Finanças comportamentais: 11 vieses cognitivos


Como os vieses cognitivos das finanças comportamentais podem atrapalhar suas melhores decisões de investimentos, a remuneração de sua carteira e atrasar sua independência financeira?


Vieses cognitivos aplicados às finanças comportamentais: talvez esse seja um dos assuntos mais importantes para os investidores que buscam sua independência financeira e que ainda não foi tratado de forma exclusiva no blog. Embora já tenha citado anteriormente o trabalho de Daniel Kahneman, em seu excelente livro “Rápido e Devagar”, não entrei a fundo sob toda influência que sofremos que impedem uma análise racional de cada situação. Já era hora, não?

Quais são os vieses cognitivos das finanças comportamentais?

O desenvolvimento histórico das finanças comportamentais

Desde o começo do século passado existem pesquisadores que relacionaram a psicologia com agentes econômicos, como o jurista Gabriel de Tarde e Herbert Simon, ganhador do prêmio Nobel de 1978. Simon pregava que os homens-chave de uma organização tomavam decisões baseadas em simplificações da realidade, usando atalhos que nem sempre resultavam na melhor decisão (ou encontrar soluções simples para problemas complexos).

Na década de 70, o professor de psicologia Paul Slociv escreveu sobre o comportamento humano, tomada de decisões e percepção do risco. Richard Talher, em seguida, uniu de forma mais plena o conhecimento da psicologia com as finanças e a economia, vindo a receber em 2017 o prêmio Nobel e concluindo que as emoções são predominantes sobre o comportamento financeiro das pessoas.

Com trabalhos publicados desde a década de 70, dois psicólogos israelenses, Daniel Kahneman e Amós Tversky, democratizaram os estudos de finanças comportamentais através do livro já citado, e elaboraram a Teoria da Perspectiva, resultando no prêmio Nobel de 2002 à Kahneman (Amós faleceu em 1996). Veja como o assunto possui importância na economia: outro grande cientista da área, Robert Shiller, ganhou novamente o prêmio em 2013.

A teoria da perspectiva baseia-se na ideia de que as pessoas em geral, não possuem aversão ao risco em si, mas sim à perda. O risco, seria até aceitável quando fosse possível evitar uma perda. Esse processo pode ter sido determinante para a evolução e formação do intelecto humano, que através de milhares de anos, impulsionou nosso instinto emocional do qual ainda não conseguimos nos livrar mesmo após vários estudos mostrando a irracionalidade de algumas decisões que tomamos. Tudo isso consolidou-se em nosso modelo mental como vieses cognitivos.

O que são vieses cognitivos ou comportamentais?

Vieses cognitivos estabelecem padrões de decisões e julgamentos que se desviam de conclusões baseadas em evidências racionais. São influenciados por emoções e limitações do pensamento humano e prejudicam muito os resultados que poderíamos obter nos retornos de nossas carteiras de investimentos.

Muitas vezes, as pessoas usam de atalhos mentais (heurísticas) para simplificar um processo de decisão com uma complexidade muito maior, apoiando-se em generalizações perigosas ou falsas. Ao invés de usar o processamento cognitivo consciente (racional), pessoas criam determinadas estratégias baseadas em situações de incertezas, e passam a usá-los como regras de bolso que nem sempre funcionam.

“Quando tomamos uma decisão, enxergamos apenas o que queremos, ignoramos possibilidades e minimizamos riscos que enfraquecem nossas esperanças. O pior é que muitas vezes somos confiantes mesmo quando estamos errados”Daniel Kahneman

Por que é importante conhecer esses vieses cognitivos que se relacionam às finanças comportamentais e afetam nossas decisões? Simples: porque se você desejar um dia alcançar a independência financeira, precisa cuidar de uma das bases que sustenta esse objetivo: a rentabilidade de seus investimentos. Esses vieses podem ser um dos grandes vilões que o atrasarão nessa jornada. Vamos conhecê-los então?

Quais vieses cognitivos você possui?

