Sobre minimalismo, dinheiro, e o que realmente importa


Qual o significado de minimalismo?
Ele está relacionado mesmo com dinheiro e à independência financeira?
Ou é apenas um estilo de vida que pode trazer harmonia a sua vida?


Assistir o documentário “The Minimalists”, na Netflix, provoca alguns pensamentos adicionais na maneira de perceber como funciona nossa própria conexão com o mundo que nos rodeia, mesmo que o minimalismo já esteja presente em nosso estilo de vida de algum modo.

Nesse texto explico como vejo o minimalismo e porque ele não está, de forma alguma, relacionado ao dinheiro, como algumas pessoas possam pensar. Ele é muito mais uma viagem (lenta?) a um estilo de vida do qual você pode extrair muitas coisas boas para você.

O que é minimalismo? Está relacionado a dinheiro ou independência financeira?

A resistência às mudanças

Se você já viveu, em alguma época de sua vida, o mundo corporativo, já deve ter, eventualmente, sentado naquelas salinhas de treinamento para fazer cursos motivacionais. Durante o curso, você achava o instrutor um cara fenomenal. Depois de algum tempo, percebia que ele não era tanta coisa assim. Quando já não lembrava mais do conteúdo do curso, talvez você questionasse a quantidade de dinheiro que a empresa jogou fora com tais treinamentos.

Acredito que não preciso refrescar sua memória afirmando que um dos maiores temas nesses encontros era a necessidade de mudança: a empresa precisaria mudar suas práticas para fazer frente às necessidades do mercado, e você era uma peça fundamental nesse processo. Você teria que ser um agente multiplicador frente sua equipe e outros funcionários. Familiar, não?

Algo sempre dito nesses seminários era o quanto nós, seres humanos, somos resistentes às mudanças. Um número imenso de pessoas vivem suas rotinas submetidas sob um nevoeiro do comportamento automático e habitual, que inibe qualquer predisposição para o acolhimento de novas ideias e hábitos. Entre eles, o minimalismo.

A insatisfação como um estilo de vida

O conceito de que a maioria das pessoas vive em uma constante procura pela satisfação já foi comentado aqui no blog, no texto que mostro como a vergonha ofusca o real prazer em nossa vida. A ideia contida na afirmação é que o marketing e a propaganda, direcionados ao consumismo irresponsável, pregam que tenhamos vergonha de quem realmente somos. A única forma de atender essa demanda é comprando coisas para satisfazer a si próprio. Ou aos outros.

Isso, na verdade, não leva à felicidade. Pelo contrário, tenta preencher um vazio existencial através de um vício que carece de sentido. Assemelha-se à situação dos seres humanos de Matrix, que não estão cientes da manipulação a que são submetidos para fazer a roda do consumo – e da economia, girar. Alguns, como Cypher, até estão conscientes disso, mas preferem manter seu papel de marionete passiva perante à realidade.

O que é necessário na vida, afinal, para que saiamos dessa corrida de ratos e vivamos plena satisfação? Será que a felicidade tem a ver com custear cada vez mais coisas desnecessárias (como trocas frequentes de carros) ou alegrar-se com o que interessa, de verdade? Em qual dos casos você seria mais “rico”?

O minimalismo prega uma vida com mais tempo, sentido, crescimento, contribuição, e busca auxílio de sua consciência, seu estado presente. Ao mesmo tempo, com esse foco, você perceberá que precisará menos de “coisas”, viverá em menos desordem e insatisfação.

Adicionar na vida o que realmente importa – a raiz do minimalismo!

Essa sugestão talvez seja a ideia mais importante desse texto. Novamente: “adicione na vida o que realmente importa”. Sem ter necessidade de dar explicações a ninguém. Será que muitas coisas que compramos estão fazendo esse papel? Criamos o nosso espaço de forma que ele se ajuste na nossa vida ou vivemos de acordo com o espaço ditado pelo mundo exterior?

É aqui que vamos nos aproximando do conceito de minimalismo, na medida que ele promove o que é realmente útil à nossa vida. Com corolário, elimina o que é inútil.

O senso comum tende a classificar o minimalismo com “viver com menos gastos”. É uma meia verdade. Diria que as despesas mais baixas estão mais relacionadas com as consequências de uma vida minimalista, mas não são as razões, nem causas, de sua prática.

Como somos seres humanos, há uma enorme gama de variações de desejos, objetivos e autossatisfação. É impossível buscar uma regra para todos nós. O importante, no fundo, é procurar o que é, na verdade, essencial a você. E o essencial não está sujeito a determinadas regras. Exupery diria, poeticamente, que ele é “invisível aos olhos”.

O que é o minimalismo, então?

Viver apenas com o que fornece algum significado para você. Ter somente o que é necessário para sua felicidade. Preocupando-se apenas com coisas importantes, sobra mais tempo para ter melhores experiências e viver de forma mais plena. Uma vida com mais liberdade.

