A filosofia de Karl Popper e a doutrina da autonomia de Immanuel Kant relacionadas à liberdade e à responsabilidade, suas associações com a ética e a moral e as aplicações ao sentido da vida.
A filosofia de Karl Popper foi denominada, por ele mesmo, de Racionalismo Crítico. Usou-a marcadamente para pensar sobre as teorias científicas que atravessaram os séculos e com o amparo da filosofia de Kant, aplicou seus fundamentos no estudo da filosofia moral.
Algumas visões sobre seu pensamento podem ser vistas em seu livro “Em busca de um mundo melhor“*, que reproduz diferentes conferências realizadas pelo filósofo entre as décadas de 50 e 80 do século passado.
A ética Kantiana
Ele desperta tal conexão filosófica através da analogia entre o sistema heliocêntrico proposto por Copérnico com a Ética Kantiana. No sistema copernicano, atribui-se ao Homem, e ao seu método científico, o papel de legislador da natureza, que assume assim, uma posição central na cosmologia.
A Ética Kantiana recupera esse papel do Homem na posição central como legislador da moral, humanizando a ética através da doutrina da autonomia. A doutrina de Kant da autonomia baseia-se no fato de que somos, através de nossa própria responsabilidade, capazes de discernir entre atos morais e imorais, o que limita a nossa obediência a uma autoridade em nosso papel de legislador moral.
O filósofo vai além, afirmando que nosso dever moral é considerar cada pessoa como um fim em si mesmo, e não como um meio de obtenção de vantagens ou serventias.
Possivelmente foi o primeiro filósofo que fez tal afirmação, própria da personalidade de Howard Hoark, do livro “A Nascente” de Ayn Rand. Tal conceito da necessidade de tal liberdade, responsabilidade e respeito às outras pessoas recheiam sua obra “Metafísica dos Costumes” e compõem o seu imperativo categórico, seu princípio fundamental da moralidade a partir do qual se derivam todos os direitos e obrigações:
“Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal“.
O papel essencial da liberdade no conhecimento
Nesse chamado à ação, Kant, em outras obras, revela que a construção do saber, ou mais além, da emancipação do homem através do saber, é uma de suas tarefas mais dignas:
Iluminismo é a saída do homem de sua menoridade auto-imposta. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de sua inteligência sem a direção de outro indivíduo. Essa menoridade é imputável ao próprio quando sua causa não provém da falta de inteligência, mas sim da indecisão e falta de coragem para usá-la sem a orientação de outrem. Ouse saber! Tenha a coragem de servir-se de sua própria inteligência (…)
Essa auto-libertação constitui uma condição necessária para libertar-nos da escravidão exercida pelas falsas ideias, pelos preconceitos e pelos ídolos, porém não suficiente para conferir um sentido à nossa vida. A missão de esclarecer o sentido da vida não é, segundo Kant, uma missão puramente intelectual como é a emancipação do saber.
Kant reconhecia que o ser humano não é apenas racional, e que são necessárias outras acepções para compreender a amplitude de tal ser integral. Ele era um pluralista e intervia a favor da heterogeneidade das aspirações humanas, mas vinculava tal autenticidade ao exercício de sua liberdade:
“Ousa ser livre e respeita a liberdade e a pluralidade nos outros, porque a dignidade do homem está na liberdade e na autonomia.
Popper e Kant na busca do sentido da vida
Popper usa tais pensamentos de Kant para contribuir com alguma forma de compreensão sobre o sentido da vida. Inicialmente, desambigua o duplo significado que a palavra “sentido” pode ter na expressão. Ele esclarece que não estamos interessados na ideia de um sentido interior oculto, misterioso, cuja atração é a mesma de um enigma que provoca a curiosidade mística, mas sim em algo mais simples.
O sentido da vida, longe de um significado furtivo que podemos (ou não) conhecer na própria vida, é algo que nós próprios podemos oferecer à ela. Conferimos sentido à nossa existência através de nossas ações, de nosso comportamento e de nossa atitude perante a vida, os outros e perante o mundo. Somos protagonistas, assim, em definir tal sentido.
Entretanto, as decisões que tomamos são dependentes, no fundo, de uma questão ética em descobrir qual o tipo de conduta que devo estabelecer para a vida. Parte da resposta está no ensinamento kantiano de liberdade e autonomia que contribuem para a resposta à pergunta “O que devo fazer?”, complementado por um ideal de pluralismo que só se limita pela ideia de igualdade perante a lei e ao respeito pela liberdade dos outros. A autolibertação pelo saber é o meio para que tais ações sejam efetivadas.
Afinal, como sempre comentado nesse blog em outros textos, liberdade torna possível e cria as condições para a ação humana individual, o que pode traduzir-se por “responsabilidade”. Talvez seja por isso que muitas pessoas, claramente ou veladamente, a desprezam tanto.
Veja abaixo alguns livros recomendados sobre o assunto:
* Normalmente eu torceria um nariz para um livro com esse título, pois remete-me ao sonho coletivista ao mundo do bem comum, como citei com a ajuda de Fernando Pessoa nesse artigo. Porém, o livro é totalmente avesso a tal pensamento.
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Excelente reflexão, meu caro, mormente, por reconhecer a dialética dos autores, o que enriquece em demasia o estudo.
Estou percorrendo o itinerário da filosofia ocidental por intermédio da leitura de A História da Filosofia (7 tomos),de Antiseri e Reale.
Abraços.
O Idiota.
Obrigado colega! E aposto que está sendo uma tocante leitura.
Abraços.