Quando até o uso de um remédio é debatido com a presença de rótulos políticos, há algo a se pensar.
Como tal atitude pode prejudicar o debate, alimentando o pensamento coletivo e reprimindo o pensamento individual?
Acompanho eventualmente grupos no Facebook vinculados aos ideais de liberdade e frequentemente vejo debates, muitos acalorados, que instigam os participantes a definir a sua visão filosófica, política ou econômica.
Ancap, minarquista, libertário de esquerda ou liberal clássico? Nessa mistura de conceitos associam-se ainda desde partidários do objetivismo até as insígnias rotuladas como “conservadoras” ou de “direita”.
Alguns se posicionam compreensivelmente em mais de um rótulo, pois enquanto uns possuem vertentes mais fortes no campo econômico, outros reforçam suas teses nas trilhas políticas. Alguns conceitos são mais puros e não deixam margem à duvidas, como o objetivismo.
Mas outros rótulos, como o “liberal”, podem causar confusões, principalmente em função do local de origem. Ser liberal aqui, em função da tradição do liberalismo inglês, é uma atitude bem diferente de ser liberal nos Estados Unidos, por exemplo, onde a esfera política que se denomina de “esquerda” se apropriou desse termo. Já aqui ela o abominava há alguns anos atrás, embora agora tenha gente aí querendo se autodenominar liberal sem ter o mínimo das posições da definição clássica.
Mas será que dar extrema importância para essas classificações são válidas atualmente?
Rótulos políticos coletivizam
O assunto é longo e não tenho intenção nenhuma de realizar uma digressão filosófica sobre cada termo. Minha proposta é realizar algumas observações de como um debate pode ser prejudicado quando nos atemos mais aos rótulos e não às ideias. As discussões ficam permeadas de “argumentos”, e prioritariamente, preconceitos ad hominem, isto é, oponentes já acusam uma ideia sem entendê-la ou aprofundá-la simplesmente porque quem a proferiu está em campo ideológico oposto.
Recentemente, isso ficou evidente com a questão do uso da hidroxicloriquina no tratamento de pessoas com o novo coronavírus – o COVID-19. Partidários ou não de seu uso abandonaram o campo da ciência e o uso do bom senso apenas porque o presidente Bolsonaro foi a favor do uso do remédio desde o começo. Quem apoia o presidente, apoiou o uso da hidroxicloroquina. Quem não apoia, não quer nem ouvir em falar em usar o remédio.
O problema primário – e grave, da rotulagem é que ela coletiviza. Vindo de grupos com o pensamento do espectro político de esquerda é até algo natural, visto que eles pregam o coletivismo como doutrina. Quem, uma vez defendendo a liberdade individual, não ouviu brados de “fascista”, “reacionário” e “coxinha” desse grupo? Até aqui nada de novo. Mas o incômodo de tais atitudes ocorre quando elas provém de grupos que a princípio, deferiam defender a individualidade, ou seja, o pensamento livre, sem amarras a estereótipos.
O debate fica prejudicado quando fugimos dos fundamentos da questão e enveredamos em gastar tempo e energia para interpretar se tal pensamento está na esfera das ideias anarcocapitalistas ou objetivistas. O argumento muitas vezes fica encoberto sob essa demanda, que não trará um desenvolvimento produtivo da questão. Muitos de nós somos levados a utilizar a rotulagem como um distintivo, uma medalha, mas no fundo, terminamos por prejudicar a evolução das ideias e o entendimento dos princípios básicos que as suportam.
Porém, muitas vezes, os rótulos políticos podem ser úteis
É inevitável entretanto que, por necessidade didática, rótulos sejam usados na definição de um vocabulário próprio para pessoas que possuem um pensamento comum, além de determinarmos alguns atributos a um grupo quando existem características amplas que se repetem continuamente.
É o caso da definição que faço da “esquerda”, que agrupa pessoas que defendem o estatismo e dessa forma, não respeitam o direito e a liberdade pessoal plena, percebendo o mundo através de um “ser” coletivo que se sobrepõe ao indivíduo. Essa é uma definição ampla e inclui a essência do pensamento esquerdista, seja a linha social-democracia, o socialismo ou o comunismo/nazismo (que diferem pouco em suas ideias de execução – em ideias ou pessoas).
Tendo a usar mais atualmente, termos mais objetivos sem conotação histórica, como “coletivista” em lugar de “esquerdista”. Ou às vezes sinto-me tentado a tripudiar de termos que eles mesmos se autoatribuem, como o progressismo.
