Sobre filantropia: alguns bilionários que você deveria admirar


O preconceito e a inveja inibem a clara percepção do papel e importância dos empresários e bilionários no desenvolvimento de um país, seja indiretamente, como a produção de empregos e tecnologia, ou diretamente, em suas ações filantrópicas.


Em um texto antigo, do começo de 2015, escrevi que aquele ano seria o início de uma grande crise no país, e uma das causas é a forma negativa que o então governo do PT via as ações dos empresários no país. Além disso, faltava confiança moral para investimentos das pessoas que queriam produzir.

Os empresários, um grupo regularmente hostilizado pela esquerda, são pessoas que arriscam seus recursos, geram riquezas e disponibilizam empregos para que o círculo virtuoso do capital continue girando (veja interessante diálogo ao final desse texto). Para o pensamento progressista, falar em capital ou em ter lucro é de uma sordidez tamanha.

Infelizmente, ficamos para trás na corrida para o desenvolvimento econômico e social alimentando a crença de que cabe ao Estado plantar as sementes para o progresso. Os brasileiros e latinos em geral não percebem que as grandes conquistas de nossa civilização não ocorreram dentro da burocracia do governo, mas sim pela mão de grandes mentes empresariais, como Thomas Edison, Henry Ford, Sam Walton, Robert Noyce, Bill Gates, entre outros. E é sobre os empresários que gostaria de escrever hoje sob um foco bem particular: as ações e os incentivos dos bilionários para a formação de uma sociedade mais humana.

Bill Gates e Warren Buffet sobre filantropia
Bill Gates e Warren Buffet, bilionários líderes na filantropia

Um breve comentário sobre a natureza dos empresários

Em diversos textos nesse blog fiz questão de identificar duas espécies de empresários, baseando-se em suas condutas perante seus negócios. Existem empresários que possuem privilégios dentre a burocracia estatal e aqueles que não os possuem. Não é necessário comentar que temos, entre esses dois extremos, algumas dezenas de tons de cinza.

O ponto principal desse comentário é analisar onde está o erro. Pessoas agem com base em incentivos. Se existe um Estado que oferece tais incentivos, muitos deles legais (ah, BNDES…) ou ilegais (liberação de obras em estatais mediante propinas), quantos serão os empresários que negarão tais privilégios? O leitor, em um exercício de empatia e honestidade, negaria? Vamos falar sério: se muitos professores universitários, que vociferam contra a desigualdade e justiça social aceitam receber salários absurdos com recursos do ICMS, por que os empresários deveriam recusar os privilégios oferecidos?

O erro é o Estado. O erro é a possibilidade legal de existirem as mamatas e a ineficiência no combate à corrupção. O Estado nada produz e propaga a nefasta ideia de que a melhor recompensa é oferecida em função da cumplicidade empresarial com a classe política, e não em função de próprios méritos, ideias e esforços. Não existe meritocracia plena com o Estado. O Estado realiza uma transferência de riqueza indevida para beneficiar companheiros, e claro, exige algo em troca para manter esse privilégio. Mas, como veremos a seguir, podemos discernir uma evidente diferenciação entre dois grupos de empresários.

As consequências na economia a partir do modus operandi dos empresários bilionários

Pesquisadores publicaram no Journal of Comparative Economics uma pesquisa que mostra como a diferença de comportamento de empresários ligados ao governo e de empresários independentes pode modificar a sociedade. Os autores sugerem que, quando os empresários (bilionários, para ser fiel ao artigo) adquiriram sua riqueza através de conexões políticas, ela é ao final subtraída de toda a economia, enquanto os empresários que usam o mercado para enriquecerem, tendem a adicionar mais riqueza para a população.

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O estudo mostra que a desigualdade de riqueza não é de fato, o problema, mas sim a forma como essa desigualdade foi construída. Empresários ligados ao governo sugam riquezas que poderiam ir para a livre iniciativa das pessoas, que adicionalmente, é tolhida quando esses mesmos empresários impedem (juntos aos legisladores) a entrada de novos concorrentes no mercado, que poderiam oferecer melhores produtos com menores preços. O lobby desse grupo torna-se cada vez mais viável quanto maior a influência estatal e induz decisivamente o rumo da política governamental, impedindo um crescimento orgânico da sociedade.

Para todos obterem benefícios do mercado, novos empresários devem ser livres para atuar, dentro de um sistema sem privilégios, onde o único fator de sucesso seja sua habilidade pessoal. Desvios ocorrerão, afinal o caminho mais fácil é tentador, e serão proporcionais ao poder ainda remanescente do Estado. Diminuir esse poder, portanto, é a única forma de corrigirmos esse sistema de incentivos espúrio que construímos por aqui, aliando-o a uma menor carga tributária, essencial para uma melhor utilização dos recursos. As pessoas possuem uma habilidade muito maior do que o governo para fazer com que seu dinheiro colabore para o desenvolvimento social. E o mundo está recheado de exemplos reais.

