Na semana passada contei a história de como lidei com um probleminha na TV junto com a família. Acabei dizendo sim, com algumas condições, para a compra de uma nova. A antiga ainda está aqui e estou bem cético se ela será realmente vendida. Permaneço em desvantagem na negociação… O alento é que, com o atraso de alguns dias, consegui um preço melhor na compra da TV nova.
Minha ídola da adolescência Paula Toller dizia que dizer não é dizer sim, mas esse caso me lembrou que o inverso pode ser uma verdade ainda maior: dizer sim é também dizer não.
Da mesma forma que eu disse sim à nova compra, eu disse não a mais tempo livre no futuro, caso, um dia, consiga alcançar a liberdade financeira. Não estou discutindo aqui a TV em particular: provavelmente, foi a melhor escolha mesmo, como disse o Frugal nos comentários do texto. Não valia a pena tornar minha vida um inferno ao quadrado em plena quarentena.
Mas incorporo esse tema no grande debate de minha vida. Talvez escrevendo mais se abram mais portas de lucidez para eu ir aperfeiçoando meus pensamentos e atitudes sobre o assunto.
Cumprindo obrigações por dizer sim a tudo
Talvez a angústia em tentar equilibrar minha vida entre gastar e economizar mais com vistas à independência financeira provenha do fato de que meu dia a dia consiste em cumprir obrigações as quais eu tenha sempre que dizer sim. Algumas delas vejo sentido, outras não. São essas que me incomodam quando deixo de dizer “não”.
Parece que as pessoas são programadas para entender um “não” como algo egoísta, como falta de empatia ou responsabilidade. Já dizer “sim” torna a pessoa mais amável, altruísta e “do bem”. Talvez essa pessoa que diga sim regularmente sofra com a ansiedade e expectativa de sempre agradar todo mundo. Ela acredita que aquiescer a todos é necessário e passa a vida cumprindo tarefas que refletem essa atitude.
Quando estamos em um núcleo familiar, dizer sim sempre parece a melhor solução: evita conflitos, mantém-se a harmonia e todos ficam felizes. Mas isso tem um efeito de curto prazo. Pior: na consolidação desse comportamento, vai ficando cada vez mais difícil dizer não nos próximos embates. Nos últimos anos eu disse sim com muita frequência, além do necessário. Preciso equilibrar mais isso.
A dificuldade em dizer não
Sempre sofri muito para dizer não. A harmonia que vinha na aceitação dos desejos e desmandos dos filhos com um “sim” parecia a melhor escolha a seguir até pouco tempo. A mudança de pensamento veio quando percebi que, ao dizer sim, também estava dizendo não a mim mesmo. Ou, se formos aprofundar a questão, a eles mesmos. É só uma questão temporal, de analisar o presente e futuro.
Ao dizer sim aos pedidos do consumismo de meus filhos, estamos, todos nós, dizendo não à própria liberdade futura. Ao dizer sim ao meu patrão para fazer horas extras, digo não para passar mais tempo com meus filhos. Ao dizer sim para uma má alimentação, digo não à minha saúde. Ou seja, nesse trade-off sempre há algo a ganhar e a perder. Só que as consequências do “não” sempre ficam ocultas quando o que se espera no diálogo é sempre um “sim”.
É necessário incluir no vocabulário a palavra “não” mais frequentemente, para não nos sentirmos compelidos a concordar com coisas que discordamos. Explicar para a família que o sim não é a melhor resposta para tudo, e que muitas vezes ele ofusca o que é realmente importante na vida, o que você realmente precisa para ser feliz.
Assimilar melhor o “não”
Nessa busca por mais equilíbrio na vida, onde preciso convencer esposa e filhos que precisamos pensar mais no futuro, é necessário tomar cuidado com mudanças muito drásticas. Isso pode trazer consequências negativas e, talvez, permanentes.
Assim, é importante descriminalizar a palavra “não” e mostrar e eles que, muitas vezes, é a melhor escolha a se fazer, pois o “sim” e seus efeitos consequentes podem ser muito mais valiosos. Dessa forma, acredito que, aos poucos, evito assumir mais do que posso suportar, que é enxergar nosso futuro financeiro ameaçado.
