Essa dúvida me aflige. A leitura do texto que mostra, aparentemente de forma racional, que todo assalariado é um escravo, atormenta meus sentidos há tempos. Ok, eu sou! Mas eu quero! Quero?
Não é tão fácil explicar como me sinto. É verdade que sou obrigado a trabalhar para oferecer o padrão de vida que eu e minha família temos. Mas eu também penso que não quero ser escravo de uma liberdade que sei lá quando vai chegar. Se chegar! E nesse tempo, não quero deixar de oferecer a minha família o que eles merecem. Ou o que eles já estão acostumados. De um jeito ou de outro, não acabo sendo um escravo?
Cada economia, cada imposição, cada centavo economizado, também não é uma forma de escravidão? Me desculpem as pessoas que estão planejando a vida FIRE*. Mas, de uma forma ou de outra, vocês também não são escravos disso tudo? Não são obrigados a viver uma vida regrada sem saber, no fundo, o que lhe aguarda no futuro?
Essa crise atual, por exemplo, o quanto adiou a independência financeira de vocês?… Quantos sonhos foram postergados? Não fica nem um pouco de arrependimento de não ter gasto algo mais aqui e ali?
Ok, concordo também que corro riscos de perda de emprego e de dificuldades de recolocação se o pior ocorrer… Há muito o que ponderar. É uma carga enorme para absorver se, desde cedo, você não se acostumou a viver com menos. Independência financeira, minimalismo, orçamentos… são termos meio novos para mim…
Meus pais viveram em abundância. Tive vizinhos e amigos de escola que esbanjavam riqueza a olhos vistos. Senti o gostinho da boa vida e criamos nossos filhos dessa forma. Agora vem essa ideia de escravo, FIRE, tempo livre… Dá um nó na cabeça…
Deixar de ser “escravo” não é tão fácil como dizem
Ser FIRE não é para todos… Ou melhor… as dificuldades que são impostas às pessoas que desejam alcançar a independência financeira não são equivalentes. Cada um possui uma vida única, e as consequências em economizar ou mudar o estilo de vida são totalmente diferentes. Evitar julgamentos precipitados, muitas vezes é a decisão mais sábia. Advogando em causa própria, é muito difícil para um pai dizer simplesmente à sua família: corta isso, corta aquilo.
Tenho, porém, consciência de que pensar no futuro é importante. Lá no fundo, sei que os “FIRERs” estão certos. O problema é que não é fácil para quem direcionou sua vida de uma forma completamente diferente e já está com seus 40 anos, com filhos pré-adolescentes. Dói mudar o que está estabelecido. Aparenta fracasso pessoal. Seja para a família como para os amigos. Vocês hão de convir que é uma situação complicada.
Como dar uma reviravolta na situação? Qual a forma certa de falar sobre o assunto com eles? Onde está o equilíbrio que tantos falam? Quando se trata de uma pessoa só, ok, não é tão difícil. Mas quando somos quatro? O que priorizar? Viver em um misto de inferno e incompreensão no presente para garantir um futuro incerto? Ou garantir paz no presente e ver o que acontece? Ao menos, na segunda opção, temos alguma certeza, não?
Procuro, mas ainda não tenho as respostas. Imagino qual alternativa os leitores do Viagem Lenta assinalam. Meu contraponto é que, para um grande público, que normalmente não acompanha o conteúdo da finansfera, o parecer não é trivial. Há inclusive muitas opiniões diversas, como mostra o furor que causou o post do blogueiro Corey certa vez.
O fato é que não é apenas uma decisão racional, visto que as teias que prendem essas pessoas à corrida de ratos são profusas e pendem muito mais para o lado emocional. Não existem soluções simples para problemas complexos. Tenho aprendido, entretanto, que precisamos ir por partes. No devido tempo, vou compartilhando mais ideias e reflexões desses conflitos por aqui.