Veremos abaixo alguns dos mais importantes vieses cognitivos e analisaremos como o investidor pode sofrer perdas caso não reconheça seus padrões. Ainda após vários séculos, o antigo aforismo “conhece-te a ti mesmo” ainda é uma das melhores maneiras de tornar nossa vida melhor.

1) Viés de ancoragem

Imagine que você tenha comprado uma determinada ação a R$ 30,00. O mercado financeiro cai, sua ação desvaloriza e está cotada agora a R$22,00. Apesar de possuir outras boas oportunidades do mercado, você mantém sua ação esperando “empatar” seu investimento: só vai vendê-la se voltar a R$ 30,00. O raciocínio inverso é também verdadeiro, quando o investidor se fixa em seu preço de compra e “vende” uma ação apenas porque ela já subiu bastante desse referencial.

Você sofre do viés de ancoragem. Ele ocorre quando utilizamos quaisquer dados como referência para a tomada de decisão, independentemente de serem relevantes na nova situação. No exemplo, o preço de compra “ancora” sua decisão de vender a ação. Uma das razões para termos esse pensamento é que nossa mente tende a avaliar de forma ineficiente as magnitudes absolutas, sendo necessário sempre um ponto de referência para basear suas estimativas e julgamentos. É um dos maiores problemas das finanças comportamentais.

Outro exemplo de ancoragem é com a dificuldade de algumas pessoas a se acostumarem com a nova realidade de juros reais no Brasil, antes o paraíso da renda fixa. Acostumados com os “velhos” 1% ao mês, muitas pessoas saíram dos ativos “esperando” que um dia aquela rentabilidade “ancorada” retorne. Com isso, ficam expostos em ativos mais arriscados buscando emular a rentabilidade de outrora. Novamente, um valor “fixado”, que não possui nenhuma lógica na análise atual.

A ancoragem é uma condição especial de priming, que afeta a estimativa de dados numéricos. Priming é o efeito decorrente da enorme capacidade associativa da nossa mente, que faz com que palavras, conceitos e números evoquem outros similares, um após o outro, numa reação em cadeia. O priming afeta não apenas o que você percebe, mas o que você faz, influenciando seus pensamentos e comportamentos por estímulos nos quais você não presta a menor atenção, e mesmo por estímulos dos quais não tem a mínima consciência.

Assim, investidores, questionem sempre suas premissas e não tomem decisões financeiras por impulso, sem base racional. Sua mente vai apelar sempre para o que estiver mais à disposição, e nem sempre será uma decisão a seu favor.

2) Viés do retrovisor (tendência à retrospectiva)

Pense na crise atual do novo coronavírus. Lembre-se que, já em dezembro, a China anunciava que estava com um surto de uma mutação do Covid. Ainda em janeiro de 2020, tanto ela como a OMS diziam que o vírus não era perigoso ou transmitido de humano para humano. Por que praticamente ninguém previu o tamanho do desastre que ocorreria, junto com o novo choque “negativo” no petróleo? Como isso poderia ser um gatilho para revelar outros problemas financeiros que já estávamos sofrendo?

Temos uma tendência a explicar eventos do passado como se fossem totalmente previsíveis antes de ocorrerem, o que explica o viés do retrovisor. É natural para os seres humanos criarem respostas fáceis para problemas complexos. E trazer de volta possíveis implicações futuras pelo que já ocorreu antes, é uma das formas mais fáceis de estar confortável consigo mesmo.

Finanças comportamentais: 11 vieses cognitivos 1

Hoje pode parecer óbvio que precisávamos estar menos confiantes. Percebe-se uma discussão de que deveríamos estar mais alocados em ouro e em dólar, e muitas pessoas não se conformam de não carregarem esses seguros. Isso caracteriza o viés do retrovisor, através da inclinação em aceitar mentalmente que elas não foram eficientes em proteger seu patrimônio, mesmo sem uma base objetiva para tal predição.

