A viagem ao interior da Grécia: incríveis monastérios estabelecidos nos picos das montanhas.
Conheça a região de Meteora e as cidades de Kalampaka e Kastraki.
No relato anterior, falei da chegada à Grécia via Paris e o hotel que fiquei por uma noite. No dia seguinte parti para a região norte da Grécia: Meteora.
O trem para Kalampaka, última estação da linha, saiu às 08:27hs da Estação Central Larissa e o bilhete custou 18,30 euros. Existe também um que sai às 16:15hs para quem quiser chegar mais tarde. Ele sai da plataforma 1, em frente a entrada da área de embarque, e o viajante deve ficar atento para entrar no vagão correto, pois há uma troca de composição no meio do caminho.
Havia uma certa nostalgia, pois há um bom tempo eu não andava de trem, desde a época européia de dez anos atrás. O andar do trem (que não tem nada de “bala”) é macio, sem solavancos. A viagem, lenta, durou 5 horas e transcorreu sem problemas. Logo quando o trem sai da proximidade de Atenas, foi notável a mudança de relevo.
A planície se acidenta rapidamente tornando o terreno montanhoso. Isso mostra que de fato, os antigos atenienses tiveram um grande estímulo para se aventurarem pelos mares e para o comércio, pois a cidade em que viviam não oferecia condições adequadas para uma agricultura capaz de sustentar a crescente população.
É fantástico estabelecer paralelos históricos estando presente no local! O ponto alto da viagem, entretanto, ocorre na sua parte média, após à cidade de Lamia, quando a composição atravessa alguns desfiladeiros, muitos túneis e picos nevados. Esses, aparecem até o fim da viagem, cercando um extenso planalto já próximo da região de Meteora, em Kalampaka.
O ponto negativo foi o ambiente inadequado para as fotos. O sol contra a luz e a iluminação na cabine gerando reflexos impediram boas imagens. Durante o percurso são avistadas muitas obras de uma nova estrada totalmente inacabadas e abandonadas. Reflexos da falência do Estado grego?…
Kalampaka e Kastraki
Kalampaka é a porta de entrada da região de Meteora, local que abriga um complexo de monastérios erguidos no alto de grandes rochas na Idade Média por monges eremitas que fugiam da ocupação dos otomanos. Foram construídos 20 no total, mas hoje existem apenas 6 em operação.
Chegando em Kalampaka, apesar de ter acabado com os snacks do supermercado no trem, fui procurar algo rápido para comer, pois tinha a intenção de visitar um mosteiro no mesmo dia. Fui apresentado para o Pitta Gyros, que me pareceu a versão grega do famoso Donner Kebap. Dois deles alimentam muito bem e custaram apenas 4 euros. Logo em seguida, fui a Kastraki.
Kastraki é um vilarejo a 2km da cidade, e encontra-se no meio do caminho para os monastérios. É claro que fui a pé, pois havia lido que a estrada é muito agradável de se caminhar. Na verdade, visualmente não foi tanto assim, mas ainda vale a pena para sentir a atmosfera da região.
Inicialmente, fui procurar um local para passar a noite, pois não tinha feito nenhum contato, seguro que estava das vagas disponíveis por ser baixa temporada. E não me enganei: no primeiro local que visitei, a dona, após uma pequena pechincha, me cedeu um quarto com cama de casal e uma de solteiro (apoio de mochila), além de banheiro privativo, por 15 euros. Esse mesmo quarto, no mesmo dia, se reservado pelo booking.com, deduziria 32 euros da minha conta. Menos da metade!
Após deixar o mochilão no quarto, saí para a estrada dos monastérios. O primeiro ficava a pouco mais de um quilômetro.
A cidade no meio da tarde estava totalmente deserta. A região de Meteora, nesse quase inverno é fria, em torno de 5ºC. Depois que voltei ao hotel, já ao anoitecer, vi na internet que marcava -1ºC. Isso afugenta qualquer turista. Apenas os cães davam o ar da graça me seguindo em tudo que era lugar.