Não é, necessariamente, uma vida de escassez, como alguns pensam. A eliminação de “coisas” não é um fim em si mesmo, mas um meio para viver com mais foco e paz de espírito. Minimalismo tem a ver com simplificar de forma positiva sua vida de forma voluntária, como conta esse artigo do blog Valores Reais. Se a falta de algo lhe traz angústia e ansiedade, isso não tem nada a ver com esse modo de vida. Com equilíbrio, o resultado sempre será melhor.

Como consequência dessas escolhas, vivemos com menos stress e dívidas. Ganhamos flexibilidade e resiliência, uma vez que convivemos em meio à fartura e o excesso, selecionando apenas o útil e o valioso. Percebemos que a felicidade não está nas coisas que possuímos, mas ao significado que damos a elas.

Minimalismo não é somente sobre coisas, mas também sobre relacionamentos, trabalho e filosofia de vida. Pessoas tóxicas, empregos estressantes e pensamentos nocivos devem ser eliminados na sua vida para que você o pratique de forma integral.

Veja como Joshua e Ryan, os Minimalistas da série, definem o minimalismo:

O minimalismo é uma ferramenta que pode ajudá-lo a encontrar a liberdade. Liberdade do medo. Livre de preocupações. Liberdade de opressão. Liberdade da culpa. Liberdade da depressão. Livre das armadilhas da cultura do consumidor em que construímos nossas vidas. Liberdade real. 

O alcance do minimalismo – muito mais do que economia financeira

O minimalismo não precisa ser um estilo de vida radical. Embora possamos afirmar que monges e ermitões vivem uma vida minimalista, eles não são os únicos exemplos. Eu, por exemplo, nunca conseguiria praticar algo parecido.

Uma das partes mais relevantes do documentário ocorre quando os minimalistas comentam que a qualidade é melhor que a quantidade. Qualidade tem uma percepção que vai além da durabilidade (que, em geral, é refletida no preço dos produtos), alcançando o seu próprio prazer pessoal. Ou seja, se o Iphone é o seu telefone preferido, tenha o seu Iphone. Ou seja, minimalismo e dinheiro não estão diretamente correlacionados.

O importante aqui – o que não é algo tão trivial, é estar consciente se tal investimento é realmente feito para satisfazer você ou para atender a demanda de outras pessoas.

Outro exemplo são as casas minúsculas, para onde muitos minimalistas estão se mudando, visando uma vida mais econômica e mais significativa. Ótimo para eles, sério!!! Porém, eu não me vejo, ao menos até o momento, vivendo em menos de 15 m2. Para eu ficar bem, preciso de um escritório separado do quarto, um sofá confortável para assistir filmes e documentários, uma varanda com rede e uma boa vista. Uma piscina longa no condomínio também é fundamental.

Ué, mas você poderia pensar: “mas isso não é uma vida minimalista!”. Eu responderia: “você não está aceitando a real definição do minimalismo!”. Explicaria que esses requisitos agregam significado à minha vida. Eles são necessários para eu estar bem. Por outro lado, itens como um carro novo, roupas da moda e substituição frequente de aparelhos eletrônicos, não acrescentam nada a mim. Novamente, a relação entre minimalismo e dinheiro é muito mais fraca quando pensamos em nossas reais necessidades.

Assim, antes de associar o minimalismo com economia financeira, vincule-o com “valores“. O quanto que algo, alguém ou uma atitude tem relevância para você? Pergunte-se: “isso realmente adiciona algo em minha vida? Sua aquisição ou sua prática é algo lógico e irracional? Isso me ajuda a prestar mais atenção na minha vida e nas pessoas?”. Minimalismo é manter o que você respondeu positivamente e descartar o que você negou.

Minimalismo, ansiedade e foco

Sam Harris é uma das pessoas entrevistadas pela produção do programa. Ele comenta que a vida das pessoas que se movem de um estímulo para o outro, em busca da sensação de recompensa (e as redes sociais exercem um reconhecido papel nessa ansiedade) pagam um grande preço por este problema: o sacrifício de coisas que realmente são importantes.

Ser constantemente interrompido por informações é algo que joga contra uma via minimalista, uma vez que essa antecipação de novidades faz com que prestemos cada vez menos atenção ao presente e às pessoas que nos cercam.

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No documentário, Harris, com o auxílio de um depoimento de um jornalista (também Harris, mas Dan) que, devido a problemas emocionais, passou a seguir uma vida mais minimalista, evidenciam muito a importância da meditação para ajudar as pessoas nesse processo de desapego e na busca de mais foco.

Tanto Sam quanto Dan Harris contam muito mais sobre a importância da meditação, consciência e felicidade em seus livros “Despertar: um guia para a espiritualidade sem religião“, e “10% mais feliz“. O primeiro eu li e é excelente, o segundo está na lista para futuras leituras.

Será que seu sonho não é, na verdade, um pesadelo?

Um dos momentos mais marcantes do vídeo é o depoimento de um executivo que recebeu uma proposta de assumir a sociedade do escritório em que trabalhava. Isso pode ser o sonho de muitas pessoas que desejam alcançar o mais alto degrau na hierarquia em sua empresa e não era diferente com ele.

