Dias 51 a 54 da viagem: Khajuraho e suas famosas esculturas


Khajuraho, uma cidade tranquila e agradável e suas detalhadas e famosas esculturas na decoração de seus templos.


Como explicado no post anterior da cidade de Rishikeshi, voltei de trem para Nova Delhi. Para seguir a Khajuraho, há necessidade de sair da estação central, e ir à estação Nizamuddin, mais ao sul da cidade. Passei algumas horas na agência de viagens que comprei os tickets usando a internet e depois o dono me levou até a estação. Ele deve ter explorado bem minhas rúpias anteriormente para fazer toda essa gentileza…

Templos bonitos também do grupo leste, arquitetura Jain, em Khajuraho.
Templos bonitos também do grupo leste, arquitetura Jain

Os trens-leito na Índia, mesmo nas classes superiores (2A e 3A) são relativamente apertados. Mas não há grandes dificuldades de se pegar no sono. Você recebe um jogo de cama (teoricamente limpo) para forrar o leito. Na classe 3A, são seis camas por “cômodo”, enquanto na classe 2A são 4. Viajei junto com um casal de indianos, seus dois filhos e mais um japonês. A mulher não abria a boca e tinha sempre o olhar baixo. Apenas o marido que falava. Faces da dominação de gênero? Veja um artigo que escrevi durante essa viagem: O relativismo cultural como sanção para incoerentes tolerâncias sociais.

Dormi no topo, e foi muito melhor. Se o seu lugar for a cama de baixo, precisa esperar todos se arrumarem para depois arrumar a sua. Em relação às pessoas, tive total segurança em deixar o mochilão e as botas embaixo da cama; o casal não despertava nenhuma suspeita, muito menos o japonês. Mas os banheiros sempre possuem problemas. Imagino como deve ser na segunda classe. Antecipe fisiologicamente tudo o que puder antes de entrar em um trem indiano!

Cheguei em Khajuraho em ponto, às 6 e meia. A estação fica longe da cidade, mas por sorte conheci duas coreanas que estavam no mesmo trem e dividimos um tuk-tuk. O motorista sugeriu o hotel Lakeside (comissões!) e ficamos por lá mesmo. O hotel é bom, possivelmente um dos melhores que fiquei na Índia. Quarto bem limpo para os padrões indianos, arejado, boa wi-fi e uma grande vista no terraço para o lago da cidade, tanto para o nascer quanto para o pôr-do-sol. Uma pena que esses dias estavam todos enevoados e não consegui ver um bonito espetáculo.

As notícias da infame tragédia no Brasil
As notícias da infame tragédia no Brasil

No café da manhã o dono, sabendo que eu era brasileiro, me mostrou um jornal local com destaque para a tragédia que ocorreu na boate em Santa Maria no Brasil, que na verdade não teve nada de fatalidade, mas sim uma sucessão de erros que envolvem tanto o poder público quando à irresponsabilidade da banda.

Duas lições para serem aprendidas: alvarás de funcionamento não servem para muitas coisas, a não ser molhar a mão de funcionários públicos. Isso deveria ser feito por uma empresa privada, que, operando em um mercado de concorrência, seria responsável por emitir o seu próprio alvará e o faria com os melhores critérios possíveis, para manter sua empresa entre as melhores do mercado. E segundo, as responsabilidades são sempre individuais, e não coletivas. Cada um deve responder pelos seus próprios atos, como o indivíduo que faz pirotecnia dentro de ambiente impróprio.

Corretamente confinadas, enfim.
Corretamente confinadas, enfim.

Voltando… A cidade de Khajuraho me impressionou positivamente. Pouco lixo nas ruas e pouquíssimo trânsito na região que fiquei, ao lado dos templos do lado oeste – as ruas principais do centro são fechadas para veículos, o que dá uma sensação de paz dificilmente vivida nas cidades da Índia. É possível ouvir o canto dos pássaros no meio da cidade!

Além disso, parece que a cidade faz algo que eu havia comentado anteriormente com  um colega britânico em Kochi como sendo algo lógico: os bovinos sagrados da cidade ficam confinados em uma área, próxima aos templos da área leste. Até as deidades gostariam dessa paz! E de fato, não vi bois nas ruas, embora as cabras e porcos estejam presentes… nada é perfeito. Mas já diminui muito a sujeira.

Entre a área turística e a estação de ônibus, na avenida principal, existe algo raro no país: uma praça e, ainda por cima, bem cuidada! Bancos para descanso, bonitos jardins… Claro, conservação não era muito boa dos postes e do piso, mas na Índia, isso é algo bem raro. Presenciei uma boa conservação dos locais apenas em alguns pontos turísticos como o Taj Mahal, o Shore Temple e nos próprios templos aqui de Khajuraho.