Esse viés das finanças comportamentais afeta nossa capacidade de julgamento, mostrando-nos uma visão irreal do acontecimento dos fatos passados. Por um lado, ele pode ser útil se aceitarmos que muitas coisas não são possíveis de prever, e, assim, nos preparando para o futuro incerto. Por outro lado, se sempre acreditarmos que podemos olhar o passado para prever o futuro, pode nos deixar desprotegidos, uma vez que nos sentimos capazes de saber o que ocorrerá logo adiante. Sugestão? Mantenha o portfólio bem equilibrado, com uma exposição bem balanceada em diversos ativos!

3) Aversão à perda

Já nos dizia Kahneman que a aversão à perda está embutida na essência da humanidade, e ela leva a tomarmos decisões erradas quando somos influenciados por esse viés. Seus estudos com Amós Tversky mostraram que a dor da perda é psicologicamente duas vezes mais poderosa que o prazer de ganhar, induzindo as pessoas a frequentemente a correr mais riscos no intuito de tentar reparar eventuais prejuízos.

Se sofremos desse mal das finanças comportamentais, tendemos dar um peso maior a elas do que aos ganhos em uma operação. Isso provoca uma assimetria irracional, fazendo-nos tomar decisões incompatíveis com a lógica. Imagine que você tenha estudado uma ação e comprou-a a R$10,00. Ela caiu e a dor da perda faz com que você, na tentativa de evitá-la, compre mais ações (o famoso preço médio) para recuperar seu capital adiante, mesmo que a empresa não seja mais uma boa alternativa de investimento.

Ou então, você não faz nada. Mantém uma empresa sem futuro na sua carteira de investimentos esperando, quem sabe um dia, que ela volte ao preço que pagou. É o viés da perda atuando com o viés de ancoragem, através do medo da dor de realizar prejuízo, seja pela recusa em admitir eventuais erros na escolha da aplicação.

Liquidar excelentes posições precipitadamente apenas para garantir o lucro é outra forma de atuação do viés de aversão à perda, quando a atitude é originada pelo medo do investidor em perder o que já foi ganho. Veja que são casos bem diferentes de vender uma posição muito lucrativa para rebalancear seus ativos ou quando uma nova análise mostrou que a ação já não era tão atrativa. Nessas, há a atuação de uma estratégia racional, e não o receio de perder seu lucro.

Assim, antes de vender ou reforçar uma posição, avalie se a decisão surgiu por uma análise sensata da situação ou se é uma escolha baseada na estratégia que estabeleceu previamente para sua carteira de investimentos. Evite simplesmente as atitudes que expõem um desejo de recuperar ou evitar prejuízos.

4) O comportamento de manada

Se você já tomou alguma atitude porque “todo mundo” está fazendo o mesmo, você agiu através do comportamento de manada, um viés bem clássico nas finanças comportamentais.

A tendência de seguir o consenso encontra ecos na evolução humana. Imagine que, em muitas situações, nossos ancestrais se salvaram porque começaram a correr assim que via alguém correndo, mesmo não sabendo o motivo. Isso pode ter preservado milhares de pessoas que poderiam ter sua vida interrompida pela boca de um grande felino.

Vemos isso naturalmente em nosso dia a dia. Esquecemos um pouco a quarentena e lembremos de quando saíamos para jantar fora, sem rumo definido. Você não evitava restaurantes que parecessem muitos vazios e escolhia aquele que estava mais frequentado? Ele parecia melhor não? Comportamento de manada na veia!

Embora essa até que possa ser uma escolha com resultados lógicos, nos investimentos as coisas são um pouco diferentes. Existe uma figura clássica que ilustra o comportamento de manada no mercado financeiro, provavelmente você já tenha visto ela por aí:

Mercado financeiro: excel, sell, good bye, buy (finanças comportamentais)

Antes de tomar uma decisão no mercado financeiro, lembre desse viés das finanças comportamentais e avalie os fundamentos que estão levando a essa escolha. Em alguma medida, você está agindo porque outras pessoas estão fazendo o mesmo? Ao invés de abraçar a ganância, o medo e a irracionalidade dos agentes econômicos, use suas próprias análises e conclusões. Tome decisões independentes, com responsabilidade e seja um protagonista em sua carteira de investimentos.

