Qual sua taxa de inflação real?
Ela é determinante para a segurança de sua independência financeira?
Ou a inflação do estilo de vida se sobrepõe a essa preocupação?
A inflação sempre causa preocupação para quem está investindo seu patrimônio pessoal, não é mesmo? Com razão: precisamos analisar a evolução das rentabilidades de nossas carteiras de investimentos sempre em termos reais e líquidos, ou seja, considerando a taxa de inflação no cálculo.
Se você está falhando nessa contabilização, é hora de corrigi-la o mais rápido possível para construir uma visão real de onde está e quando chegará em seus objetivos.
É verdade que ela não assusta mais quanto nos anos 80 e 90 do século passado, quando comecei a manipular meus primeiros trocados. Quem viveu aquela época, sabe que era praticamente impossível pensar em investir no mercado financeiro.
Assim que recebíamos o dinheiro em vale-refeição, por exemplo, precisávamos correr no supermercado para gastar tudo no mesmo dia, pois no dia seguinte, os preços já aumentavam. Com o salário não era diferente: precisávamos comprar algo rapidamente, até porque o acesso a investimentos minimamente razoáveis era escasso.
Mas atualmente, qual o tipo de inflação com que um aspirante à aposentadoria antecipada deve se preocupar mais? Será que é mesmo a inflação dos preços?
Inflação e rendimentos reais
A taxa de inflação oficial no Brasil tem estado mais comportada nos últimos anos, embora ainda acima da média dos países mais desenvolvidos. Em quase 4 anos, desde o início de 2017 até setembro de 2020, o IPCA acumulou uma valorização de pouco mais de 12%. Parece pouco para o período, mas a longo prazo, isso significa uma corrosão importante para o patrimônio, caso sua rentabilidade não supere o indicador.
No momento que escrevo, há muitas dúvidas se a política de juros baixos do Banco Central será efetiva para mantê-la no controle por muito tempo. Muitos dizem que há preços represados, evidenciados principalmente por um outro indicador de inflação, o IGP-M, que vem batendo recordes nos últimos meses em função da alta do dólar e inflação no atacado.
O fato é que as pessoas que buscam conquistar sua independência financeira precisam sempre considerar esses números em seu planejamento pessoal. Ou então, considerar como meta de rentabilidade sempre um número líquido, acima da inflação do período considerado. Apenas assim haverá sustentabilidade real no projeto.
Eu, particularmente, defino antecipadamente minha TNRP, a taxa necessária para remuneração do portfólio, como uma taxa real, sem considerar a inflação. Mensalmente, quando apuro todas as rentabilidades das carteiras de investimento, comparo-as com um indicador de inflação mais um prêmio (IPCA + 5%). Só assim estou ciente de que o patrimônio está performando de forma correta.
Inflação pessoal x inflação do estilo de vida
Existe, porém, uma particularidade que cada pessoa deve avaliar em relação à inflação: a participação que ela define em suas despesas mensais e as consequências ao seu portfólio.
Eu confesso que não faço nenhum cálculo mirabolante, mas tenho uma opinião bem consolidada sobre o assunto. Meu diagnóstico é que, em meu caso, a inflação dos últimos 4 anos é bem mais baixa do que o índice oficial.
Isso pode ocorrer por uma queda relativa em produtos e serviços que continuamos a usufruir, ou pela queda de nossa inflação pessoal.
Inflação pessoal
Acredito que a percepção de minha inflação pessoal ser menor do que os índices oficiais vem primeiramente em virtude da negociação de meus aluguéis. Estou já no terceiro contrato em meu condomínio, e em todas as negociações, reduzimos o preço para baixo.
Avaliando o que pago hoje e o que pagava há 5 anos atrás, estou dispendendo mensalmente 80% do valor original (deflacionado pelo IPCA). Como o aluguel é uma despesa com participação razoável no orçamento, sua redução ajuda muito a percepção de que nossa inflação subiu menos do que os números oficiais.
Quando analisamos um estudo mais longo, de 20 anos, sinto-me um privilegiado. Todas as categorias que subiram mais do que a média do índice de inflação não são despesas significantes para mim. Nesse histórico, os serviços médicos, energia elétrica, transporte público e educação formal são as categorias que mais colaboraram com o índice.