A lavagem de roupas nos lagos em Khajuharo
A lavagem de roupas nos lagos em Khajuraho

Em relação às pessoas daqui, senti uma insistência maior na aproximação, na conversa e na tentativa de surrupiar seu dinheiro. A cidade vive pelo turismo e aqui as pessoas aparentemente não tem muito o que fazer. Ficam zanzando na rua à nossa caça. E notei que aqui, os indianos exageram um pouco nos comentários feitos e são mais atrevidos.

No primeiro dia, por exemplo, visitei os templos com as duas coreanas. E vinham indianos (não foi um só) que me puxavam ao lado, perguntavam se eu era namorado, se eu ia “pegá-las” de noite, qual das duas eu preferia… um humorzinho bem ácido para uma pessoa que você acabou de conhecer. Espiritualidade zero rsrs. Eles também grudavam nelas e pelo que soube depois, não foi uma conversa agradável. Talvez aqui eles sejam influenciados pelas esculturas eróticas dos templos e só pensem naquilo…

Almoço em cima da árvore e o templo Vishvanat
Almoço em cima da árvore e o templo Vishvanat

O grupo principal dos templos são os templos Oeste e são os únicos que cobram a entrada (250 rúpias). Soube que o ticket do Taj Mahal valeria para entrar aqui, mas havia jogado fora… Os templos em Khajuraho, com arquitetura indo-ariana, foram construídos nos séculos X e XI AD na dinastia Chandela, refletindo a paixão da dinastia pela arte proibida, representada através das esculturas eróticas que permeiam vários templos, uma divulgação da literatura do Kama Sutra.

Os templos ficaram escondidos vários séculos pela vegetação (tamareiras) e foram redescobertos em 1838 pelos ingleses. A história lembra a mesma situação vivida em Machu-Pichu, décadas depois. Existem diversos templos nessa área e o destaque maior é o templo Lakhmana, mais antigo e com esculturas mostrando a trindade hindu (Brahma, Vishnu e Shiva). Já o templo Devi Jagdamba é o que contém o maior número de esculturas eróticas. Outros destaques são os templos Varaha e Vishwanath.

A cidade ainda possui dois sítios de templos com entrada livre, o grupo leste (com alguns templos com arquitetura Jain) e sudoeste, com destaques para os templos de Parsvanath e Dulhadev. O ticket pago no grupo Oeste é válido como entrada no Museu Arqueológico da cidade, quase em frente ao lago e ao lado do hotel que fiquei. O Museu é pequeno, mas traz esculturas encontradas nos sítios e que são, portanto, similares aos padrões existentes nos templos. É separado em quatro alas diferentes, com arquitetura Saiva, Jaina, Vaishnava e uma ala “geral”. Fotos são, entretanto, proibidas.

E as sempre presentes crianças
E as sempre presentes crianças

Faltando apenas uma cidade para deixar a Índia, começa a bater a sensação de despedida do país. Aquela sensação de “ame” ou “odeie” que li em vários relatos na Internet é a mais pura verdade. Você precisa fechar os olhos para algumas coisas se quiser curtir melhor a viagem. O melhor mesmo do país são os indianos, não em relação aos seus costumes em si, os quais muitos são chocantes para a nossa cultura, mas de sua amabilidade, mesmo quando você sabe que eles querem uns trocadinhos seus.

No último dia de Khajuraho, um indiano que havia conhecido no primeiro dia me encontrou e convidou para jantar na casa dele. Achei uma boa oportunidade para conhecer uma família indiana de fato. A casa, modesta, reflete o seu modo de vida e a forma diferente de percepção de espaço e conforto. Trabalhava com turismo e morava com a mulher, dois filhos e os pais em quatro cômodos e banheiro externo. Posteriormente, levou-me até a estação ferroviária para mais um trem noturno.

O último choque cultural na Índia ainda aconteceria na próxima cidade, onde são realizadas cremações de mortos em público e suas cinzas jogadas no Rio Ganges, onde milhões se banham para purificação. O trem noturno sairia de Khajuraho às 23:40hs.

Seguindo a viagem, leia sobre a próxima parada: Varanasi.

Veja todas as fotos de Khajuraho no Google Photos ou então, as melhores fotos do norte da Índia no álbum do Pinterest.

As postagens dos roteiros e também dessa aventura que começou na Europa, passou pela Ásia, retornando ao velho continente, estão na página da viagem de 205 dias à Ásia.
Veja mais viagens e reflexões de viagens nessa página.

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nilce
11 anos atrás

Tudo muito bem narrado, a gente faz uma viagem junto com você.
O povo indiano deve inspirar confiança, pois aceitar um convite de um estranho para jantar….aqui no Brasil não da pra confiar não….

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