5) Falácia do jogador

Os analistas técnicos que me perdoem, mas atualmente, enxergo parte das premissas da análise gráfica como um viés da falácia do jogador (ou apostador). Ele é entendido pela dificuldade de entender a interdependência estatística dos acontecimentos e calcular a probabilidade de ocorrer novamente.

Graficamente, significa procurar padrões e figuras históricas e prever o próximo passo nos preços do ativo. Nada diz que isso vai ocorrer novamente. Acredito que a formação dos gráficos é muito mais uma consequência do wishful thinkjng de grandes players e não uma situação que se materializaria caso não fosse acompanhada.

Nos preços dos ativos, pode ocorrer algo semelhante. Imagine uma ação que se valoriza dia a dia. O viés da falácia do jogador pode influenciar o investidor a vender a ação, uma vez que, com todo esse período de alta, haverá um novo período de queda. Isso pode ser ou não verdade, mas tal fato está correlacionado ao seu valor intrínseco, aos resultados da empresa e outras influências reais. O raciocínio inverso, para uma ação que está caindo, também é válido. Quem tende a pensar em “reversão à média” deve estar atento a esse viés.

Assim, é importante o investidor conhecer um mínimo de conceitos de probabilidade para entender esse viés das finanças comportamentais. Em eventos interdependentes, as chances de ocorrer algo são as mesmas, independentemente do que ocorreu no passado.

6) Viés de disponibilidade

O viés de disponibilidade, tratado em alguns textos como uma heurística (atalhos mentais), enquadra-se muito na ideia de um texto que escrevi há um tempo sobre o nosso “menu de investimentos“. Muitas vezes, a melhor opção de investimento não está nas alternativas que temos a nossa disposição no momento. Precisamos rechear nosso “menu” para podermos escolher as melhores opções.

É disso que se trata esse viés das finanças comportamentais. Muitas vezes encontramos exemplos ou eventos que nos vêm à mente, que são usados prontamente nas tomadas de decisão. Vai analisar uma ação? Após dissecar seus balanços recentes, você pode ser tentado, apenas com essas informações, a investir no papel apenas com base no que você se dispôs a analisar.

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Porém, pode ter algo que você não tomou conhecimento, seja na análise da governança, vendas de ações de controladores, ou projetos de lei tramitando na câmara federal que poderão influenciar a empresa. Sem estar ciente das informações que você NÃO tem, você toma a decisão apenas com o que possui, com o que está disponível a você.

Assim, evite o pensamento WYSIATI (“what you see is all there is“), também citado no livro de Kahneman. Ele funciona apenas com o sistema 1 de seu cérebro (rápido, automático, inconsciente e não racional) e significa que você não permitirá a entrada daquilo que não conhece.

7) Viés de confirmação

Quem acompanha discussões políticas no Brasil não terá dificuldade de entender esse viés das finanças comportamentais. Com a polarização atual, você percebe que ambos os lados buscam apenas informações que comprovam o seu próprio e imaculado ponto de vista. Ideias que demonstram o contrário não são consideradas.

Entre muitos investidores, a situação não é diferente. Se alguém comprou cotas de um fundo imobiliário, é possível que investiu apenas baseado em informações que corroborassem sua decisão, ignorando, muitas vezes inconscientemente, dados contrários à sua tese de investimento.

A pessoa que sofre o viés de confirmação possui a tendência de dar atenção a informações que comprovem suas próprias convicções. Assim, se acredito na tese da ação XPTO, tendo a dar mais importância às notícias que ratificam a minha ideia, e não àquelas que tragam uma discordância, levando a uma análise parcial dos fatos.

Esse viés expõe a tendência da mente humana em desprezar dados que sejam aversos ao que pensa, uma vez que alinhar interpretações antagônicas exige esforço mental. Assim, tendemos a ignorar aquelas alternativas no intuito de simplificar nossas escolhas.

