Relato da viagem à bela ilha de Penang, cidade de Georgetown, na Malásia. Pontos altos do passeio: trilha no Parque Nacional e a herança inglesa do século XVIII.
E vamos ao sexto país da viagem: Malásia! Como comentei no post de Krabi, na Tailândia, fiz uma opção para uma viagem mais sossegada e sem preocupação, pagando um assento em uma van particular. A viagem a partir de Krabi passou pela cidade de Hat Yai, onde almocei com um sérvio que vim conversando no caminho e também o local de troca de van. A passagem na fronteira ocorreu sem problemas. Tanto na Tailândia quanto na Malásia brasileiros não precisam de vistos, o que facilita o trâmite.
As estradas de ambos os países estão muito bem conservadas, tornando a viagem rápida e confortável, embora a longa distância e a parada para o almoço fez com que gastássemos, ao total, quase 8 horas. Decidi na Malásia fazer uma parada em Penang, uma grande ilha que abriga a capital do estado de mesmo nome e uma das mais importantes cidades do país: Georgetown. O nome Penang refere-se normalmente tanto à ilha quanto ao estado, e vou usá-lo para ambas as regiões nesse relato.
Penang, além de ser conhecida no país como a capital e paraíso da alimentação, tem uma rica história de imigração de povos e, em função de possuir um importante porto e centro comercial controlado pelos ingleses desde 1786, desenvolveu-se muito no século XIX a ponto de ser conhecida no século XIX como a “Pérola do Oriente”.
Hoje o estado é um das mais importantes economias do país e sedia grandes empresas de informática e é o único onde a etnia chinesa é maioria entre todas as demais, embora em geral, não haja grande miscigenação entre eles e os malaios muçulmanos: em geral, as famílias são formadas entre pessoas da mesma etnia.
A UNESCO atribuiu à cidade em 2008 o título de Patrimônio Cultural da Humanidade, o que fez crescer muito o turismo a ponto de tornar-se uma nova e importante fonte de recursos para a cidade. E a infra-estrutura da cidade mostra-se apta para esse novo desafio: grandes avenidas muito bem conservadas, boas linhas de ônibus, jardins, parques e pontos turísticos bem sinalizados e cuidados e grandes shopping-centers.
Visualmente a cidade é muito bonita, limpa e apesar de algum trânsito, não poluída. A primeira visão da Malásia transparece que a impressão do país está a degraus acima da Tailândia em grau de desenvolvimento econômico e infra-estrutura, sendo que ambos, já estão à frente de nosso país nesse quesito. Perdem porém, na liberdade de expressão, mas oferecem sem dúvida, mais liberdade de negócios.
Em Penang tive uma oportunidade de utilizar a rede do Couchsurfing pela segunda vez. Mas diferentemente de Bangkok, onde o anfitrião morava só, abrigando muitos estrangeiros ao mesmo tempo em sua casa, aqui em Penang eu fui o único viajante, junto com uma família chinesa, o que ajudou muito a imersão cultural. Jantei todos os dias com eles, e no último dia fomos a feiras típicas na vizinhança.
O anfitrião CheeWee também me acompanhou em um trekking no primeiro dia de visita na cidade antiga. Trocamos muitas informações sobre ambos os países e devido sua antiga herança chinesa, sofrida pelo abominável Mao Tsé-Tung, aprendi muito sobre a China também. História, sociedade, linguagem e cultura. Foi uma ótima experiência, principalmente em função da ótima recepção e amizade criada!
Na cidade, os imigrantes chineses criaram inicialmente vários píeres como local de residência da mesmas famílias, compartilhando entre eles a mesma linhagem, cultura e história. As casas foram construídas ao longo desses píeres e conforme a família ia aumentando, novas residências eram adicionadas.
Hoje existem apenas 6 píeres que ainda são utilizados, mas com o aumento do turismo, muitos deles foram descaracterizados em função de demanda turística. Já há inclusive guest-houses no maior deles e um comércio de souvenires bem desenvolvido. Mas não deixa de ser uma atração que remete a uma das consequências da imigração chinesa na cidade.
A cidade histórica, entretanto, guarda muito mais da herança inglesa a partir do século XVIII. As principais edificações, todos em bom estado de conservação, são a Torre do relógio Queen Victoria, o Fort Cornwallis, construído por Francis Light e cujo nome homenageia o governador geral britânico em Bengali Charles Cornwallis e a atual sede do governo do estado. Muitos prédios construídos margeiam a avenida Pengkalan Weld, construída na área aterrada pelos britânicos posteriormente.
