Por que retirei a Vérios, gestora digital que opera através do Ueslei, seu robô de investimentos, da comparação de rentabilidade das carteiras?
Atualização: em agosto de 2021, a Vérios saiu totalmente de cena com a incorporação da Easynvest pelo Nubank. Segundo a (ex) empresa, seus algoritmos ainda serão usados pela empresa, mas o nome Vérios não será mais utilizado. Nem seu site existe mais.
Olá pessoal! Se vocês acompanham aqui no blog a comparação mensal da rentabilidade dos robôs de investimentos, há novidades relevantes: a Vérios saiu do embate.
Nas últimas semanas, recebi a informação de que a gestora digital estava migrando sua parceria da Rico para a Easynvest. Através de trocas de e-mails, percebi que as opções que eles impuseram a mim violava, de certa forma, a liberdade de opções que devemos ter em nossos investimentos.
Veja as razões dessa minha decisão abaixo.
A entrada da Vérios na carteira de investimentos
Quando escrevi o texto que iniciou a comparação entre as gestoras digitais, havia comentado alguns diferenciais negativos da Vérios.
O primeiro é que, na época, era a fintech que exigia o maior aporte inicial para o investidor criar sua carteira de investimentos: R$ 12mil.
Segundo que, para o investidor solicitar a inclusão de ativos de renda variável na carteira, ele deveria possuir ao menos R$ 50mil, valor que foi diminuído a R$25mil posteriormente. Mesmo com a redução, um valor inacessível a milhões de brasileiros que gostariam de incrementar a rentabilidade de sua carteira com ativos vinculados a ações de empresas.
A Vérios não opera com fundos de investimentos: eles aplicam os valores referentes à renda fixa em títulos públicos (Tesouro Direto) e, na renda variável, em ETFs (ações no Brasil e exterior). Esses ativos podem ser agrupados em 5 carteiras, e, na carteira mais arrojada, o limite para investimentos em renda variável era de apenas 20%, sem possibilidades de customização.
Isso já prejudicava a comparação das rentabilidades com outras gestoras digitais, como a Monetus, Magnetis e Warren, que permitiam a alocação em renda variável, independentemente do montante investido. Em debates com o pessoal da gestora na época, eles diziam que preferiam manter a “segurança” dos investidores que não eram “experientes”, confundindo essa característica com o caixa que possuem.
Qual a relação? Conhecimento está vinculado à disponibilidade de dinheiro? E se tivermos uma pessoa que fez um grande investimento em outro ativo, mas gostaria de começar a investir em uma gestora digital? Ou alguém que estudou ativamente o assunto e apenas agora conseguiu um fluxo de caixa positivo para investir?
A Vérios, deixando de selecionar clientes através de seu conhecimento, mas sim pelo seu caixa, elimina pessoas com perfis mais arrojados dentre sua base de clientes. Será que há confusão entre volatilidade e riscos? Ou no fundo, é apenas uma questão de custos, uma vez que eles operam com papéis isolados na bolsa de valores e a corretagem que pagam inviabilizam as operações?
Por fim, o terceiro ponto é que havia algo meio surreal na parceria entre a Vérios e a Rico: o investidor era impossibilitado de possuir outros ativos da corretora de valores porque todo o saldo disponível na conta ia para a carteira Vérios. Não havia opção alguma de mantê-lo para poder comprar outros títulos ou ações.
Assim, quem usasse a Vérios, não poderia contar com a corretora Rico para outros investimentos. O interessante é que, no caso da parceria entre a Magnetis e Easynvest, tudo isso era possível: o investidor pode direcionar o saldo de sua conta livremente para os ativos que desejar.
A saída da Vérios da carteira de investimentos
Em meados de agosto, recebi um e-mail da Vérios informando que eles não iriam trabalhar mais com a Rico, e sim com a Easynvest. Eles conseguiram evoluir seu robô de investimentos: agora ele permite que o investidor possa comprar ativos na mesma corretora.
