde presencio mais de perto meus investimentos. Se considerarmos, uma vivência um pouco mais indireta, isso é, o contato com produtos e serviços das empresas que investimos, o leque amplia-se consideravelmente. Eu poderia considerar ainda a Vivo, Itaú e a Grendene, por exemplo. Afinal, minha sandália de dedo Ipanema não fica devendo para nenhuma Havaianas. O produto, além de barato, é tão bom quanto!

Vocês, leitores investidores, possuem sensações semelhantes? Quais são seus exemplos?

Claro que também é inevitável possuirmos participações em empresas cujos produtos e serviços não vivenciamos na prática, e isso pode ser bom considerando-se que temos que evitar aproximações excessivas que podem desembocar em decisões emocionais. Sobre isso, apenas mais uma consideração para fechar a postagem.

Apego pessoal à empresa não significa bons investimentos

Apesar da maior confiança em realizar investimentos em empresas tangíveis, onde usamos ou testamos seus produtos, ou ainda em fundos imobiliários próximos de nosso dia a dia, nem sempre isso é suficiente para obtermos sucesso no investimento. Eu pessoalmente aprendi isso da pior forma.

Uma das minhas maiores perdas em ações foi com uma empresa que admirava muito, consumindo regularmente seus produtos: a Sadia. Suas ações chegaram a cair 35% em um único dia em 2008 devido às perdas cambiais do departamento financeiro, algo totalmente externo à percepção que um consumidor pode ter da empresa. Mesmo depois, ela continuou definhando apesar do anúncio da compra da empresa pela Perdigão.

Sadia: um dos piores investimentos da minha vida!

Portanto, não se deixe envolver demais pelos relatos que faço das minhas observações no dia a dia das empresas em que invisto. O intuito foi apenas mostrar que investir em renda variável é um investimento do mundo real, de coisas tangíveis, que podemos usufruir sob várias formas. Ou seja, é um incentivo para agirmos em um próximo passo importantíssimo: a análise do valor real do empreendimento, e consequentemente, o preço que se paga por uma fração desses ativos.

A vivência diária nos permite receber boas informações sobre diversos fundos e empresas, mas é fundamental a análise financeira e fundamentalista do ativo. Mesmo excelentes empresas podem estar em um patamar elevado de preços para uma compra. Ou empresas que não sejam tão boas podem estar em um nível deprimido de preços onde uma compra pode até ser admitida. O estudo (ou a compra de estudos) sempre é necessário.

Dúvidas quando escolher a renda variável ou renda fixa? Veja o artigo “O que é melhor para seus investimentos: renda fixa ou renda variável?” e entenda os dois principais fatores que devem ser analisados antes de uma conclusão.

Nesse novo ambiente de juros baixos que promete (salvo bobagens realizadas pelos brasileiros nas eleições de 2022) ser mais duradouro, investir em renda variável será um diferencial na sua carteira de investimentos e essencial para sua independência financeira. Altos rendimentos com juros altos em renda fixa serão cada vez mais difíceis e essa nova condição exigirá um realinhamento em suas operações. Será que você está pronto para atravessar essa fronteira com sabedoria?

Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
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Danilo
3 anos atrás

Excelente post André.
Obrigado.

Forte abraço!

Renato
Renato
4 anos atrás

Pera ai, EUA sao 200 milhões mas poucos destes sabem que investem em RV. Eles tem o 401k, planos de previdência privada que qse todas empresas oferecem, nos modelos uqe po Guedes queria implantar.
Não que os americanos saibam ou investem na bolsa diretamente, estes não chegam a 5 milhões.

Simplicidade e Harmonia
4 anos atrás

André,

Muito interessante o seu post. Deve ser muito agradável sentar-se na varanda para ler, meditar e acompanhar os trens passando. Até por que, esse modal de transporte de carga sinaliza muito bem como está a economia do país.

“Apego pessoal à empresa não significa bons investimentos”.
Também há o apego às ações compradas. Por isso é muito importante que o lado racional sempre fale mais alto quando lidamos com investimentos.

Boa semana!

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