* FIRE: Financial Independence, Retire Early, o que pode-se traduzir livremente para “Independência Financeira e Aposentadoria Antecipada”. É um movimento que existe já há algum tempo nos Estados Unidos e tem despertado interesse crescente no Brasil. Veja mais aqui.
A partir do final de março de 2020, esse blog passou a ter mais de um autor. Seu nome aparece sempre abaixo do título da postagem. Cuidado para não fazer confusão 🙂
Veja a nova ideia editorial e acesse seus perfis nessa página.
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Olá Bansir! Entendo seus pensamentos, muitas vezes me pego pensando o mesmo… Não sei se é pq estamos nessa crise, vendo que as empresas vivem a 30 dias de distância da falência, quantas pessoas vivem também no limite do orçamento e já estão até passando fome que estou me questionando muitas coisas. Antes eu já reparava que tenho parentes que sobrevivem com 1 SM e vivia me perguntando porque eu preciso de tantos salários para sustentar minha família… Pq as minhas necessidades são tantas e as dos outros não seriam, eles conseguem e eu não? Foi uma forma de ver… Leia mais »
É verdade, Cinthia. No fundo, sei que a liberdade é mais importante. Apenas estou vendo como conciliar essa ideia com a família toda. Acredito que pela vergonha em diminuir padrão de vida, estou me vacinando. Mas sinto que eles ainda não estão preparados. Por isso essa agonia em encontrar o peso certo nisso tudo. Sobre o emprego, acho que temos sintonia. O que vem junto com o salário maior é mais serviço e menos sossego. Isso é uma coisa que a maioria das famílias, principalmente se a esposa fica em casa, não entendem. Vale sempre o melhor salário. Mas o… Leia mais »
Bansir,
Boa reflexão.
A vida é feita de escolhas.
Mais consumo = mais horas de trabalho para que o status seja mantido.
Menos consumo = mais tempo e uma visão mas apurada sobre o que é realmente importante.
Na corrida de ratos, o lado emocional tem um peso muito grande, até por que o marketing nos faz crer que precisamos comprar e/ou trocar objetos que ainda estão em bom estado e funcionando bem. Cabe à cada um de nós escolher se seguiremos por esse caminho ou não.
Boa semana.
É verdade S&H. Estou ligado nessa ideia de ver o que é importante. Já li alguns textos no seu blog e aqui no VL. Talvez seja a maior agonia saber que preciso seguir esse caminho, mas também quero manter a estabilidade familiar. Se eu não tivesse encontrado a Finansfera, talvez não estivesse nessa agonia… Mas também não teria descoberto o caminho para a liberdade, mesmo que não consiga alcançá-lo tão rápido…
Obrigado pelo comentário. Boa semana.
Oi Rosana! Vou pegar uma carona aqui comentar que estou com problemas de login no Blogger, tentei comentar no seu site e não consegui.
Isso ocorreu depois que limpei os “cookies” no Chrome e ele não está mais reconhecendo o login no Blogger. O interessante é que não consigo postar nem como anônimo…
Qdo der um tempinho, vou ver isso com calma! Abraço e bom resto de semana!
André,
Estranho… Pelo que sei, limpeza de cookies não teria essa abrangência, até por que depois você insere os dados novamente. Nunca limpei os cookies no Chrome, mas como Blogger e Chrome são do Google, talvez exista um link entre os dados.
Você tentou por outro browser?
Mais estranho ainda por você não conseguir postar nem como anônimo…
Espero que em breve consiga solucionar esse problema.
Um bom resto de semana à você também!
Rosana, é muito estranho mesmo. Já tentei pelo Edge também, e é a mesma coisa. O campo da conta do Blogger fica com aquela carinha anônima, mas eu estou logado nele pelo navegador. Acesso email do Gmail, meu antigo blog, etc. Mas quando vou comentar em qualquer blog do Blogger, ele impede.
A limpeza dos cookies pode ter sido coincidência, mas eu percebi depois que fiz isso. Já procurei algo na net e não achei…
Mas, vamos tentando aqui! Bom feriado!
