Cresci em meio a amigos ricos. Suas famílias eram bem mais abastadas do que a minha, embora morássemos no mesmo condomínio. Entretanto, enquanto meus pais suavam para pagar a prestação de nossa casa (menor do que meus vizinhos), muitas vezes limitando despesas como viagens, carros caros, etc, os pais de meus amigos ricos pareciam que levavam tudo com um pé nas costas. Claramente a gente possuía um estilo de vida acima do que meus pais podiam pagar.
Mas não sou alguém que cospe no prato que comeu. Apesar de alguns apertos, meus pais puderam me proporcionar um bom estudo, o que fez eu chegar em uma boa posição no mercado corporativo. Mas o estilo de vida e aprendizado que recebi de meus amigos ricos, acabaram tendo uma grande influência sobre mim. Parte delas, para melhor, e parte, para pior.
Crescendo em um mundo de abundância
Imagine você convivendo diariamente com amigos ricos. Videogames de última geração, carros caríssimos em cada garagem, comparando habilidades nas mais caras bicicletas e skates. Todos possuem muito dinheiro. Você, nem tanto.
É um mundo superficial, materialista e consumista? Sim! Mas você não liga para isso. Afinal, não temos noção em nossa juventude do significado maior das coisas. A maioria das pessoas, na verdade, nunca terá. E quando sua família acredita que está criando uma atmosfera com boas influências para seu crescimento, não há um antagonista para pensarmos diferente. Estamos envolvidos e condenados a viver inconscientemente essa vida.
De uma forma ou de outra, nossa vida era diferente de nossos vizinhos. Nossa casa era menor. Nosso carro era mais velho. Nossas bicicletas eram mais simples e nossas roupas não tinham jacarezinhos, cavalinhos, felinos e outros bichos. Apesar de nunca ter sido gravemente afetado por isso, era uma realidade que não podia ignorar.
O que os amigos ricos geraram de bom em minha vida?
Sabendo do gap financeiro de minha família em relação aos meus amigos ricos, aprendi desde cedo a ser resiliente às tentativas de constrangimento a que fui submetido, principalmente na adolescência. Longe de me prejudicar, tornou-me mais forte. Talvez seja por isso que vejo essa cruzada contra o bullying tão nociva aos jovens em formação.
Superar essa situação me fez criar um sentimento de nunca mais passar por isso e, mais tarde, não deixar que meus filhos passassem. Tirei proveito da melhor forma possível dos estudos que meus pais me proporcionaram e levei esse objetivo adiante. Comecei a trabalhar cedo e, se hoje tenho um bom salário e minha família vive com conforto, parte dessa conquista devo a essa determinação.
Aprendi também com meus amigos ricos (ou melhor, com a família deles), que ter dinheiro é algo bom. Apesar de ter conhecido pessoas cujos valores não deveriam ter saído de uma lata de lixo, a maioria possuía virtudes que me impressionavam. Eram pessoas que amavam suas famílias, preocupavam-se com a educação e professavam uma ética de respeito a todas as pessoas. O dinheiro traz estabilidade à um lar. Eu queria ser assim no futuro.
E as coisas ruins que meus amigos ricos me ensinaram?
A resposta rápida: um estilo de vida muito elevado e desnecessário. Algo que guiou minha vida até mais de meus 40 anos e só agora tento me desvencilhar. É uma questão delicada para mim, principalmente porque falhei como pai e marido em não orientar minha família quando ao perigo de possuir a vida no limite.
Progredi em relação aos meus pais: nunca cheguei a me endividar fortemente para comprar algo. Mas fracassei em (ainda) não sair da perigosa fronteira da dependência de um emprego, de uma renda que continue garantindo esse estilo de vida.
Nunca vi o dinheiro como o fim de tudo, como as famílias de meus amigos ricos. Via ele como um fator necessário para a felicidade, mas nunca enxerguei-o como um meio de ter mais tempo disponível alcançando a independência financeira. Ah, se arrependimento matasse…. Fico pensando em o quanto de dinheiro já ganhei nessa vida e o quanto foi embora em coisas que não trouxeram significado algum em nossa vida.
O dinheiro influenciava demais minha vida pregressa, pela convivência com meus amigos ricos. Se eu tivesse tido amigos pobres, talvez eu me acostumaria com um estilo de vida mais simples e não almejaria, quando adulto, ser como eles e oferecer aos meus filhos algo semelhante.
O passado ficou. O futuro interessa.
A lição disso tudo é que sofremos uma tendência muito forte de possuir comportamentos e tomar decisões com base nas condições de nossa infância. A convivência com amigos ricos me proporcionou coisas boas, como o incentivo ao trabalho e à construção de uma vida financeira sólida.
Porém, isso ocorreu apenas visando o consumo. Eram as lentes com que eu via o mundo até pouco tempo. O mundo estava aí para ser consumido, e o dinheiro era o meio de trazer as coisas boas para minha vida. Passei longe de qualquer noção de minimalismo, e transmiti isso aos meus filhos e esposa.
O importante agora é corrigir o rumo e mostrar a eles no que estava errado. Quero que eles possam, como eu, aproveitar das influências positivas de seus próprios amigos ricos, mas também questionar algumas atitudes que podem prejudicá-los no futuro.