Empresários fazem filantropia e não assistencialismo ou caridade

É possível que a oposição correta seja filantropia contra o assistencialismo. A caridade é um conceito de natureza religiosa e compreende muitos atos nem sempre envolvidos com recursos financeiros, como os dois primeiros. O assistencialismo encerra um ato mais momentâneo, de curto prazo. Não existe um plano maior envolvido e não exige uma consequência a longo prazo de uma ação coordenada. Já a filantropia, em geral, é vinculada a um projeto de desenvolvimento e mudança social, muitas vezes procurando suprir a ineficiência do Estado em determinada área de trabalho. É um investimento onde busca-se um retorno efetivo para a sociedade, seja em melhorias da educação, saúde ou pesquisas científicas. Os resultados são importantes e sempre mensurados.

Empresários e bilionários são sensíveis à filantropia. Está intrínseco em sua personalidade investir e obter retorno em algo. Inclusive para o benefício de outras pessoas. E é somente assim que os resultados aparecem. Remetendo ao clássico provérbio chinês, é necessário ensinar a pescar, comprovar que ele tenha aprendido e que de fato, pesque! Isso é essencial para avaliar ações, corrigir rotas e aprimorar ainda mais o método. A virtude aparece quando constatamos que os empresários usam seus próprios recursos para tais ações. Não são como os paladinos progressistas, que adoram fazer o bem para todos, mas com o dinheiro dos outros.

Alguns exemplos de bilionários envolvidos na campanha “The Giving Pledge”

Em 2010, Bill Gates e Warren Buffett criaram a campanha “The Giving Pledge“, na qual exortam demais bilionários como eles, a doar ao menos 50% de suas fortunas para a filantropia. Ano a ano, a lista cresce. Já são 137 bilionários de 14 países, alguns citados na sequência do texto. Nenhum deles, porém, brasileiro. Buffet, um dos maiores investidores do mundo, foi ainda além da proposta da campanha, comprometendo-se a doar 99% de sua fortuna, sendo que ele já doou, durante o ano de 2021, já metade de seus bilhões. O bilionário T. Boone Pickens, que morreu em 2019 e deixou uma carta comentada nesse blog, também foi um de seus participantes.

Bill Gates, uma das pessoas que revolucionaram decisivamente o mundo da tecnologia, já doou mais de US$ 26 bilhões à fundação. A Fundação Gates é um dos maiores exemplos de como a filantropia pode substituir as ações sociais do Estado. Ela existe apesar dos impostos aos quais seus colaboradores estão sujeitos. Por vezes proponho-me a imaginar quantas fundações semelhantes a ela poderiam existir se possuíssemos uma situação tributária menos severa.

A Fundação conta com ações mundiais para a melhoria da assistência à saúde e à redução da pobreza, assim como a expansão da oferta educacional e o acesso à tecnologia de informação, e foi responsável por quase US$ 4 bilhões de investimentos em 2014. E é um investimento com cobrança incessante de retornos (eficiência) e de duração perpétua, uma vez que é gerido de forma sustentável. Diferente de governos irresponsáveis que gastam além do que podem e posteriormente jogam a conta para a população.

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Michael R. Bloomberg, bilionário, ex-prefeito de NY e um dos maiores filantropos do mundo, toca exatamente nesse ponto, afirmando que a filantropia, além da possibilidade de ser uma alternativa ao Estado, pode inclusive encorajá-lo a assumir as parcerias corretas para que os riscos assumidos nos gastos orçamentários gerem sempre, com eficiência e eficácia, benefícios à sociedade. Criou, entre outras iniciativas em filantropia, a Bloomberg Associates, uma empresa de consultoria que atua com órgãos privados e públicos com o objetivo de melhor capacitar os indivíduos e comunidades para cuidar do futuro.

Quando analisamos os motivos que os bilionários apontam para realizar a filantropia, eles soam como óbvios, mas, mesmo assim, enfrentam sempre a desconfiança da sociedade. Mentes invejosas poderiam argumentar que os bilionários fazem filantropia por interesses pessoais, inclusive para beneficiar a imagem de suas próprias empresas. Mas e daí? O importante não é fazer os recursos alcançarem a quem precisa? Não importa a motivação por trás disso, importa o resultado.