Observando conscientemente as circunstâncias onde podemos fazer escolhas mais inteligentes, propondo alternativas e monitorando suas reações, espero que, passo a passo, a patota aqui em casa comece a analisar nossas decisões de uma forma mais ampla, equilibrando o presente e o futuro.
A partir do final de março de 2020, esse blog passou a ter mais de um autor. Seu nome aparece sempre abaixo do título da postagem. Cuidado para não fazer confusão 🙂
Veja a nova ideia editorial e acesse seus perfis nessa página.
Últimas postagens
- Comparação da rentabilidade dos FOFs – atualização
- Atualização das rentabilidades de todas as carteiras de investimentos (out/24)
- Atualização das carteiras ativa e passiva (out/24)
- Atualização das rentabilidades das carteiras de ETFs (out/24)
- Quanto tempo o dinheiro vai durar? A TNRP e atualização da sucessão patrimonial para 2024
Olá Viagem Lenta,
A vida é feita de escolhas, seja sim ou não. Não dá para ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo.
Que essas escolhas sejam feitas com sabedoria.
Abçs!
Olá Investidor, Bansir aqui!
É verdade, comecei respondendo as perguntas mais velhas e não tinha reparado que você escreveu a mesma coisa que escrevi abaixo. Que tenhamos sabedoria para fazer as escolhas.
Abraços!
Olá!
Recentemente eu li o livro “essencialismo” que trata justamente desse tema, logo de cara eu já identifiquei várias situações em que acabei dizendo sim pra agradar e ser melhor aceito, e depois me arrependi. Atualmente estou aprendendo a dizer não, tentando não magoar ninguém.
Se quiser conferir meu relato e o resumo do livro, pode ver em https://bilionariodozero.blogspot.com/2020/03/livro-essencialismo-disciplinada-busca.html
Abraços!
Comprei esse livro, mas ainda não li.
Olá Bilionário, vou ser sim, não conheço o livro. O duro é que o não costuma deixar marcas, pois as pessoas possuem um preconceito muito grande com a palavra. Mas é verdade, quanto menos usarmos para magoar, tanto melhor.
Vou ver lá no seu blog. Abraços!
Já dizia aquela música do Charlie Brown Jr. “cada escolha, uma renúncia, isso é a vida”. Cada sim é um não para várias outras coisas e vice-versa.
Não me lembro agora da música, mas é verdade. Como disse abaixo, temos que procurar escolher na maioria das vezes da forma mais correta possível. Talvez tenhamos que colocar o não com o mesmo peso do sim. Na sociedade de hoje, ele é muito mal visto.
Bansir,
Muitas vezes dizemos “sim” apenas para não desagradar as outras pessoas. O problema é que agindo assim, muitas vezes estamos desagradando ou até prejudicando à nós mesmos. Por isso, considero equilíbrio e sabedoria essenciais para lidarmos melhor com essa questão.
Claro que muitas vezes não podemos dizer “não” embora essa seja a nossa vontade, como no caso de horas extras eventuais que você citou. A questão é aprendermos a lidar com isso da forma mais saudável possível – o que nem sempre é fácil, mas necessário.
Boa semana,
É verdade, concordo. O equilíbrio é fundamental para tudo na vida. Sempre um excesso de algo vai se refletir em uma falta de alguma coisa. E entre os “sins” e “nãos”, ocorre da mesma forma. Que sejamos sábios para escolher a melhor alternativa, ao menos na maioria das vezes.
Bom final de semana.
Ótimo texto, aprendi muito tarde a dizer não, e vi no primeiro não que eu dei quantos sim eu dei quando na verdade devia ter dito não, que bom ,comece a dizer não, é bom até pra pessoas ao teu redor Bjs
É verdade, sempre tem um lado que não percebemos. Obrigado!
Ótimo texto, aprendi muito tarde a dizer não, e vi no primeiro não que eu dei quantos sim eu dei quando na verdade devia ter dito não, que bom ,comece a dizer não, é bom até pra pessoas ao teu redor Bjs