Dos itens acima, apenas a energia elétrica poderia colaborar com algum aumento significativo, mas, como nosso consumo mensal é baixo, seus aumentos acima da média não interferiram em um percentual considerável no orçamento.
Assim, procure avaliar, para sua realidade, qual sua situação perante os índices de inflação. Se começar a perceber que a sua inflação pessoal está muito acima da inflação média, talvez seja hora de aumentar um pouco o sarrafo em suas metas de rentabilidade, para que não surjam surpresas no futuro.
De qualquer forma, a inflação mais perigosa para sua independência financeira não é a inflação pessoal, mas sim a inflação do estilo de vida. E, nesse ponto, há várias observações que podem ser feitas.
Inflação do estilo de vida
Se não podemos controlar nossa inflação pessoal diretamente, a inflação do estilo de vida coloca você no papel de protagonista na definição de suas despesas. Aqui você tem o poder de se aposentar mais rápido se não cair nas tentações de consumo desnecessárias.
Vou procurar exemplificar o conceito com algumas mudanças que fiz nos últimos anos que diminuíram muito minhas despesas.
Tv a cabo
Anos atrás eu assinava TV a cabo. Com a profusão de opções de streamings atuais, não vale mais a pena. Você pode assinar dois ou três serviços, por um valor bem menor do que a assinatura anterior. Eu, pessoalmente, uso uma assinatura familiar da Netflix e o Prime Vídeo.
A diferença entre o que pago e o que pagava anteriormente, conferidos a preços de hoje, resulta em um total mensal de R$ 60,00. Vamos capitalizá-lo no mesmo período que citei do aluguel (5 anos), a 0,5% ao mês, a economia totaliza um valor de R$ 4.200,00. Nada mal, né? É um bom exemplo de desinflação do estilo de vida.
DVDs
Quem já não comprou DVDs nas Lojas Americanas? Eu cheguei a ter mais de 200 DVDs na minha estante. Ah, se soubéssemos que o streaming estava chegando…
É verdade que esse acúmulo ocorreu antes dos últimos 5 anos, mas é outro exemplo de como nossa inflação de estilo de vida pode diminuir. Se eu tivesse continuado a manter esse padrão de consumo, provavelmente estaria comprando hoje uns 3 DVDs por mês, ou seja, uns R$ 70,00 mensais. Em 5 anos foram R$ 4.900,00 economizados. Totalizando, até então, R$ 9.100,00.
CDs
Eu nunca fui um fã de CDs, embora já tenha comprado vários. Mas um cálculo similar aos DVDs poderia ser feito por um aficionado da música. Quantos CDs você já comprou na vida? E hoje? Quanto você paga pela assinatura de um streaming de música? Ou não paga?
Eu não pago nada a mais por isso, pois ouço o Prime Music, na mesma assinatura do Amazon Prime. Se eu fosse um consumidor de discos, poderia incrementar ainda mais a economia que teria na minha inflação do estilo de vida dos últimos anos.
Mensalidade de celular
Há um tempo, eu possuía um pós-pago. Depois, mudei para uma assinatura “controle”, uma mistura de pré com pós-pago. Depois, usei o pré-pago puro, mas ainda tinha que fazer um recarregamento periódico de créditos, pois eles “venciam”. E, como uso muito pouco, ficava acumulando créditos mensalmente que nunca usaria.
Hoje uso o Vivo Easy para minhas duas linhas. Nesse plano, você compra pacotes de internet e voz, e eles não vencem. Ele ainda permite que você utilize seus créditos anteriores (no caso de um pré Vivo), o que permitiu que minha migração fosse praticamente sem custo. Se você se interessar e não tiver um código de desconto, use o DALI00 que ambos ganhamos alguns mimos a mais. 🙂
Como mudei de planos nos últimos anos, o cálculo de economia terá que ser uma estimativa. Digamos que eu tenha gasto, em média, cerca de R$ 50,00 por mês com ambas as linhas, e hoje, acredito que vou gastar os mesmos R$ 50,00 em um ano. A diferença é de R$ 46,00 por mês. Capitalizando em 5 anos, temos o valor de R$ 3.200,00. Somando-o à economia proporcionada pelo streaming, já somamos R$ 12.300,00.
