Relato de viagem ao sul da Índia: Thanjavur e Trichy e seus incríveis monumentos como o templo Bridhadesswara, Rockfort e Sri Ranganathaswamy.
Acordei bem cedo em Pondcherry para o próximo destino, que ainda estava em aberto entre as duas cidades-título dessa postagem. Havia recebido informações conflitantes dos horários de ônibus e iria pegar o primeiro que aparecesse, para qualquer uma delas. Chegando no terminal, veio uma outra informação: domingo não havia ônibus direto para nenhuma delas. Deveria pegar um ônibus para Viluppuram e de lá procurar esses destinos.
O ônibus saiu pouco antes das 6 da manhã e levou uma hora até a cidade. Esses dois dias foram excelentes na convivência com os indianos. Já nesse ônibus, conheci um senhor que me ajudou a localizar, em Viluppuram, o ônibus para Trichy (assim que cheguei já estava saindo, e fiz minha escolha de destino na hora).
Como cheguei em cima do horário peguei o ônibus lotado e me espremi por lá. Agora eutinah entrado no clima de um ônibus indiano de verdade… Conheci algumas pessoas que gostavam de conversar. Rapidamente alguns se espremeram para dar uma beirada do banco para eu sentar. Uma beirada de cerca de 20 centímetros… E ficamos batendo papo a viagem toda, de quase 4 horas de duração. A noção de espaço deles é diferente da nossa. Antes do meio do caminho, muitas pessoas desceram e o aperto diminuiu.
Na conversa, conheci mais um pouco da Índia, dicas de pontos para visitar, dos hábitos das pessoas e etc. E passei algo do Brasil também, que eles sempre são curiosos em saber. Um deles escreveu em tamil no meu caderno de notas todos os nomes das cidades que eu iria, para eu poder localizá-las na frente de cada ônibus. É estranho sentir-se um completo analfabeto frente a um alfabeto tão natural a eles. Para uma ideia de preços de ônibus, gastei 105 rúpias nessa manhã, em uma viagem (lenta) de 5 horas. Isso mesmo: 2 dólares!
Cheguei em Trichy (ou Tiruchirappalli) por volta das 11 da manhã. O terminal de ônibus fica em uma área central e ao lado existem bastante hotéis. Fiquei no primeiro que encontrei, e saí rapidamente para ir a Thanjavur (ou Thanjore) ver o famoso Templo Bridhadeeswara. O ônibus partia do mesmo terminal e novamente, por sorte, estava de saída. Aliás, a sorte estava do meu lado em todas as viagens de ônibus que fiz nesses dois dias (ou a frequência dos mesmos é muito alta): nunca esperei mais do que 3 minutos.
Curti por alguns momentos a aventura de viajar ao lado do vão onde deveria existir a porta do ônibus (eles não possuem portas). Parece estranho, mas dá uma sensação de liberdade e de capacidade de auto-defesa contra todas as coisas que o mundo tenta nos proteger. Nossa sociedade está ficando cada vez mais chata com tanta proteção contra tudo e na Índia essa sensação ainda é possível de ser sentida. É como andar de moto sem capacete, onde o prazer perpassa a sensação de segurança. Em Trichy ainda tive que pegar outro ônibus para o terminal antigo, que fica próximo ao templo.
O templo Bridhadesswara foi construído no século XI no Reinado dos Cholas e é considerado um grande marco na evolução das construções do sul da Índia. Não é apenas um templo, e sim um grande complexo fortificado com muros e muito bem conservado. Guarda um santuário de granito dedicado ao deus Shiva e é cercado por corredores com pinturas e outras imagens de deuses. Foi o local na Índia onde, até agora, pude sentir o real esplendor de uma grande civilização do passado. A área é tombada como patrimônio da humanidade pela UNESCO.
Contornando as muralhas do templo externamente, chegamos ao parque Siva Ganga e ao lado encontra-se a Schwartz Church, que, além de não ter nada de especial, revela um grande acúmulo de lixo ao seu redor, assim como em toda a área externa ao templo. Outro local visitado foi o Palácio Maratha, residência oficial dos governantes do século XVII ao XVIII. Esse local já não está muito bem conservado (suas paredes externas são painéis para colagens de cartazes, muito acúmulo de teias de aranhas nos tetos, morcegos, etc…) mas guarda em sua biblioteca (Saraswathi Mahal) alguns materiais interessantes, como muitos livros e mapas europeus e indianos, além de escritos em folha de palma, a maioria em sânscrito. Muita pinturas das cidades indianas, feitas no reinado do rei Saraboji, encontram-se disponíveis. Pena que as fotografias eram proibidas, havia muito a ser fotografado… Estátuas de bronze do período Chola são expostas na Art Gallery, ao lado da biblioteca.
