Fazendo dinheiro: vendendo o segundo carro e investindo

Já li em algum lugar que uma das formas de conseguirmos mais dinheiro para investimentos é vender o que não usamos mais e aplicarmos o dinheiro, de forma que ele se multiplique, seja através de juros ou dividendos.

Levei à prática essa máxima: vendi meu segundo carro. As conversas que tenho tido na empresa demonstram que ela aderirá em definitivo, ao menos parcialmente, ao home-office. Convenci a família a usar esse privilégio que tenho em prol de nosso futuro. Foi meio difícil, mas acabaram aceitando.

Vendendo o segundo carro

Nossas desvantagens em vender o segundo carro

Nada vem sem consequências. O segundo carro era usado pela minha esposa para compras aproveitando, eventualmente, para levar os filhos ao colégio. Eventualmente porque a distância da escola são de apenas vinte minutos de caminhada, e muitas vezes, eles faziam o percurso caminhando. Não sei direito se as “compras” eram simplesmente uma desculpa para levá-los (e sair um pouco de casa), pois quase todo final de semana saíamos para fazer compras volumosas…

A primeira desvantagem clara é que eles não terão sempre um carro disponível. Meus filhos terão que caminhar com mais frequência – algo que não acho tão ruim, mas não me impediu de ouvir reclamações. Sugeri a eles se atualizarem com o conteúdo de seus podcasts durante a caminhada. Assim, vinte minutos passam voando, não?

Minha esposa também não gostou: afinal, ela perde um pouco sua liberdade de sair quando desejar. Porém, considerando que não moramos no final do mundo, o sacrifício não é tão grande. Temos em um raio de 10 minutos minimercados, farmácia e hortifrúti. Não dá para alegar morte por inanição.

No fundo, eu também estou ciente que deverei fazer algum sacrifício. Em dias escolares chuvosos, por exemplo, se eu precisar sair posso usar um Uber e deixar o carro para ser usado em prol dos filhos, por exemplo. Ou em outra situação semelhante em que algum deles precisem do carro.

Esses foram os argumentos contrários que ouvi. Mas depois, eles ouviram meus argumentos a favor da venda do carro.

As vantagens em vender o segundo carro

Bem, e como convencê-los a aceitarem a venda? Afinal, suas mentes cômodas com a atual situação os impediam de avaliar os benefícios que podemos usufruir em família. É claro que usei o assunto de nossa segurança e independência financeira. Fiz algumas estimativas rápidas para mostrar a eles o quanto isso pode nos auxiliar no futuro.

Primeiro, perguntei a eles se sabiam o custo que segundo carro nos tragava ano a ano. A conta “combustível” sempre é a primeira a ser lembrada, mas é a menos relevante, pois, se precisarmos usar um Uber, ela se anula totalmente. Minha esposa lembrou do IPVA anual, que, com o seguro e licenciamento, nos debitava quase R$ 2.000,00 por ano. Ok, esse é um valor importante, mas os maiores custos, sempre negligenciados, são a depreciação e o custo de oportunidade.

Compramos o carro há dois anos por R$ 52.000,00 e vendemos agora por 41.000,00. Uma desvalorização de mais de 21%, ou R$ 5.500,00 por ano. Quando citei esse número, perguntei a eles o que poderíamos ter feito com mais 5.500,00 por ano e eles ficaram quietos, pensando… Falamos um pouco sobre esse conceito de depreciação e de como devemos evitar comprar coisas caras para que não percamos tanto dinheiro aos anos.

Comentei também o conceito de custo de oportunidade. Se tivéssemos investido aqueles R$ 52.000,00 dois anos atrás em um investimento que pagasse ao menos 5% de juros anuais, teríamos mais de R$ 60.000,00 investidos. Ou seja, mais de R$ 4.000,00 por ano.

Somando os dois conceitos – depreciação e custo de oportunidade, teríamos quase R$ 10.000,00 a mais por ano, muito mais do que os impostos ou quaisquer outros gastos que o segundo carro nos drenava. É algo muito considerável, não? Até eles ficaram surpresos. É um grande exemplo de como a matemática financeira pode abrir os olhos até de pessoas não afeitas a papos de finanças…

Destino do dinheiro da venda

Combinei com eles o destino dos R$ 41.000,00 recebidos pelo carro. Achei por bem que, para convencê-los, precisava alinhar uma ideia em que todos receberíamos alguma vantagem, mesmo porque, todos arcaremos juntos com a consequência da venda do segundo carro.

Dois meses atrás, comentei que estava na etapa de completar minha reserva financeira. Pois bem: usei R$ 21.000,00 desse valor para finalizá-la. Etapa cumprida! Fiz questão de reafirmar a todos por aqui que esse dinheiro agora só será sacado em emergências. Sem choros nem dó.