Livros
Sempre li muito. Comprava livros de monte, aproveitando frete grátis de grandes lojas de comércio eletrônico. Antes de iniciar a doação do acervo, contei quase 400 unidades.
Hoje só consumo livros eletrônicos, na tela do meu Kindle. Tenho comprado muito pouco ultimamente, visto que aproveito para ler os melhores que estão no catálogo do Prime Reading, que tenho acesso pelo Amazon Prime (mesmo serviço que me disponibiliza o Prime Video).
Acredito que a maior parte de minha biblioteca (cerca de 300 livros) tenha sido criada em 15 anos. Ou seja, 20 livros por ano. Considerando um custo médio de R$ 40,00 (livros físicos sempre foram mais caros), gastei cerca de R$ 800,00 anuais.
Hoje não gasto praticamente nada. Compro eventualmente alguns livros eletrônicos em promoção na Amazon e leio os disponibilizados na plataforma. Arrisco a dizer que gasto cerca de R$ 50,00 ao ano.
Para manter o padrão das comparações anteriores, em 5 anos deixei de gastar R$ 3.750,00. Acumulando, um total até agora, de R$ 16.050,00.
Economia de combustível
Temos aqui algo mais difícil de calcular, mas será que alguém duvida da economia de combustível que nos proporciona o Google Maps? Vocês já se colocaram na situação de não encontrar o caminho correto para um lugar, dar voltas, parar para perguntar para o frentista, ou então para aquela velhinha que apontou o caminho errado?
Quase chegando no lugar, percebeu que a rua que pretendia entrar era contramão e deu mais uma volta no quarteirão para encontrar o caminho correto? Ou então, entrou em uma rua na contramão e percebeu que o número que procurava era para o lado contrário?
Louvo o Google Maps. Não saio de casa sem usá-lo se for para algum lugar desconhecido. Fico imaginando o quanto ele já me economizou de combustível e manutenção do carro. Sim, é difícil colocar esse valor no papel. Mas, mesmo assim, quis deixar registrado como mais um exemplo de redução de inflação do estilo de vida.
DVDs, pendrives e HDs para back-ups
Imagine um mundo sem DVDs e pen-drives? Sim, agora temos a “nuvem”. Podemos guardar nossos arquivos digitais no Google Drive, no OneDrive, no Amazon Drive ou no DropBox. Possivelmente, isso não acarretou tanta economia monetária, mas nos entregou um mundo mais acessível e descomplicado.
Eu já tive dois HDs para backups e talvez, umas duas dezenas de pen-drives. Provavelmente, o custo deles tenha sido na faixa de R$ 1.000,00, mas hoje não gasto mais nada com esses gadgets. Assim, a economia acumulada vai a R$ 17.050,00.
Tecnologia é o que há de comum
Pois é, o que toda essa redução da inflação do estilo de vida possui em comum? A tecnologia!
A tecnologia nos auxiliou demais para reduzir a inflação de nosso estilo de vida. Quem imaginaria que teríamos uma enciclopédia de graça com a internet? Quando eu estava para entrar no segundo grau, ganhei de minha avó uma enciclopédia Mirador, de 20 volumes e mais uns livros adicionais.
Posteriormente, quando já possuía acesso a computador, fiquei deslumbrado com a Enciclopédia Encarta, da Microsoft, distribuída através de CDs. E hoje temos a Wikipedia. Sem apetrechos físicos, na nuvem! Acho que eu era muito estúpido na época, mas não conseguia imaginar em como o mundo poderia tornar-se simples.
Ou ainda, como prever que poderíamos nos comunicar gratuitamente com todas as pessoas do mundo, seja através dos serviços de e-mail, das redes sociais ou das chamadas de vídeo?
Podemos hoje ter uma suíte Office de graça, tão boa quanto aquela que a Microsoft oferece? Eu, particularmente, assino o Microsoft Office 365 porque gosto do Outlook, do editor on-line e da maior segurança do espaço de armazenamento ampliado. Mas acredito que as demais suítes gratuitas não ficam atrás para os serviços mais básicos.