Pierre Omydiar, fundador do eBay, não se preocupa com o que a sociedade pensa, apenas sente o peso da responsabilidade que cresce muito com o capital que chega à sua conta bancária. Seus projetos pretendem resgatar a capacidade inerente das pessoas que não possuem oportunidades para desenvolvê-la. E normalmente, elas respondem a essas oportunidades de maneiras inspiradoras. Deveria ele deixar de doar para acalmar mentes invejosas? Ou para legitimar discursos que apontam os bilionários como pessoas do mal?

Ainda assim, o mundo está repleto de bilionários sem a intenção de autopromoção. Um deles é o frugal Chuck Feeney, criador das lojas Duty Free que pululam nos aeroportos do mundo todo. Feeney vinha, por mais de 15 anos, doando sua fortuna secretamente antes de ser descoberto. Começou a doar sua fortuna ainda em 1984 para uma fundação, mas com o aumento dos aportes acabou sendo descoberto em 1999. O total doado através de suas ações filantrópicas já passa de US$ 7,5 bilhões, incluindo doações à reconstrução do Haiti após o último terremoto e ao fomento de pesquisas em universidades, de forma a atrair grandes talentos para essa área fundamental.

Uma vez que é quase impossível esperar dos governos melhorias na educação, uma vez que a educação nunca foi prioridade para os políticos, a saída sempre passa pelo setor privado. Outra referência é George Lucas, um dos cineastas mais famosos da história. Lucas atua filantropicamente na área educacional com a Edutopia, empresa pertencente à fundação que leva seu nome. Desiludido com a qualidade do ensino (imagine se fosse no Brasil…), o bilionário procura criar alternativas para aprendizado, integrando mais os alunos com a realidade, permitindo a ação de mentores e incentivando a inovação tecnológica, no intuito de promover o pensamento crítico e a inteligência emocional.

Para uma reflexão posterior, veja algumas reflexões que Warren Buffet fez sobre filantropia nesse artigo de junho/21 no Brasil Journal. ele aprofunda vários pontos já citados nesse texto.

E os bilionários do Brasil?

Aqui, em terras tupiniquins, embora não existam bilionários comprometidos com a campanha “The Giving Pledge”, existem sim, bons exemplos. A Fundação Bradesco é uma delas. Com quase 60 anos de história, foi fundada por Amador Aguiar para promover a inclusão social através da educação. A Fundação atende presencialmente mais de 105.000 alunos em todo o Brasil (além de 460.000 estudantes no ensino virtual), e seu investimento vem crescendo ano a ano, atingindo mais de R$ 520 milhões de reais em 2014. Uma das filhas de Aguiar declarou que doará toda sua fortuna bilionária à sua Fundação. Mais exemplos podiam ser citados, mas estenderia muito a postagem. O ponto é que o Brasil, em geral, está muito atrás dos países desenvolvidos nessa cultura filantrópica.

A Charities Aid Foundation, publica, desde 2010, um índice que mostra o quão os países são filantropos, baseada em pesquisas pelo Instituto Gallup referentes a doações, voluntariados e ajudas diretas a pessoas, que seus habitantes praticam. Os países mais bem colocados, com algumas exceções, são em geral, os países onde o liberalismo está mais presente, como os EUA, Canadá, Austrália e Inglaterra.

Não existe segredo: ser um agente potencialmente ativo para ajudar os outros passa por assumir-se como um indivíduo capaz, responsável e autossuficiente, atitudes cada vez mais raras em populações de países que se acostumaram a ser dependentes de um Estado-babá, como o Brasil (que por sinal, está em uma distante 90ª colocação no índice dentre 135 países).

Como tenho dito em muitos outros textos desse blog: menos Estado gera menos impostos. Menos impostos gera menos corrupção e mais dinheiro para as pessoas. Mais dinheiro disponível gera mais liberdade e mais iniciativas individuais. O que termina por diminuir cada vez mais, a pobreza. Seja financeira ou de espírito.

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Fazendo as Contas
3 anos atrás

Você me ganhou em “O erro é o Estado”. No entanto, esses dias eu estive pensando sobre uma questão, mais especificamente em relação aos empréstimos do BNDES durante essa pandemia… Vejo que algumas empresas estão pegando empréstimos mesmo sem de fato precisar e fico pensando se isso seria de alguma forma imoral ou injusto. Digo, se um empresário se esforça, faz tudo certinho, não se alavanca, guarda um pouco de dinheiro para uma emergência e é capaz de aguentar as pontas durante esse período de necessidade, não seria justo pra ele também pegar esse dinheiro barato? Afinal, se pensarmos que… Leia mais »

Danilo
3 anos atrás

Ótimo post André.
Meus parabéns.

Abraço!

Escola para Investidores
3 anos atrás

Bem legal as informações =)

Anônimo
Anônimo
4 anos atrás

ler sobre Elie Horn. abs

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