Logo, quando estiver procurando oportunidades de investimento, cuidado com as informações que rapidamente apoiem sua crença inicial. Duvide e procure outras opiniões em diversas fontes. Mesmo que você sinta que tem uma tendência a acreditar na empresa, atribua o mesmo peso a ambos, buscando um equilíbrio em sua decisão. Debata com pessoas que pensem diferentemente de você.

Não agir sensatamente nessa análise pode provocar decisões erradas, seja na entrada de um papel como na decisão de mantê-lo ou vendê-lo posteriormente.

8) Lacunas de empatia

Originalmente em inglês, esse viés é conhecido como hot-cold empathy gaps, que procura entender como interpretamos acontecimentos que podem estar relacionados ao nosso estado emocional. O “hot” e “cold” sinaliza nossos altos e baixos, e oculta a importância, o papel e a intensidade das emoções em nossas decisões financeiras.

No estado “frio”, sem a presença de fortes emoções, podemos tomar decisões mais racionais, como, por exemplo, determinando o preço de saída de um ativo que acabamos de comprar. Quando ele atinge esse limite, é possível que estejamos, seja por motivos diretos ou indiretos à operação, em um estado emocional mais “quente”, sem a serenidade necessária para tomar a decisão correta, prejudicando nossa estratégia inicial.

Esse viés das finanças comportamentais pode estar associado com outros vieses, como a falácia do jogador e o comportamento de manada, embora sua manifestação decorre, principalmente, por distúrbios emocionais. O investidor deve estar atento para não despertar esse estado, ou, ao menos, conscientemente, não tomar decisões de investimentos nessa situação.

Algo que faço para ajudar a evitar essas mudanças de atitudes é criar alertas de preços de compra e venda de ativos em meu home broker da Socopa. Esses valores são definidos no estágio “cold“, com a devida racionalidade. Quando o alerta pipoca, apenas avalio se algo mudou nas minhas considerações anteriores e faço a operação.

É verdade que, nesse ínterim, posso ser acometido por outros vieses das finanças comportamentais, mas, felizmente, a maioria das ordens são feitas sem muita hesitação. O importante, ao final, é evitar tomar decisões financeiras no calor de um momento onde outras variáveis possam estar influenciando suas ações.

9) Substituição de atributo

Daniel Kahneman explica esse viés menos conhecido das finanças comportamentais quando substituímos uma pergunta ou resposta por outra. Em debates políticos, ele é muito conhecido como a criação de um espantalho, embora que, nesse caso, torna-se uma ação deliberada do debatedor que não tem uma resposta adequada e responde algo que ele domina, mesmo que o interlocutor não tenha entrado na questão específica.

Nos investimentos, isso pode ser nocivo quando tendemos a acreditar que existem respostas fáceis para questões mais complexas. As heurísticas (atalhos mentais) são um fator-chave para cairmos na falácia da substituição de atributo e acreditar que encontramos a solução de um problema mais difícil.

Isso pode ser perigoso quando, analisando balanços de empresas, encontramos entrelinhas suspeitas de operações que não dominamos completamente. Se procurarmos atalhos visando explicações simples do possível problema, estaremos cometendo um grande erro de avaliação. Associando-o adicionalmente ao viés de confirmação, estamos a um passo de uma grande besteira…

10) Autoconfiança excessiva

Temos visto anteriormente que muitos vieses podem existir concomitantemente aos outros. A autoconfiança excessiva pode estar associada nas finanças comportamentais com vários deles, como o viés da confirmação, do retrovisor ou da falácia do jogador.

É fácil entendermos como as pessoas confiam excessivamente em si mesmas. Você já viu aquela pesquisa onde a maioria dos motoristas disse que possui habilidade de direção acima da média? Quando ouvimos gestores de fundos de investimentos temos essa mesma impressão. Mas a verdade é que apenas 50% podem estar acima da média…

Cuidado ao confiar excessivamente em suas opiniões. Questione sua competência naquele assunto e considere sempre a chance de estar errado. Lembre que, sempre que você colocar uma ordem de compra ou venda, há uma pessoa do outro lado fazendo exatamente o oposto que você. Limite sempre suas posições e mantenha sua carteira de investimentos diversificada.