André,
Estranho a carinha de anônimo se você está logado na conta do Google.
Tente fazer um teste pelo celular ou outro computador. Foi a única dica que encontrei na net…
Bom feriado para você também! 🙂
Olá Rosana. Eu não havia tentado pelo celular, mas ocorre a mesma coisa: https://prnt.sc/rydzbg. E olha que estou logado. Meu Android trabalha com o [email protected].
Mesmo nas outras opções, o comentário não é publicado.
Vai entender…
Obrigado pela ajuda e boa semana!
Que estranho…. Olhei até na pasta spam para ver se os comentários estavam lá, mas não estão…
Espero que em breve consiga solucionar esse enigma. Se eu encontrar alguma outra ideia, posto aqui.
Boa semana para você também!
Acabei de deixar dois comentários no seu último post. Um colocando nome e site (o campo do email não estava disponível) e outro anônimo. Na hora, não apareceram. Pela conta do Blogger é impossível. Não aparece minha conta, embora eu esteja logado no navegador… Se não aparecer para vc aprovar e nem no spam, não consigo comentar de jeito nenhum…
Não aparece nem na pasta spam…. Que estranho isso. E o mais chato é que não há nada na ajuda do Google sobre isso…
Em todos os sites hospedados no blogger acontece o mesmo com seus comentários?
Sim, Rosana… Em todos os Bloggers…
Oi, André
Conseguiu resolver o bug da sua conta do blogger?
Nada Rosana… Tudo do mesmo jeito…
Essa semana li um post da finansfera (não lembro agora… talvez do Engenheiro Investidor?), onde o autor disse que está com o mesmo problema…
E sua transição para o WordPress, vai acontecer?
Abraço!
1) Cada um de nós tem o seu nível de “segurança” em relação a necessidade ou não de economizar. O importante é estar satisfeito com ele e seguir seu rumo de uma forma psicologicamente sã. 2) Em última instância, todos somos escravos de algo – ainda que não seja do trabalho para ganhar dinheiro – será das necessidades biológicas e corporais ou mesmo de certos hábitos… Agora, não somos 100% escravos – novamente voltamos ao equilíbrio rs – há uma porcentagem de manobra aí. E importante: equilíbrio é algo pessoal, é para o universo particular de cada um. Não é… Leia mais »
Minha satisfação seria conciliar essas ideias de liberdade com minha família, Renato, e é isso que não tenho conseguido. E aí o psicológico não fica muito são. Concordo com seu comentário da escravidão. É esse equilíbrio que quero usar para conciliar essas ideias com os apetites de consumo familiar. No fundo, uma reflexão que fica é “o que é cada um”. Quando somos solteiros, ok, é fácil. Mas com família e filhos, a família é o “um”. Mas um “um” com opiniões diferentes. Parece aquele desenho do Picapau ou do Tom & Jerry que aparecia dois seres, geralmente um bonzinho… Leia mais »
Orçamento familiar é complicado mesmo. Mas eu vejo 2 perspectivas ai, que podem ser mescladas para diferentes campos: – Cada membro ter seus gastos individuais, seja por “mesada” ou pelo ganho próprio mesmo do membro da família. – Sendo apenas uma única pessoa quem coloca dinheiro na casa, é preciso que esta pessoa tenha um poder maior para decidir quanto vai ser gasto em algo e por quê. Quem paga, provê e o restante da família precisa entender e se virar com o que é oferecido. É claro que não precisamos radicalizar aqui – e quanto mais dinheiro for possível… Leia mais »
E por aí mesmo, Renato. Estou no segundo caso e procurando equilibrar melhor as coisas desde que descobri a finansfera. Antes o desejo de prover era mais superficial, com vistas somente ao presente. Agora estou tentando colocar na cabeça da galera que temos que pensar no futuro também. Mas é uma mudança de paradigma. Tem de ser feito com cuidado mesmo, sem radicalização.