Sobre a eleição de 2018 e seus investimentos


Alguns comentários e pensamentos sobre a eleição de 7 de outubro e minhas expectativas para o mercado financeiro e nossas carteiras de investimentos em um futuro próximo.


Eleições e investimentos

Caros leitores, a ideia desse texto é resumir e consolidar minhas impressões sobre os resultados da eleição do final de semana anterior, e como gerenciarei, no curto prazo, minha carteira de investimentos sob a estratégia de alocação de ativos.

Escrevo faltando ainda duas semanas para o segundo turno, com as informações que possuímos até o momento. Porém, ao menos em um prazo de 2 anos, não vejo fatores críticos para nossas carteiras de investimentos independentemente do presidente eleito, embora há algumas nuances que valem a pena serem consideradas. Ao longo do texto, explicarei quais.

A importância do legislativo para nossos investimentos

A agradável surpresa após esse primeiro turno veio, principalmente, de uma renovação significativa da Câmara de Deputados e do Senado. Elegemos uma forte e barulhenta bancada com um pensamento econômico mais liberal que deve agitar a rotina dos congressistas e auxiliar a votação das reformas estruturais, desregulamentações e leis facilitadoras aos negócios. Isso, sem dúvida, impulsionará a economia, guardadas as influências mundiais, trazendo benefícios para todos os participantes desse mercado.

A esquerda, apesar de ainda significativa, perdeu sua hegemonia. No Senado, com mudanças de 46 das 54 cadeiras, vibrei muito com a não recondução de mentes perturbadas como o Suplicy, Dilma, Lindbergh e Vanessa Graziotin, apesar da incômoda presença de nomes como Renan Calheiros, Jader Barbalho e Jaques Wagner. Na Câmara, infelizmente, teremos ainda a companhia de Gleise e Aécio (que sofreram um downgrade), mas teremos muitos deputados com pensamentos transformadores, como os do Partido Novo, Kim, o príncipe Luiz e tantos outros.

Pela quantidade de votação que receberam, foi um movimento longe de ser elitista: seus eleitores são massivamente pessoas simples, que desejam mais liberalismo, justiça e segurança. Pessoas que cansaram das mentiras da esquerda e de suas prioridades “sociais”, desviando o debate verdadeiro dos reais problemas do país. Cidadãos que perceberam suas reais necessidades e inquietações, e que clamaram uma solução definitiva para elas. E, claro, também pessoas anti-petistas que não se enquadram nas categorias anteriores. Espero que a primeira situação, entretanto, seja majoritária.

O quadro legislativo, entendo, funcionará como um amortecedor para impedir propostas muito agressivas que poderiam partir do novo presidente, principalmente tratando-se do autoritarismo do PT e seu projeto político e socialista de poder. Esse é um dos pontos que fico menos inseguro com uma eventual eleição do Haddad.

A importância do Executivo para nossos investimentos

Nos executivos estaduais, tivemos algumas boas novidades, ao menos, de Minas Gerais para baixo. O segundo turno nesse estado mostra que teremos governantes mais liberais do que o petista Pimentel. Sendo um deles, que lidera as pesquisas nesse momento, MUITO mais liberal (Romeu Zema, Partido Novo). Sua eleição pode representar, junto com a bancada liberal no Congresso Nacional, o enfraquecimento da hegemonia do modelo mental estatista que o brasileiro possui. Em São Paulo e Rio Grande do Sul, vencendo o PSDB, parece que estaremos melhores também. Ambos candidatos pertencem à ala mais renovadora do partido, e não possuem tanta responsabilidade pela sua vergonhosa participação na eleição nacional. Rio de Janeiro ainda é uma incógnita, veremos o que virá de lá.

Espera-se desses novos governantes, ações mais liberais como privatizações de empresas públicas ou, ao mínimo, nomeação de técnicos de qualidade para seu gerenciamento, algo já prometido pelo governador eleito do Paraná. Aguardamos uma melhor administração dos recursos públicos para maiores investimentos em infra-estrutura, algo que possibilitará mais eficiência no transporte de mercadorias, diminuindo custos e preços de produtos, ampliando o mercado consumidor e o lucro das empresas. Só assim poderemos pensar em progresso contínuo no nosso país.

A importância do Executivo é amplificada quando avaliamos seu chefe maior: o presidente da república. Como possuímos uma estrutura de recursos concentrada no plano federal, a importância do posto é enorme. Como liberal, eu preferia a descentralização com consequente perda de poder para o cargo, pois o bom uso dos recursos passa pela proximidade da oferta com a demanda. Alguém aí, por acaso, sabe quem é o presidente da Suíça? Pois é, ainda é um sonho distante que isso ocorrerá um dia por aqui. Quem sabe ao menos para meus netos ou bisnetos? Mas, por enquanto, precisamos jogar com o que temos…

A situação melhorará a curto prazo independentemente do presidente eleito

Acredito que a maioria dos leitores concordará com o meu o otimismo (contido) quando pensamos no Legislativo. Talvez discutindo agora o plano federal, poderemos ter algumas divergências, uma vez que, até com a remota possibilidade de Haddad vencer essa eleição, acredito que, em um curto prazo, as coisas melhorarão para nossos investimentos. Vou começar com ele inicialmente e, posteriormente, comento minhas impressões para a situação mais provável a eleição do Bolsonaro. Mas antes, deixo duas observações sobre minhas percepções.

