Relato da viagem ao sul da Índia: Chennai e Mahabalipuram – Shore Temple, dinastia Pallava, Five Rathas, Krishna´s butterball.
Após a longa escala em Riyad, na Arábia Saudita, parti para a Índia, em Chennai. A cidade foi escolhida por ser a porta de entrada internacional do sul do país, ou mais especificamente, do Estado de Tamil Nadu, o primeiro local a ser visitado nesse país complexo. Uma região que, por estar mais distante das rotas de comércio da antiguidade e das batalhas no Norte com outros povos, sofreu menos influência de outras religiões e possui uma largo legado de civilizações primitivas, que já professavam o hinduísmo a mais de 20 séculos a.C., o que a torna, documentalmente, a mais antiga religião ainda seguida no mundo.
Em Chennai, eu reservei pela internet um hotel próximo ao aeroporto, pois iria lá encontrar uma amiga cujo voo chegaria na manhã seguinte. A ideia no dia da chegada seria apenas descansar um pouco da viagem. Porém, a experiência não foi boa. O local, a rua, o cheiro, o calor, eram terríveis. Imagine a Índia maluca que você vê em filmes. Era assim. Com muita dificuldade de encontrar um supermercado decente, de entrar na internet (no hotel, embora no booking.com mostrava a existência de wi-fi, ele estava com problemas), e de se fazer uma simples refeição com segurança.
O barulho de buzinas é ensurdecedor, mesmo dentro do quarto. Lá fora, ruas sem calçadas, disputa de espaços com pessoas (milhões), motos (milhares), tuktuks e carros (centenas) e vacas (dezenas). O alento foram as pessoas, sempre gentis na tentativa de ajudar, porém com um inglês bem difícil de entender. Enfim, esse primeiro dia foi um choque cultural enorme, que aliado ao cansaço da viagem, me deixou meio em transe. Precisava me recompor em outro local. E foi para esse local que fui com essa amiga no dia seguinte junto com um grupo de viagem: Mahabalipuram.
Mahabalipuram fica a cerca de 30km de Chennai, uma distância que a van demorou mais de uma hora para percorrer, em virtude da loucura do trânsito na saída da cidade. Procurei uma guesthouse e encontrei rapidamente uma em frente à praia, com banheiro privativo e ar condicionado: Seawaves.
A cidade é muito bem servida de guest-houses, não há necessidade de reserva antecipada. Os preços variam, mas é fácil encontrar algo bem decente por 500 a 800 rúpias por noite (cerca de 10 a 16 dólares). Tenho certeza que existam valores abaixo disso, mas as condições são piores; vi algumas delas enquanto passeava pela cidade.
A Seawaves cobrava 800, mas eu fechei duas noites por 600 cada. E fiquei uma terceira posteriormente. De fato, o preço da hospedagem não parece muito atrativo quando comparamos com outros locais ou quando vemos relatos de que a Índia é muito barata. Mas é no dia a dia que isso é percebido, principalmente na alimentação e preço das atrações turísticas.
Só para exemplificar, esse post representa 4 dias completos na Índia. Nesse período, eu gastei 27 dólares por dia, tudo incluso: hospedagem, três refeições completas por dia em restaurantes (algumas com cerveja, que aqui é comparativamente cara), entrada para todas as atrações da cidade, internet em lan-house e uma prática ayurvédica de Siro Dhara… Impressionante, ainda se pensarmos que é uma cidade turística!
A cidade é sede de um dos maiores complexos de templos da Índia, erguidos em sua maioria na dinastia Pallava, que atingiu seu apogeu entre os séculos VIII a.C. e VII a.C., antes, portanto, do apogeu da civilização grega. Em nossos estudos de história escolares, omitem-se muito os estudos da civilizações orientais, o que nos deixa com uma compreensão parcial da verdadeira História Geral do mundo.
Muitos desses templos em Mahabalipuram são monolíticos, esculpidos na própria rocha, e seus maiores representantes são os “Five Rathas”. O Shore Temple, esse não monolítico, é a mais antiga estrutura da cidade e guarda um templo no seu interior dedicado à Shiva. Fica em frente ao litoral e vem sofrendo deteriorações em virtude da erosão.
Para ambos os templos, o custo de entrada é de 250 rúpias (ou 10 rúpias se você for indiano). Vale checar também o Museu das Esculturas. Mesmo que não aprecie, você não perderá muito: apenas 5 rúpias a entrada, ou o equivalente a 20 centavos de real. O farol, que ainda funciona, possui um vista privilegiada da região e cobra apenas 20 rúpias para permitir sua subida (menos do que R$ 1,00).
O Parque Arqueológico (entrada livre) guarda muitos templos, animais esculpidos, grandes painéis escavados em rocha e a curiosa Krishna´s Butterball. O ambiente animal é muito rico no parque e na Índia em geral. Vacas, cabras, corvos, cães, macacos e porcos convivem ao seu lado, constantemente. Só não vi gatos. Talvez não estejam aptos para sobreviver nesse ecossistema…
Afora os monumentos históricos, a cidade é muito amigável e aconchegante. Claro que não podemos comparar padrões indianos com europeus, entretanto. O choque cultural ainda existe, mas aqui, o clima é infinitamente mais agradável em relação à Chennai, que desisti de voltar. Apenas a rua principal, distante uns 3 ou 4 quarteirões da área mais turística próximo à praia, tem algum purupupu de buzinas. O restante das ruas é uma gostosa tranquilidade, cheia de comércio de roupas, restaurantes, casas de práticas ayurvédicas e de esculturas em geral, principal produto feito pelos artesões da cidade.