Mas a evolução não foi completa: se seu desejo for comprar os mesmos ativos que a Vérios investe (títulos do Tesouro Direto ou determinados ETFs), nada feito. O robô de investimentos exige exclusividade nesses papéis.
Para mim, o caso ganhou contornos piores. Uma vez que eu já possuía títulos do Tesouro Direto na Easynvest, eu precisaria ou incluí-los na plataforma da Vérios ou transferir sua custódia para outra corretora, se eu quisesse permanecer com a Vérios.
Absurdo, não? Eu uso a Easynvest para manutenção dos meus títulos há mais de 12 anos, quando a corretora ainda se chamava Título. E, de repente, chega a Vérios e sou desalojado de minha condição? Hilário… Preferi sair da Vérios. Afinal, foi a terceira condição que me foi proposta:
O que poderia ser feito pela Vérios
Eu sugeri à gestora mudanças na forma de gerenciamento da carteira, pois ela limita de sobremaneira a liberdade das pessoas em investir em seus próprios ativos, praticamente exigindo exclusividade em uma corretora de valores.
A Easynvest, em 2016, tornou-se a maior corretora de valores em clientes que investem no Tesouro Direto. Será que nenhum deles investia na Vérios? Será que não há mais clientes sendo “obrigados” a tomar uma decisão que não fariam se a gestora digital não tivesse migrado para a corretora?
Acredito que é difícil a Vérios expandir-se muito com esse modelo. A própria evolução das carteiras vai impor ainda mais limitações para seus clientes. Como comentei no post da comparação da rentabilidade da carteira de ETFs, o mercado de fundos de índice tende a ampliar-se no Brasil. Se a Vérios desejar ampliar sua diversificação, serão mais papéis que seus clientes não poderão operar na corretora.
Se você é cliente Vérios, sugiro não usar a Easynvest para mais nada, pois corre o sério risco de ver seus ativos serem “sequestrados” pelo Ueslei, o robô da gestora digital. Para manter sua liberdade de criar sua própria carteira de investimentos, talvez muitos clientes da Easynvest tenderão a mudar de corretora de valores.
Sei que posso estar falando para pouca gente. Afinal, o perfil de quem investe na Vérios está mais próximo ao investidor passivo, que não pretende gerenciar um portfólio exclusivo. Mas, se um dia esse perfil se alterar, a Easynvest não será sua escolha.
O problema dos ativos individuais
O problema todo ocorre pelo fato de que a Vérios, diferentemente da Magnetis, Monetus ou Warren, não opera através de fundos de investimentos exclusivos. Se assim fosse, não haveria problemas, pois negociações desses fundos só poderiam ser feitos pelas plataformas correspondentes, e não diretamente pela corretora de valores.
É exatamente por isso que a parceria da Easynvest com a Magnetis vem funcionando tão bem. Para que o robô da Magnetis entenda que você deseja investir, você deve ir à sua plataforma e autorizar o valor correspondente. Sem complicação e com total liberdade de investir nos demais ativos que desejar.
A Vérios investe basicamente em Tesouro Direto e em ETFs de renda variável. Qual seria o problema em possuir seus próprios fundos de índices? A Warren possui seu fundo vinculado à Selic com taxa zero. A Vítreo possui seu fundo de IPCA longos com taxa 0,05%. Da mesma forma, a Magnetis e Monetus possuem seus fundos multimercados e renda fixa. Não seria o caso de a Vérios fazer o mesmo?
Ainda devemos mencionar que, comprando diretamente do Tesouro Direto, pagamos uma taxa de 0,25%, maior do que os fundos de índice que vemos no mercado. Ou seja, pensando em adicionar fundos na carteira, a Vérios poderia oferecer uma rentabilidade ainda maior, em função de taxas menores.