De qualquer forma, é importante distinguir essas linhas do pensamento coletivista e fazer distinção de cada uma delas. Um Demétrio Magnoli é muito diferente do que um Vladimir Safatle, por exemplo, embora ambos se definam nesse espectro político. O primeiro geralmente apresenta ideias debatíveis, enquanto o segundo exercita sua postura de adolescente até hoje, em seus quase 50 anos. Esse discernimento contribui para que não refreemos um debate, desde que ele se situe no campo das ideias.
Ajuda a explicar também, a confusão que muitas pessoas fazem dos ideais liberais/libertários com os rótulos políticos direitistas e/ou conservadores. Sim, há muitos pontos em comum, principalmente na aplicação de convicções primordialmente econômicas, embora a raiz do pensamento possa ser diferenciada. O que não impede a união dessas ideais para atingir determinados fins, entretanto.
O fato é que toda generalização tem falhas, mas em algumas situações são indispensáveis e úteis para exprimir pensamentos e opiniões, como o comentário de Flávio Morgenstern – que ultimamente foi para a arquibancada da torcida, deixou há tempos em seu mural do Facebook algum tempo atrás. Alguém duvida que aqui a rotulagem é indispensável?…
“Segundo Mino Carta, Stalin é de direita porque não é democrata. Segundo Latuff, Israel é nazista. Segundo Cláudio Paiva, Mugabe é de direita, porque odeia gays. Segundo Alex Solnik, black blocs são de direita porque usam máscara. Segundo Boechat, que diz que “vandalismo é o caralho, tem que quebrar tudo”, Rachel Sheherazade é que é fascista. Alguém pode explicar o que é nazismo, já que está difícil entender a nossa retardadíssima esquerda brasileira – que, só por mera coincidência, quer tudo dentro do Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado… e odeia judeus?”
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Olá André, tudo bem? Realmente é bom complicado, eu já comecei a abandonar alguns debates por causa disso, fica impossível tentar argumentar com algumas pessoas, simplesmente são contra, por que não é do partido dele/dela. Ou as vezes são a favor, no caso contrário. A nossa política toda funciona dessa forma, poucos políticos ainda não fazem um estudo aprofundado dos projetos antes de votar a favor ou contra, 99% simplesmente votam a favor se for do interesse do seu partido, e quando eu digo interesse, geralmente envolve muita politicagem e muitas vezes troca de favores ou até mesmo compra/venda de… Leia mais »
Olá Bilionário! Tudo bem, e você?
Sim, hoje os debates estão “politizados” demais, na pior acepção da palavra. Esquecemos o bom senso, a moral, a racionalidade, justamente porque supostos antagonistas estão em campos opostos da política.
O caminho para se mudar algo no Brasil e árduo e longo. Que vivamos para ver isso no futuro!
Tenho sobrinha na adolescência que se diz de esquerda. Até aí nada de novo, já que a idade, experiência de vida, o apelo emocional e a influência do meio acadêmico levam para esse lado boa parte dos jovens. O que me deixou fulo da vida outro dia é que ela falou que a ditadura do Nicolas Maduro na Venezuela era de direita. Aqui deixo o parabéns à esquerda pelo seu poder de adaptação e falta de princípios, lembra aquele estilo musical que chamam de sertanejo, que aceita qualquer mistura para sobreviver.
Eu tenho uma irmã na mesma situação, 13 anos, defensora do PT, acha que sabe tudo do mundo mas nem arruma o quarto direito, e vive postando FAKE no facebok, dá até vergonha.
É mais fácil ajudar o mundo no pseudo-ativismo do que colocando a mão na massa…
Existe uma frase que diz mais ou menos o seguinte: se vc não foi de esquerda na juventude, é uma pessoa sem coração. Se continua a ser de esquerda após adulto, é uma pessoa sem cérebro.
Eu ainda perdoo os jovens, mas os adultos, olham… é só analisar a história para ver que a esquerda, principalmente seu lado mais radical, não presta. Mas concordo que eles são muito bom de marketing…
Meu sonho é ter autoconhecimento para descobrir de que lado estou… Adoro dinheiro, mérito, mas fico p. da vida com exploração de pessoas, juros exorbitantes… Não acho que ser gay seja errado, mas acho desrespeito incentivo à homossexualidade. Penso que a evolução é individual, mas o mundo é coletivo e tenho horror a poluição, agrotóxicos, derivados de petróleo. Realmente não sei onde me encaixo kkkkk…
Olá Cinthia!
Não há conflito entre meritocracia e exploração. O primeiro é totalmente independente do segundo. Na verdade, não entendi a relação.
Também não tenho nada contra a gays. Sou contra a ativismos, uma vez que eles pressupõem que uma “classe” deva ter mais direitos que outras.
Evoluir não significa poluir e agir como pessoas más. Acho que temos que ter cuidado com essas relações, pois é justamente essas falsas dicotomias que alimentam o discurso e o ativismo errôneos. 🙂
Abraço!