11) Efeito de enquadramento

Você investiria em um ativo que tivesse 20% de chance de alta valorização? Sua resposta mudaria se eu dissesse que ele possui 80% de probabilidade não se valorizar? Claro, as informações são as mesmas, mas a forma como enquadramos a mensagem, valorizando determinada característica, pode ser crucial para a tomada de decisões. Somos assim, afetados pelo viés de enquadramento.

O modo como o problema é apresentado muda a percepção sobre um assunto. Vemos isso diariamente em notícias dos jornais. Quando desejam falar mal do governo, usam de palavras e torturas estatísticas para apresentar um quadro negativo. Quando há alguma notícia boa, procuram entrelinhas para não divulgá-la de forma tão positiva.

Isso também pode ocorrer quando lhe oferecem algum novo investimento. Lembra dos COEs, que saíram um pouco de moda? A forma de apresentação é sempre retratando o aspecto positivo, as vantagens e os baixos riscos. Não são informações falsas, mas vistos sob esse enquadramento, pareciam investimentos vantajosos.

Quando se deparar com alguma proposta, avalie as informações por ângulos diferentes, questione as suposições, examine e julgue procurando não ser influenciado por nenhum dos vieses das finanças comportamentais que foram aqui tratados.

Afinal, como escapar dos vieses das finanças comportamentais?

Muitas formas de blindagem já foram comentadas em cada um dos itens, mas o principal é saber que eles existem e influenciam suas decisões, seja você um investidor novato ou já tarimbado. Saber que estamos sujeitos a esses vieses torna as coisas muito mais fáceis, corrigindo erros de raciocínio e aumentando as possibilidades de sucesso a longo prazo.

Evitar tais vieses nos torna mais bem preparados a enfrentar os desafios diários, sejam financeiros ou em outras áreas da vida. É essencial que evitemos tomar decisões financeiras em tempo de estresses, uma vez que ele é um elemento desagregador do pensamento racional, abrindo as portas para os atalhos mentais falaciosos atuarem.

Ao final de contas, para sermos mais felizes e prósperos não há a necessidade de brilhantismos: basta apenas sermos menos irracionais, concordam?

Eu já comentei que sofri muito com o viés de ancoragem, e ainda tenho uma fraqueza com ele. O viés de confirmação e as lacunas de empatia às vezes ainda me perturbam. Como minha cabeça também pensa muito na tendência do preço das ações voltarem-se às suas médias, posso sofrer também uma influência da falácia do apostador.

E você? Já teve uma atuação influenciada por alguns deles? Faz algum esforço frequente para não cair em alguma dessas armadilhas?

Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
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LEOBINO BARROSO DE ARAUJO
LEOBINO BARROSO DE ARAUJO
4 anos atrás

ótimo texto andré. Fico com a impressao que a estratégia de alocação de ativos é uma otima blindagem contra os vieses, ja que tira um pouco do efeito emocional da decisao.

Mente Investidora
4 anos atrás

Puxa, André! Sempre se superando… Parabéns! Ótimo artigo. Obrigado.

FIRE Jovem
4 anos atrás

Excelente texto, li o livro Rápido e Devagar recentemente e o post foi uma ótima forma de relembrar os conceitos. Particularmente acho que estou bastante exposto ao viés de ancoragem, costumo olhar uma boa parte da minha carteira de ações baseado no seu ‘potencial de valorização’ que, na minha cabeça, seria atingir os preços antes da queda do coronavírus… Mas a realidade é que nada no mundo garante que os preços voltarão aos patamares anteriores. Recentemente deu pra ver bem o papel do viés de confirmação no rolo da IRBR3. O pessoal que não vendeu a ação buscava desesperadamente boas… Leia mais »

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