Infelizmente, a comparação da rentabilidade dos robôs de investimentos perderá um player, embora que, pelas próprias limitações na montagem inicial da carteira da Vérios, ele estava enviesado, uma vez que era a única carteira que não possuía investimentos em renda variável.
Enfim, eu fiquei meio contrariado com essa situação, principalmente pela falta de liberdade que dá a nós, investidores. Receber a sugestão de ser “despejado” de minha corretora mais antiga mexeu um pouco no meu orgulho.
O que acham? Exagerei ou deveria ter aceitado passivamente a situação?
Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
… assistir uma entrevista de vídeo no YouTube
… ler sobre um resumo de minha história
… ouvir uma entrevista de podcast no YouTube
… participar de um papo de boteco
… curtir uma live descontraída no Instagram
… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.
E, se gostou do texto e do blog, por que não ajudar a divulgá-lo em suas redes sociais através dos botões de compartilhamento?
Artigos mais recentes:
- Atualização da rentabilidade dos FoFs acompanhados
- Rentabilidade de todas as carteiras – atualização de novembro
- Rentabilidades das carteiras ativa e passiva – atualização
- Atualização das rentabilidades das carteiras de ETFs
Exagerou nada, fez é muito bem!
Valeu, Anon!
Olá. Cheguei ao seu site porque o CEO da Magnetis postou no twitter que a XP cobra 1,36% de taxas, ante 0,6% da Magnetis… mas quando fui verificar, vi que elas operam de forma completamente diferente entre si.
Li essa sua história com a Verios, é um absurdo total, não dá para comentar.
Li também que você pretende comparar o resultado dessas empresas com ETFs; se me permite, sugiro que inclua nessa comparação o fundo Vitreo Carteira Universa, que consubstancia uma estratégia da Empiricus numa carteira com vários tipos de ativo, ajustados com frequência.
Obrigado pelo bom trabalho!
Olá Anon! Não vi essa comparação do CEO da Magnetis, mas, de fato, precisamos tomar cuidado com elas, pois devemos comparar coisas equivalentes. Eu, ao menos, desconheço algum serviço da XP que seja semelhante ao que uso da Magnetis. As rentabilidades já estão sendo comparadas durante esse ano. Veja no menu superior o link de “Rentabilidades”. Há duas carteiras de ETFs na comparação. Nela, eu incluo o FoF da Vítreo Melhores Fundos, pois acredito que é mais adequado a quem pretende possuir apenas um investimento, visto sua pulverização entre vários gestores. O Universa é a “cabeça” de apenas um gestor,… Leia mais »
Fala Andre, só um toque, o link da newsletter do email p este post está encaminhando erroneamente p o post “https://viagemlenta.com/o-papel-da-rotina-no-gerenciamento-de-sua-carteira-de-investimentos/?ct=t(verios)”
Abraço
Obrigado, Felipe, logo de manhã algumas pessoas me enviaram um e-mail alertando.
Foi falha minha mesmo, mas o e-mail já tinha sido enviado. Acabei contando com o bom senso dos assinantes em it na página inicial e encontrar esse post :/
Abraço!
Investi na Verios logo no começo, em 2016, quando tinha zero conhecimento sobre o assunto. Mas entender a forma como eles funcionavam me despertou a curiosidade de estudar mais sobre investimentos.
Fiquei apenas 1 ano lá, depois de aprender a investir sozinho e ganhar confiança. Na época eles já tinham essa limitação, uma pena ver que não evoluíram muito desde então.
Aliás gostaríamos de saber sua opinião da compra da EasyInvest pelo Nubank,
Abraços e parabéns pelo blog!