Assim que cheguei ao primeiro monastério, decepção: tinha fechado às 15:00hs e já passava meia hora desse horário. Um australiano que eu havia encontrado pela estrada informou-se que o próximo mosteiro fecharia às 16hs e não daria tempo para chegarmos lá. Resolvemos voltar à cidade e fazer a visita no dia seguinte, pela manhã.
Olhando algumas referências, decidi visitar o mais velho dentre os monastérios (St. Nicholaos) e o maior deles (Great Meteoro ou Metamorphosis). Pretendia posteriormente pegar um ônibus de Kalampaka à Trikalla e decidir o próximo roteiro – Delfos ou Peloponeso via Patra.
Os monastérios de Meteora
No dia seguinte, segui para o primeiro monastério, uma caminhada inicial fácil, apesar da temperatura de 3ºC. Já havia percorrido o caminho no dia anterior, mas a mudança da posição do sol deu uma outra tonalidade e iluminação nas rochas, além de que, o ar da manhã é sempre mais agradável. Como havia comentado, o monastério de St. Nicholaos é o mais velho do conjunto, datando do século 11 segundo o guia local. A subida é fácil e o caminho agradável, o que nos faz até desconfiar do que nos diz a história sobre a proteção que tinham dos otomanos. Mas o relevo pode ter sido, de fato, bem modificado por ações humanas.
O preço de entrada é convidativo – apenas 2 euros, e permite apreciar, além do monastério em si e suas duas salas com belos afrescos nas paredes e teto, uma linda visão da região vista do alto. O seu tamanho, porém, não permite que gastemos mais do que meia hora em sua visita caso não haja algum interesse específico no local. O melhor da manhã estava, entretanto, ainda por vir.
Caminhando mais 1 km ao longo da vazia estrada, encontro um aviso com um mapa, escritos em alemão, na entrada de uma trilha à esquerda. Essa placa (na verdade uma carta parecida com as cartas feitas para mapear regiões de escalada nas rochas), mostrava um atalho pela trilha pela vegetação, que alcançava os monastérios de Varlaam e o Great Meteoro, meu alvo, uma vez que o monastério de Varlaam estaria fechado na quinta-feira.
Cada um deles fecham em um dia específico na semana, e o viajante deve buscar essas informações, largamente distribuídas em folders ao longo das hospedagens.
Como ainda era de manhã e daria tempo para se perder e encontrar o caminho de volta, entrei sem hesitação e incentivo o mesmo a qualquer pessoa que já fez um simples trekking.
A trilha fácil, com vegetação pouco cerrada, proporciona momentos difíceis de serem revividos, ao menos para essa caminhada no final de outono. A época e a brisa faziam com que as folhas das árvores caíssem aos montes simultaneamente, em uma verdadeira chuva de folhas secas. Eram pequenos sustos a cada momento, com possíveis confusões com algum animal aproximando-se, misturados aos sons da neve craqueando sob seus pés e de pequenos cursos de água que desciam pela montanha.
Ao final, a trilha torna-se um pouco mais íngreme, e a visão do alto fica cada vez mais fantástica e estimula ainda mais a subida. Depois de uns 30 ou 40 minutos, alcancei a estrada exclusiva do monastério de Varlaam para quem o alcança por essa via, ainda com neve. Mais adiante após uma pequena caminhada e uma escadaria, chega-se à entrada principal de Varlaam, que estava fechado, como citei anteriormente.
Conheci nessa entrada dois curiosos franceses, que ajudam a alimentar ideias mochileiras. Um deles, David, estava fazendo a viagem com uma moto pequenininha, de 125cc (e parecia que tinha 50cc). Já Claudio, viajava com um trailer puxado por um trator. Encontraram-se em algum ponto e nesse dia, David tinha dado uma carona para Claudio na moto. Quando pensamos que podemos ser realmente aventureiros sempre aparece uma história mais maluca no nosso caminho rs…
O caminho para o monastério Grand Meteoro era pela estrada e curto, cerca de 500m, porém uma boa subida. David pediu que eu esperasse onde estávamos, levou Claudio até lá e voltou para me buscar. E lá estava eu, de carona em uma moto que parecia de brinquedo, em uma estrada cheia de gelo a muitos metros de altura. E claro, sem capacete. Acho que lá não é obrigatório, pois vi alguns motociclistas zanzando pelo centro de Kalampaka de cabeça vazia.