Diferentemente da Europa, onde a máxima é “quem converte não se diverte”, aqui é o contrário. Se converter o valor dos preços para reais, você quer levar tudo. Uma colega do grupo de viagem comprou dois vestidos por menos de 15 dólares e disse que não encontra algo parecido no Brasil por menos de 200 reais. Eu nem fui atrás de roupas, pois nem tinha como colocar na mochila. Quando estiver saindo da Índia, vamos ver… talvez faça uma troca de guarda-roupa.
Nas lojas, os vendedores, apesar de chamar sua atenção, não são insistentes e podemos puxar conversas normalmente com eles sem ter a obrigação de comprar nada. Na Turquia eu já sentia algo negativo em entrar em uma loja e não comprar nada. Como fiquei três dias na cidade e na saída da guest-house passava pelo mesmo caminho todo dia, já era normal cumprimentar os vendedores com quem já tinha conversado.
Como primeira impressão, você acaba sentindo-se em casa, um sentimento bem diferente de forasteiro que costumamos sentir nos EUA e Europa. Vamos ver se é uma impressão da cidade ou do país como um todo.
O clima de praia ajuda a compor a atmosfera do local. Uma parte da praia é praticamente exclusiva aos botes de pesca, e pela manhã, muitos pescadores trançam e arrumam suas redes após a pesca realizada. Na área mais aberta (a área do Shore Temple divide essas áreas), muitos indianos usam a praia como encontro, atividades religiosas e diversão para as crianças. Todos com roupas.
A cidade é local de peregrinação para os hindus no país, estando sempre cheia de pessoas usando suas roupas típicas. Existe também um fluxo razoável de europeus, principalmente franceses. Alguns já estabeleceram até comércio na cidade, como restaurantes e livrarias. Como estamos na alta temporada, a cidade tinha todo dia um show de danças típicas próximo à área do Shore Temple, mas não gostei. Pareceu-me algo exclusivamente para atrair turistas e não algo que fariam por si só. Além do que, não gostei do tipo de dança e música. Mas durante o show, era obrigado a ouvir continuamente o ruído dos shows, independente de onde estivesse, em função dos alto-falantes instalados pela cidade.
Meu primeiro contato com a comida indiana foi positiva. Depois de um aula que recebi, fiquei esperto para escolher corretamente. Em Chennai vivi a primeira lição: nada de masala, um tempero absurdamente apimentado. Comprei uma batata Lays em Chennai com masala e não consegui comer. Os pratos com paneer (queijo cottage) são muito gostosos para quem não deseja carne e a entrada raitha (iogurte com legumes) junto com naan ou chapatt (pães) é sempre muito boa. Os diversos pratos de curry com arroz e a bebida lassis (iogurte com diversos sabores) completam os pratos principais experimentados na cidade. Nos intervalos das refeições, alguns salgados industrializados, chocolate e banana, seguros contra contaminações.
Em Mahabalipuram tive meu primeiro contato com o tratamento ayurvédico. Submeti-me a um Siro Dhara (700 a 1000 rúpias). Diz-se que alivia o stress e mais (claro) uma porção de coisas, em virtude da aplicação contínua de óleo no 6º chacra Ajna (situado no meio da testa), revitalizando o sistema nervoso.
Nessa prática, você inicialmente recebe uma massagem na cabeça com óleo por uns 10 minutos e deita sobre uma cama de madeira. Após um tempo de preparação (5 min), onde seus olhos são cobertos e um tipo de tiara de pano é colocada na sua testa, você começa a receber continuamente um fluxo de óleo morno e aromatizado, movimentando-se pela sua testa, durante uma meia hora. Claro que o óleo vai todo para o cabelo e a pessoa que está na prática aproveita para usar esse óleo para massagear toda sua cabeça. Algumas vezes havia massagem na mão e pés também, mas de forma rápida.
O ambiente para relaxamento é muito bom, e a pessoa que se desliga fácil amaria estar no meu lugar. Eu gostei da prática, mas consegui dar uma relaxada somente no final. Eu ainda vou aprender a esvaziar a mente de forma mais natural… Adquirir essa capacidade é hoje um dos maiores desafios da minha vida. Vou fazer de novo em outras oportunidades.
Seguindo a viagem, leia sobre a próxima parada: Pondcherry e Auroville.
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As postagens dos roteiros e também dessa aventura que começou na Europa, passou pela Ásia, retornando ao velho continente, estão na página da viagem de 205 dias à Ásia.
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Sempre tive curiosidade em conhecer a Índia, apesar de saber de algumas coisas que você relatou acima. Mas, bom saber que nem em todos os lugares são iguais e por falar nisso, você conseguiu caminhar entre os animais sem sustos?
Bom, de qualquer forma, já sei que Chennai não fará parte de meu roteiro, mas, Mahabalipuram pelo seus comentários pareceu bem aconchegante…
Legal que você permitiu que fizessem a massagem ayurvédica. Quando você voltar posso fazer uma aplicação de Reiki para relaxar o corpo Emocional e o mental e com o tempo você consegue este relaxamento sozinho…
Beijos
Aqui é um susto atrás do outro Nina. A massagem completa eu não fiz. Só o Siro Dhara que inclui uma massagem na cabeça apenas. Depois vc me mostra então! Bjao!