Toda essa redução de custos que a tecnologia nos proporcionou deveria ter ajudado enormemente o orçamento da maioria das pessoas. Fico imaginando se eu ainda tivesse comprando meus DVDs, livros, pen-drives, pagando conta de celular, TV a cabo e perdendo tempo e combustível procurando destinos pelas ruas da cidade.
Economia, claro, que só se torna relevante se soubermos aproveitar suas vantagens sem criar despesas adicionais.
Essa é a inflação do estilo de vida: se, a cada sobra de orçamento nos voltarmos a preencher desejos e angústias com compras de novas coisas, estaremos sempre inflando nossa rotina de consumo.
O mundo está simplificando sua vida: abrace esse momento e use seu dinheiro apenas ao que realmente é importante. Aproveite a chance de tornar-se mais minimalista com a tecnologia. Apesar de vermos tantas coisas erradas por aí, aproveite o que pode ser benéfico ao seu orçamento e resista a gastar com bobagens.
Direcione toda a maioria do dinheiro que você poderia estar gastando (mas não gasta mais) para criar sua carteira de investimentos e construir a reserva que lhe permitirá alcançar a independência financeira para usufruir de seu tempo como bem entender.
Não use as “sobras” para comprar mais e mais coisas. A maioria delas são totalmente desnecessárias. A inflação do estilo de vida pode minar implacavelmente esses planos. Cuidado constante com ela!
E você, conseguiu reduzir seu orçamento nos últimos anos através da tecnologia? E a economia que proveio dessa redução, foi para onde?
Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
… assistir uma entrevista de vídeo no YouTube
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… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.
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Ótimo post André, como sempre.
Meus parabéns.
Vou verifar essa possibilidade de mudar o plano do meu celular, pois o que possuo atualmente vêm sofrendo aumentos anuais e eu venho utilizando os pacotes de serviços cada vez menos.
Outra coisa que no meu caso consegui uma economia foi com a internet banda larga. Isso em virtude do aumento da concorrência. Disse que iria cancelar e migrar e acabei evitando um reajuste e ainda consegui um pequeno desconto rs…
Obridado.
Forte abraço!
Olá Danilo! Obrigado!
Se você usa pouco o celular, o plano mais simples da Vivo Easy é o melhor. Seus pacotes não vencem e você não precisa mais gastar com recargas. Boa sorte!
Sim, a gente tem feito isso regularmente com a internet. Queria que tivéssemos ainda mais concorrência, mas as duas principais já duelam bastante para não deixar as mensalidades subirem muito rsrs
Abraço!
Olá!!
VL, muito obrigado pela dica do Vivo Easy, eu estava bem insatisfeito com o meu plano vivo controle, fui na loja pra trocar e eles não podiam, tentei pelo chat e pelo app não fazem, parece que só ligando lá, mas eu odeio ligar para esses serviços.
Vou alterar agora meu plano da Vivo por um mais barato com esse outro app!
Abraços!!
LOL, tentei aqui e não deu certo, preciso alterar meu plano para um pré primeiro ligando no *8486, vou ligar agora.
Liguei lá, depois de meia hora ouvindo gravações consegui falar com atendente e mudar para o plano pré, aí tentei contratar o plano vivo easy mas ainda não deu certo, vou esperar até amanhã pra concluir o processo.
Fala Bilionário!
O meu Vivo anterior já era pré, então foi mais fácil. Já o da outra operadora, fiz portabilidade para o pré e depois, em casa, alterei pelo aplicativo.
Conseguiu hoje?
Abraços!
Fã de amazon hein! Eles agradecem a propaganda. Eu não tenho prime nem penso em ter pois é uma “facilidade” a mais para vc gastar, alias, familia toda gastar mais né
Depende de sua maturidade financeira, Renato.
Nós, aqui, gastamos bem menos sendo assinantes do Amazon Prime. R$ 89,00 por ano. Não tem dinheiro melhor gasto.
É a mesma história de não ter cartão de crédito. Quem não possui domínio financeiro próprio, precisa mesmo ficar sem. Quem possui, usufrui de suas vantagens.
Abraço!