Com os R$ 20.000,00 restantes, fiz a seguinte divisão:

  • abri duas previdências para cada filho no valor de R$ 5.000,00 cada;
  • usei os R$ 10.000,00 restantes para iniciar minha carteira de investimentos com base em ETFs.

A primeira resolução foi acompanhada de mais cálculos de juros compostos, que peguei o jeito de fazer rapidinho na HP12C e passei a eles para gerar interesse. Mostrei quanto eles teriam em 30 anos se depositassem mensalmente 100, 200 ou 300 reais em cada conta. A diferença é gritante. Até eu ainda me surpreendo com os juros compostos e como eles são os maiores aliados da independência financeira.

Quando à carteira de investimentos, pedi ajuda a todos para me ajudar a gerenciá-la. Até porque quero deixar um legado familiar de aprendizado de todo o conhecimento que tenho adquirido na área. Comecei pequeno, abrindo uma conta em corretora de valores e comprando, em proporções quase iguais, o BOVV11, IMAB11 e IVVB11. Mas ainda vou diversificar mais.

O que a venda de um segundo carro não faz hein? De uma pessoa que não tinha nem completado sua reserva de emergência para um investidor iniciante! Talvez esse post marque minha entrada no processo de liberdade financeira, embora eu acredite que o significado de minha aposentadoria seja algo diferente.

Será que você, que ainda não tinha iniciado sua carteira de investimentos, não tem um segundo carro aí na sua garagem? Sua venda pode marcar a virada de sua vida, não acha?

A partir do final de março de 2020, esse blog passou a ter mais de um autor. Seu nome aparece sempre abaixo do título da postagem. Cuidado para não fazer confusão 🙂
Veja a nova ideia editorial e acesse seus perfis nessa página.

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Viver Sem Pressa
3 anos atrás

Parabéns Bansir!! Achei legal não só pela venda do segundo carro, mas por ter feito uma coletiva de decidir em conjunto o destino do dinheiro. Assim, esposa e filhos aprendem um pouco sobre a importância do planejamento e da educação financeira. Muito bom!!!!

Casal Holder
3 anos atrás

Que bacana ver que está progredindo na educação financeira da sua família! E, na nossa opinião, da melhor forma: agindo; não se contentando em ficar apenas na teoria!
Também estamos iniciando na jornada rumo à liberdade financeira, e ver relatos como os seus é inspirador! Sucesso para todos nós!

Maicon
Maicon
3 anos atrás

Ótimas decisões, realmente fizeste uso de muitos “soft skills” para convencer sua família, mesmo quando cada um tem apenas o seu próprio interesse em mente. Fiquei um tanto desconfiado quando fizeste menção a iniciar uma carteira de ETFs. Espero que esteja se referindo a ETFs americanos, já que os disponíveis no Brasil sao fraquíssimos, tirando ivvb11, bova11 e smal11 o restante não cumpre um papel muito significativo na carteira. Além de nenhum ETF BR pagar dividendos, isso já faz uns enorme diferença no longo prazo, como você demonstrou na HP aos seus filhos. E não me venham com aquele papo… Leia mais »

LER E POUPAR
3 anos atrás

Bansir, ótimo que tenha feito isso.

O mais importante e difícil é lidar com as expectativas da família. Que todos entendam a responsabilidade de cada e o porquê das decisões.
Nem tudo é democrático – nem deve ser. Mas dialogar com sabedoria é melhor do que impor sem nenhuma conversa.
Fica muito mais fácil quando há cooperação e envolvimento de todos. Se não houver cooperação, decida do mesmo jeito.
Acho que fez muito bem.

Boa sorte.

Danilo
Danilo
3 anos atrás

Ótimo post Bansir.

Meus parabéns, achei legal de ter feito tudo com a participação da família. Bom que assim, além de investir, acabou dando uma aula de finanças para eles também rs. Trocou um passivo por ativos…

Abraço.

Anônimo
Anônimo
3 anos atrás

Muito bom, eu passei pela situação de pensar em comprar o segundo carro, usei o uber por 1 mês e ai veio o corona, e desisti prontamente. Era a situação de buscar a filha na escola e só. Tinha cogitado trocar de carro por um mais econômico, também prontamente descartado. Meu custo de combustível é de 200,00 (era de 400,00), carro de 25 mil e imposto na casa de 700 anuais. Assim vai continuar. Parabéns por ter atitute!

Gabriel
Gabriel
3 anos atrás

Interessante como abriu todas as cartas na mesa e explicou os prós e contras pra toda a familia, sucesso nessa sua empreitada. A respeito do imab11, apesar da diversificação que ele gera na sua carteira de renda fixa, você já parou pra pensar quando sua carteira se tornar mais volumosa? digo isso porque o imab11 cobrará imposto em cima da operação, caso queira se desfazer de imab11 e outros ativos no mesmo mês seu lucro sera comido pelo governo.

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