A partir do final de março de 2020, esse blog passou a ter mais de um autor. Seu nome aparece sempre abaixo do título da postagem. Cuidado para não fazer confusão 🙂
Veja a nova ideia editorial e acesse seus perfis nessa página.
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Muito bom o texto Bansir. Eu por exemplo, sempre convivi com pobres, meus amigos sempre foram pobres, meus namorados então, nem se fala rsrs. Eu só tive um namorado rico, e nossa, odiei. Ele era médico, então tinha um padrão de vida considerável, lembro que eu pensei “que coisa chata, ele já conquistou tudo, não vou conquistar nada com ele”. Meu marido, por outro lado, tinha menos dinheiro que eu, seu salário equivalia a 1/3 do meu, mas gostava da sensação de que estávamos crescendo juntos, conquistando as coisas juntos, remando juntos, olhando para a mesma direção. E depois de… Leia mais »
Olá Viver sem Pressa. Desculpa o atraso na resposta.
É bem legal quando as coisas são conquistadas pelo casal. Dá a sensação boa (e realidade, claro) de parceria, completude, de que dois são mais fortes do que um. Parabéns!
Entre pobres e riscos, tenho dúvida se o dinheiro é determinante. Encontrei pessoas boas e ruins dos dois lados. Mas talvez exista mesmo uma tendência de esforçar-se menos se você já tem o suficiente.
Beijo.
Eu tive amigos e parentes ricos, na verdade ainda são, pelo menos eles foram sempre gente boa e bem simples, mas já conheci alguns que eram uma lástima como pessoa !
Tem de tudo Stifler. Rico bom, rico ruim, pobre bom, podre ruim. Acho que a riqueza isoladamente não mostra a personalidade da pessoa. Não gosto muito de caracterizar alguém por isso. Devemos estar com os bons, sejam pobres ou ricos.
Bansir, vc já leu “Dinheiro e Vida” do Joe Domingues e Vicki Robin? Vale muito a pena..
Cinthia, confesso que não li, mas vi a resenha dele aqui no Viagem Lenta. O conceito da energia vital é muito bom! Um tempo desses eu estava conversando com um amigo meu e passei a ele a ideia. Realmente, mexe com a gente.
Ei, VL. Amizades assim podem ser tóxicas, ou inspiradoras, dependendo do ponto de vista. No meu rol de amigos da faculdade sempre foram do mesmo nível financeiro, ou até abaixo do meu. Mas tinha um colega que se destacava, era muito rico por causa da profissão do pai. Vivia com camisetas novas de marca, tênis sempre novo, relógio, celular TOP (na época era o V3) e saia mostrando as fotos e a capacidade de reproduzir MP3. As meninas da faculdade ficavam loucas. Passado alguns anos, o pai dele faleceu, e junto vieram as dívidas e a falta de dinheiro. Hoje… Leia mais »
Olá Rodolpho!
O texto é de Bansir, mas venho aqui desculpar-me em nome do blog pelo atraso. Alguns comentários foram diretamente para a lixeira aqui do painel do WordPress, acredito por uma configuração restrita do spam. Vou acertar…
Obrigado pelo comentário, e o Bansir será avisado!
Abraço!
Ei, Rodolpho! Eu lembro do V3, um luxo na época. Um pouco antes era o Startac. Mas veja que eles não tinham o suficiente. Provavelmente era só salário, que era gasto sem poupança. Já vi muitas histórias assim também. Por isso que escrevo aqui, mas expor e deixar correr os pensamentos que tenho, ler e responder os comentários que aparecem, até como uma terapia pública. Como comecei tarde, as dificuldades são grandes. Eu imagino que o pai desse seu amigo, deve ter tido muitas dificuldades se um dia pensou em mudar algo, visto que os filhos já estavam crescidos e… Leia mais »
Olá, VL.
Que bom que você percebeu isso e está colocando em prática.
Será que esses amigos eram ricos mesmo ou tinha um salário alto? Eles conseguiriam sobreviver se a empresa quebrasse ou perdesse o emprego?
Pode ser que muitos apenas tinham uma renda alta e muitos passivos e quase nada de ativos.
Na minha opinião a riqueza material de uma a quantidade de ativos tem que superar os passivos.
Esse é só um questionamento. Pode ser que muitos deles eram ricos de verdade.
Abraços!
Olá Cowboy! Aqui é o André! Só para dar os devidos créditos, o texto é de Bansir, que geralmente comenta no final de semana! Seus questionamentos são pertinentes. Eu mesmo vi muitos amigos enriquecerem durante meu tempo de labuta, mas sei que eles dependiam totalmente do salário que ganhavam. Se perdessem o emprego, seria um Deus nos acuda… Na minha vida, sempre vivi abaixo do que podia, com tranquilidade mas sem excessos, e consegui criar a carteira de ativos que me permitiu pedir demissão há dez anos. Ah, só um comentário: tenho acompanhado seus post (se bem que vc está… Leia mais »
Olá Cowboy!
Olha, grana eles tinham mesmo, a maioria, mas claro, dependiam de sua renda. Acho que ninguém lá era independente financeiramente não, pois não me lembro de histórias de alguém saindo do seu trabalho.
Sua opinião está correta, hoje também concordo. Penei para descobrir isso, mas antes tarde do que nunca, né haha?
Abraços!