Voltei posteriormente para Trichy através das duas viagens pelas mesmas linhas de ônibus. As quatro viagens (ida e volta) custaram algo próximo a 40 rúpias. Em Trichy resolvi comer uma comida chinesa dessa vez. Mais apimentada que eu esperava, mas o Lassi, comprado em uma barraquinha, me salvou novamente. Não sei qual dos dois me deu uma indigestãozinha na manhã seguinte. Primeira experiência na Índia…
No dia seguinte a proposta era conhecer os dois principais templos da cidade e andar um pouco. Ficar próximo ao terminal de ônibus foi uma mão na roda. No mesmo local peguei o ônibus número 01 (esse foi fácil de identificar) que faz esse circuito. O ônibus pára em frente à bela Igreja de St. Joseph, construída em 1792. Atravessando a rua segui em direção ao Rockfort Temple (25 rúpias, incluindo taxa da câmera), que, na verdade, é um complexo de templos, e um deles (Arumilgu Uchipillayar) guarda a imagem do deus Vinayaka, está no topo do rochedo e oferece uma linda vista de 360º da cidade.
Na escadaria que leva ao topo, parte esculpida na própria rocha, existem pequenos templos nas laterais onde muitos hindus estavam presentes, recebendo as dádivas de seus gurus. Em um ponto particular, algumas pinturas decoravam o local, e uma delas chamou-me a atenção por assemelhar-se muito com as pinturas católicas que retratam a vinda do messias. Ajuda a aceitar que todas as religiões parecem ter uma motivação comum: a redenção da vida. Formas e meios são suas variáveis.
Nesse templo conheci uma indiana, Phrinca, que falou um pouco sobre as festas (a que está ocorrendo nesse período chama-se Pongal) e o motivo pela qual está cheia de turistas vindos de outra parte do país. Falou um pouco sobre o templo e o significado de tantos deuses para os indianos.
Mas aula mesmo eu recebi no templo a seguir, com um líbio-italiano radicado na Índia há 30 anos. Dentro do templo Sri Ranganathaswamy, após me interpelar que eu estava entrando em um local exclusivo para hindus, passou mais de meia hora explicando muitas coisas sobre o hinduísmo, seu verdadeiro significado e que não está presente na maioria dos indianos com seu típico materialismo (percebi isso na conversa com os indianos no dia anterior, quando me perguntaram minha renda, que tipo de casa e carro eu tinha, etc…).
A conversa do Dindaial (era seu nome) agradável e deixei ele continuar. Falou muitas coisas com as quais concordo, como a forma com que o materialismo pode distorcer certos valores e impedir a pessoa de viver o que realmente importa na vida. E ainda, como muitas pessoas usam a religião como uma forma de arbitrar os bons valores a si próprio sem praticá-los no dia a dia. Sim, o Dindaial era bem esperto.
Bem, e falando do templo em si, ele possui a mesma configuração física do templo de Thanjavur, ou seja, é uma grande área, outrora fortificada, com 4 entradas colossais e muitos templos internos. Sua idade é estimada em mais de 2000 anos. Não hindus não podem entrar na área central do santuário dourado, mas podemos subir ao telhado do primeiro templo de forma a observá-lo de longe (10 rúpias para tal). O templo geral é considerado o mais antigo do deus Vishnu (um dos deuses da trindade hindu; Brahma e Shiva a completam) e possui a mais alta torre de entrada de um templo do mundo (Raja Gopuram, com 60 metros).
E como sempre, os indianos usam o templo como um local de comércio, social e comunitário da forma que bem entendem (não, não é uma crítica, mas é estranho). Nesse último templo, um deles levou até um elefante para seu interior com o intuito de “abençoar” as pessoas em trocas de moedas… Ambos os templos de Trichy ficam a mais de 5km da cidade e gastei 16 rúpias em três ônibus para ir e voltar (sim, acreditem, isso é menos do que R$ 1 real).
Voltando à cidade, após um pequeno descanso no hotel, jantei uma comida indiana para indianos, não para turistas, num restaurante próximo ao hotel. Era um restaurante simples e sem estrangeiros, apenas moradores locais. O valor do almoço denunciava seus clientes (de 40 a 60 rúpias a refeição). Os indianos comiam a comida com a mão, sobre uma folha de bananeira, que por alguns, era “lavada” com a água do copo que sempre vem antes da refeição.
Eu estava me preparando para fazer o mesmo e experienciar isso, mas a minha comida vegetariana (paneer, o queijo cottage deles) veio em uma bandeja num potinho em cima da folha de bananeira, com uma colherzinha. Acho que o garçom percebeu que eu estava olhando muito as pessoas e trouxe-me algo menos tradicional. Mas ok, terei outras oportunidades para pedir antecipadamente na folha de bananeira. E quem não pega a coxa de frango e faz o mesmo no Brasil rs?
Seguindo a viagem, leia sobre a próxima parada: Madurai.
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As postagens dos roteiros e também dessa aventura que começou na Europa, passou pela Ásia, retornando ao velho continente, estão na página da viagem de 205 dias à Ásia.
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Oque tem nesse prato alem do queijo cottage, parece miojo, mas comer com as mãos !!!!parece difícil…
É um arroz cheio de pedacinhos de legumes… rsrs