Perigos? Nem tanto. O maior perigo que passei foi descer as escadarias do monastério com o gelo formando aquelas placas escorregadias. Quase caí várias vezes. Lembrou-me muito o inverno alemão.
O Great Meteoro foi um show à parte. Deixou o St. Nicholaus comendo poeira. O ingresso, no mesmo valor, vale cada centavo do investimento. Pela comparação de ambos, St. Nicholaus acabou sendo caro… O monastério é o maior da região de Meteora e assemelha-se a uma mini-cidadela. Até pontos de observação com canhão possui.
Os mirantes são belíssimos (ele também é o mais alto), cômodos muito bem preservados com instrumentos da época, ao menos 5 salas que são verdadeiros museus, com exposição de livros e evangelhos escritos a mão desde o século XI, pergaminhos, quadros, objetos litúrgicos, exposição militar, e lindos afrescos nas paredes e tetos em algumas das salas. As fotos revelam por si próprias, a beleza do local. Pena que em alguns lugares as mesmas não são permitidas.
Decidi fazer o retorno pela estrada, e não pela trilha. Apesar de mais longa, imaginei a possibilidade de observar o vale e as montanhas por outros ângulos. Na estrada, ainda totalmente vazia e ainda gelada, apenas eu e Stephano, um italiano que conheci no mosteiro. Estava em férias de apenas 7 dias e visitava Atenas, Meteora e Tessalônica. Mesmo sem possuir tempo, as viagens solo atraem muitas pessoas e afastam a possibilidade de imaginar uma viagem em que estaremos, de fato, sozinhos no mundo…
Nos separamos rapidamente em uma bifurcação da estrada, pois ele ainda veria um outro monastério no dia. Sobrou para mim a caminhada de volta à Kastraki, interrompida depois de cerca de um quilômetro com o oferecimento de uma carona por um casal que descia a estrada.
Voltei à Guesthouse, peguei minha mochila principal e outra mamata: a filha da Dona Marina, proprietária do local, e uma amiga estavam indo de Pajero para Kalampaka e me ofereceram uma carona. Eu podia ir andando, pois caminhar nesses locais não tem nada de ruim mesmo, mas fica chato recusar… Acabaram me deixando na porta da única atração que havia pesquisado na cidade de Kalampaka, a velha Igreja Bizantina.
A igreja estava em reforma e basicamente oferecia afrescos bizantinos para serem apreciados, além de um altar no meio de seu átrio. Fica no alto de um morro com uma bela vista da cidade, e sua entrada custa 1,5 euro. Porém, na pressa, caso o viajante não se interesse por pinturas bizantinas, não precisa fazer questão de visitá-la.
Na estação rodoviária de Kalampaka, só existe um destino – Trikalla (2,30 euros). Você pode, porém, comprar no mesmo balcão, ônibus de Trikalla a outras cidades. Eu estava em dúvida se ia ao Peloponeso ou Delfos. Comprei uma passagem de Trikalla para Lamia (11,80 euros), que era uma cidade onde podia comprar esses outros tickets diretamente. Decidiria no momento. Como verão no próximo post, eu me decidi por Delfos.
Próximo post: Cidade de Delfos.
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As postagens dos roteiros e também dessa aventura que começou na Europa, passou pela Ásia, retornando ao velho continente, estão na página da viagem de 205 dias à Ásia.
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Oi, André!
Muito legal acompanhar a viagem por aki!
Curta bastante!
bjs
Maria Helena
Que bom! Obrigado! Bjus!
Muito legal pai, aproveita bastante!!! ja estou com saudades, se cuida! te amo!
Sara
Classe "A " passar por esses lugares históricos, é como viajar no tempo hein Dé! Sem contar que os dias parecem lindos aí! É a boa sorte acompanhando vc em sua "Viagem Lenta".
Bjkas e curta bastante! Fabi
Obrigado linda!!! Amo vc muitão!!! Bjus!!!
Vc é transferido para outra dimensão Fabi!!! Obrigado e beijão!!!