O Museu Penang é uma atração altamente recomendada para fornecer uma ideia de como foi estabelecida historicamente a cidade em função dos diferentes povos que participaram dessa construção. É um pouco difícil para um brasileiro imaginar todas as consequências que isso pode acarretar, uma vez que tivemos um volume muito pequeno de imigração no nosso país e principalmente, a miscigenação impediu a manutenção da identidade dos diferentes povos que recebemos.
Isso, porém, não é uma crítica. Perdeu-se um pouco dessa identidade cultural e nacionalista no nosso país, mas essa liberdade de miscigenação construiu uma tolerância cultural a qual poucos países possuem, e de certa forma suprimiu, culturalmente e biologicamente, o conceito de raça. Mas infelizmente hoje, o nosso governo faz tudo para resgatar e dividir, em termos de direitos e deveres, nós que somos simplesmente humanos.
A ilha também tem uma atração imperdível para os trekkers: o Parque Nacional de Penang. Existem dois caminhos básicos para serem seguidos, e ambos terminam em uma praia, que só é acessível através dessas trilhas. Alguns barcos fazem o circuito a partir de Tekan Peluk, local no noroeste da ilha onde a estrada termina.
Escolhemos o circuito de Teluk Kampi, com quase 5 km de muitas subidas, descidas e trilhas íngremes, para chegar posteriormente num lago que é formado e remodelado continuamente pelo período de monções. O rio enche e desce do monte em direção ao mar formando um pequeno estuário, que muda de forma conforme a época do ano. Uma infinidade de conchas habita essas areias e quando nossos olhos focalizam o mesmo ponto percebemos que as mesmas se movem, isso é, são habitadas por moluscos.
Posteriormente, chegamos em uma praia praticamente deserta, que abriga também um centro de preservação de tartarugas marinhas. Mais adiante, com a companhia de alguns macacos, o último mergulho isolado no mar antes de voltarmos. Nessa área rochosa, uma infinidade de cracas, crustáceos sésseis, habitam o local. Cada vez que as ondas batiam nas pedras um espetáculo se formava com a movimentação para deglutição dentro de seu exoesqueleto. Para quem gosta de um pequeno trekking e de natureza, é um passeio imperdível. De brinde uma grande vista da janela do ônibus pelo litoral pelas praias de Batu Ferringi.
A visita ao Jardim botânico, entretanto, deixou a desejar. A cachoeira, que poderia ser uma boa atração, estava fechada para visitações. Apesar de existir muitas espécimes de árvores e vegetações, há muito poucas flores. Achei que veria muitos hibiscos, símbolo do país, mas existia uma única estufa com alguma concentração de flores e estava fechada para um longo horário de duas horas de almoço.
No caminho de volta, passei pelo tempo hindu de Balathandayuthapani, cuja construção original data de 1850 e é o mais antigo de Penang. Recentemente, um novo pavilhão foi construído no topo do rochedo, o que faz com que o destemido “walker”, aquele que enfrentou penosos 512 degraus, aprecie uma visão panorâmica da cidade, reconfortando-se em sentir sua energia dispendida recompensada. Infelizmente, o interior do templo estava fechado para visitantes no dia em que lá estive.
Nesse mesmo dia, subi ao 60º andar do maior edifício da cidade para uma visão 360º da ilha. O edifício, construído em 1974, abriga vários escritórios e um mega shopping center nos pisos inferiores, mas possui um certo grau de abandono nos últimos andares, embora mostre algum esplendor, pela decoração, de um brilho no passado. A visão entretanto, a 220 metros de altura, é incrível.
No último dia andamos mais um pouco pela cidade, tirei algumas fotos de pinturas de rua e comprei a passagem no confortável ônibus que me levaria à Kuala Lumpur, capital do país. No caminho, passei pela ponte de 13,5km, a quarta maior da Ásia e pouco maior que a Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro.
No caminho, lindos condomínios e muitos ainda em construção mostram uma cidade que não pára de crescer. E para cima: impressionante como aqui a grande maioria das novas construções são altas. Em Kuala Lumpur esse crescimento ficaria ainda mais evidente.
Próxima parada: a capital da Malásia, Kuala Lumpur.
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As postagens dos roteiros e também dessa aventura que começou na Europa, passou pela Ásia, retornando ao velho continente, estão na página da viagem de 205 dias à Ásia.
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