Olá Assolini! Pois é, vamos ver até quando eles vão conseguir trabalhar bem limitando as atividades dos clientes. Não sei se tenho algo de relevante p comentar da compra. O que me parece é que, por enquanto, as plataformas ficarão separadas, mas acredito que o Nubank deva influenciar na Easynvest na parte de atendimento, pois no primeiro ele é excelente, e na Easynvest, deve um pouco. Talvez seja possível manter o dinheiro parado na Easynvest no investimento Selic do Nubank com o tempo… E, quem sabe, a Easynvest acabar zerando suas tarifas, de forma que ele possa competir com o… Leia mais »
Isso da verios deixar os ativos em seu nome me lembra a ‘carteira adminsitrada’ que tem na vitreo (pra FIIs e Acoes de div), cmo os ativos ficam no seu nome tem algumas vantagens tributárias. A diferença é que na vitreo não tem tesouro direto nem HB, então não da pra ter esse problema de ‘misturar’ e te deixar preso.
Olá Felipe!
Não conheço como funcionam as carteiras administradas da Vítreo para emitir uma opinião.
Mas eles vão ter HB logo logo. Será que haverá esse impedimento, de comprar os ativos que estiverem nas carteiras? Vamos aguardar!
Abraço!
Deve ser limitacao do sistema deles. No seu lugar teria saído tbem pois transferir custodia ia dar mais trabalho.
Obrigado pelo comentário, Vagabundo!
Já estão no mercado há um bom tempo, o sistema deveria ser “menos” limitado. Estamos em uma explosão de oferecimento de serviços, a Vérios corre o risco de ficar para trás.
Sim. A Vérios tem travado as aopções. Muitas exigências. Prejudica o pequeno investidor.
Sim, Ricardo. Principalmente pelo investimento inicial alto e pela impossibilidade de investir em renda variável com volumes menores.
Abraço!
Fala André!
Achei sua atitude correta! Os caras chegam e querem ditar o que você tem que fazer, nada legal não?
Eu também encerraria o vinculo com uma atitude dessas.
P.S Acho que descobri o problema das notificações de comentário. É um bug do wordpress (segundo o plugin WpDiscuz). Estou testando a solução e se der certo compartilho com você.
P.S-2 E o baby, está chegando ou já chegou rs?
Abração!
Fala Inglês!
Valeu pelo comentário! Imposição não, né? Eu cheguei primeiro rsrs!
Comentei no seu post de hoje e vamos testar!
O baby chega em dezembro!
Abração!
Realmente (Rico) –> (Easyinvest) foi uma solução que não vai servir para todo mundo. Eles optaram por abandonar alguns clientes ao invés de encontrar uma solução que agradasse a todos, como por exemplo (Rico) –> (Easyinvest e/ou Rico).
Esse negócio de ser independente de corretora tem suas vantagens e desvantagens. E logo uma das vantagens (poder disponibilizar o mesmo serviço em mais de uma corretora) não foi executada na prática.
Pois é Anon, eu nunca engoli isso.
Mesmo quando entrei na Vérios e descobri essa limitação, fiquei pasmo com a falta de flexibilidade da operacionalização. Imagina agora, que a Rico zerou as taxas de corretagens. Será que muitos clientes que usavam a Vérios não queriam aproveitar as novas vantagens na corretora? Tudo muito estranho.
Obrigado pelo comentário!
Sempre achei legal a proposta da Vérios de investir direto em ativos no nome do cliente ao invés de fundos de investimento, talvez um preconceito residual de quando acompanhava o Bastter.
Agora, neste artigo ficou claro a desvantagem desse modelo e acho que você tomou a decisão correta, eu não me daria ao trabalho (ainda burocrático) de migrar os títulos antigos para outra corretora, apenas para manter essa empresa no experimento que já era destoante devido a falta de renda variável.
Legal, Vinicius, obrigado pelo comentário.
Esse lance da necessidade de investir em “nome do cliente” talvez seja preciosismo. Veja o tamanho da indústria de fundos no mundo. Se imaginar um default nessa área, será o fim dos tempos rsrs
E considere ainda que todo o sistema financeiro está interligado. Títulos públicos e de crédito privado, nominais, sofrerão da mesma forma. E lembrete: tudo são bytes. Nada garante que um dia, tal apocalipse não possa ocorrer.
Abraço!