Porém, quando ele percebeu o que estava acontecendo, viu que estava caindo em uma armadilha. Ele nunca mais conseguiria sair dessa função, tragado pela corrida de ratos onde o dinheiro que ele receberia seria sempre necessário para sustentar seu consumismo cada vez maior. Mais um exemplo que dissocia minimalismo com dinheiro.

Qualquer outro sonho que ele poderia ter, qualquer desejo de viver uma vida com propósito e significado maior, iria acabar. Seu futuro seria pré-definido e ele seria a mesma pessoa sem arbítrio pelo resto de sua vida. Que poder é esse que adquirimos que enfraquece nosso protagonismo nessa viagem?

Esse pensamento nos remete a uma citação de Jim Carrey: “Eu gostaria que todos pudessem ser ricos e famosos para que eles percebessem que essas coisas não fazem você feliz”.

Agora que você já tem uma ideia do que é, realmente, o minimalismo, que tal assistir o trailer do documentário? Tem apenas dois minutos e meio. Volto a seguir para fechar o texto com algumas conclusões.

Considere atingir algum degrau minimalista em sua vida

Sou enfático em afirmar que atingir algum nível de minimalismo será 100% positivo e trará benefícios imediatos para sua vida. Seja assumi-lo pela sua beleza, eficiência ou elegância. Afinal, menos é mais, não?

O grau que você se permitirá a abraçá-lo dependerá do seu perfil, de seus objetivos e de seu grau de maturidade (sem politicamente correto aqui, né pessoal? Se você é um consumista compulsivo, precisa amadurecer!). Uma vida minimalista pode ser apenas um estímulo à desorganização em que você está imerso, tornar seu dia a dia com mais sentido e até, como consequência, ajudá-lo a buscar sua independência financeira.

Eles, o minimalismo e a liberdade financeira, não estão vinculados por si só. Um não é, necessariamente, causa do outro. Mas é fato que uma vida com menos consumo ajuda a chegar lá. Seja no processo de acumulação (mais aportes em investimentos), como a menor necessidade de acumular um patrimônio muito significativo (menos tempo de trabalho e mais tempo de vida).

A harmonia do minimalismo vem do fato de ele ser pessoal e estar sob seu controle. Ele é um assistente que enriquecerá sua alma. Para os engajados na hipótese Gaia, auxilia o consumo equilibrado e permite que cada vez mais pessoas vivam nesse planeta. Ele ajuda a nos reconectar a um modo de vida mais humano e significativo.

Jordan Peterson fala muito sobre a luta que enfrentamos entre o caos e a ordem em nossa vida em seus best-sellers. O minimalismo ajuda a manutenção dessa ordem. Seu inverso, a desordem, oprime seus sentidos e eleva seus níveis de estresse. Uma abordagem desordenada de sua rotina, desperdiça seu dinheiro, deixa você fora do controle e impede que você aja sensatamente em alcançar seus sonhos verdadeiros.

Peterson afirma que para termos protagonismo e direcionar o tempo de nossa vida para o que é realmente importante, precisamos treinar uma característica fundamental: a responsabilidade. Ele dá um simples conselho para um passo inicial em uma nova maneira de conduzir sua vida: comece mantendo seu quarto sempre arrumado.

E aí, você já é capaz de passar para o passo seguinte?

Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
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… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.

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Aposente Cedo
4 anos atrás

Olá André! Vi o documentário há alguns meses e achei mediano. Há trechos muito interessantes, porém o contexto geral dá entender que a vida de cada um gira em torno do minimalismo, e não que o minimalismo (assim como o dinheiro) é um instrumento para alcançar objetivos e plenitude. Em contraponto, busquei conteúdos semelhantes e me deparei com o canal no YouTube do Matt D’Avella, diretor do documentário do NetFlix, e com excelente conteúdo sobre minimalismo e lifehacks. Quando comecei a ver, ele não tinha nem 50 mil seguidores e, pelo visto, o documentário deu um boom no canal, atualmente… Leia mais »

Anônimo
Anônimo
4 anos atrás

Parabéns, gostei muito do post André. Despertou-me interesse e agora pretendo estudar mais sobre o assunto.
Abraço!

Simplicidade e Harmonia
4 anos atrás

André,

Excelente post!

Menos necessidades desnecessárias = mais liberdade financeira, mais vida e mais valorização do que realmente importa.

Abraços!

Adriana
4 anos atrás

Adoro esse documentário dos minimalistas e mais ainda os dois Ted Talk que eles fizerem. O minimalismo sempre esteve presente em minha vida, muito antes até mesmo de eu ouvir esse nome pela primeira vez (foi no livro Menos é Mais de Francine Jay) pois sempre gostei de desapegar de artigos que não tivessem utilidade, ter menos coisas, viajar com menos, concentrar recursos financeiros para o que realmente importasse, etc. Acho que é algo que vai se instituindo na nossa vida aos poucos, que vamos lendo, amadurecendo e implementando aos poucos, é um processo, não um fim em si mesmo.… Leia mais »

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