A primeira refere-se ao fato de que estou opinando apenas no campo econômico. Não estou entrando em detalhes sobre a nefasta influência que o PT possui na sociedade no campo cultural. Sou ciente que seu governo tenderá a reduzir nossas liberdades e nos dividir cada vez mais em classes, politizará ainda mais o STF com indicações de juízes “mais” amigos (após algumas decepções), promoverá a distorção do ensino de nossas crianças, visando a destruição da família e valores e, consequentemente, destruindo o que resta de ética e moral em nosso dia a dia. E, por incrível que pareça, com o apoio de parte da massa. Já falei muito sobre a aplicação dessa revolução cultural nesse blog, mas não é assunto desse texto.

A segunda observação é uma consequência da primeira: o que comento abaixo refere-se ao curto prazo (máximo de dois anos). Uma vez que o retorno da aplicação das técnicas gramscianas levará algum tempo até que a esquerda restabeleça seu domínio, não é possível pensar muito adiante. A tendência é piorarmos muito como país e sociedade, trazendo problemas sérios para nossos investimentos. Se não houver outro impeachment (e nesse caso, precisaria abranger a vice também), o negócio é mandar o nosso dinheiro (e corpos) para fora do país mesmo…

Porque o PT não será tão ruim a curto prazo

Nesse primeiro turno o partido dos trabalhadores sobreviveu, mas com uma distância muito grande do primeiro colocado. É claro que ele não conseguirá eleger-se mantendo um pesado viés de esquerda. Ele precisa fazer concessões ao centro para vencer a eleição. Haddad já disse na semana passada, ao vivo no Jornal Nacional , que reviu seus posicionamentos sobre as ideias de realizar uma assembleia constituinte e tenta ser passar como “democrático”. Até o vermelho, usado intensivamente pelo PT em sua história, foi oculto em seu logo.

Acredito ainda que virão mais concessões até a votação e que será anunciada uma equipe econômica mais “moderada” com os princípios básicos de um mercado livre. Se você lembra da “Carta aos brasileiros” de 2002, qualquer semelhança não será uma mera coincidência.

Uma vez que o mercado está hoje precificando uma vitória do Bolsonaro, um triunfo petista levaria os preços dos ativos a níveis abaixo do razoável, mas acredito em uma recuperação a curto prazo: o PT possui alguma consciência em não deixar a fonte de recursos secar de vez, embora o plano futuro seja sugá-la de forma constante e perene. Seria um momento de comprar ativos para pensá-los em vender em poucos anos quando o mercado começar a “acreditar” nas palavras iniciais do governo.

Quando chegarmos nesse período (principalmente se iniciarem atritos entre a equipe econômica “do bem” e o PT), a ideia é diminuir a exposição em ações e títulos, tanto privados quanto públicos e iniciar a retirada do dinheiro do Brasil enquanto esses ativos estiverem valorizados. Não subestimem a incapacidade dos economistas petistas em gerenciar a economia.

Tática de alocação de ativos para um governo petista

Embora minha composição de ativos possua atualmente 4 pilares, como expliquei no texto “Alocação de Ativos ao alcance de todos“, vou simplificar a análise matematizando primordialmente a alocação em renda variável, que deve ser a mais afetada no futuro. As alocações em renda fixa, fundos imobiliários e câmbio serão comentadas como observações. Afinal, há muitos fatos que podem ocorrer adiante que alterará completamente essa análise despretensiosa (como prever a curva de juros), e não aspiro ser tão minucioso nos detalhes.

Hoje estou com cerca de 25-30% em renda variável. No caso da vitória de Haddad, acredito que esse percentual cairá naturalmente com os preços dos ativos. Porém, seguirei comprando até chegar na faixa de 30-35% e manterei dessa forma, aguardando a duração desse “curto prazo” na primeira metade de seu governo. Para isso, venderei câmbio valorizado e a parcela de renda fixa investida no curto prazo.

Percebendo mudanças na trajetória da política econômica, iniciarei o processo de venda. Na primeira parte desse processo, farei vendas mais consideráveis, de forma que o percentual de renda variável de 30-35% caia em torno de 15-20%, liberando recursos para reforçar o câmbio visando crises e a saída futura dos investimentos do país. Uma parcela dos títulos de longo prazo também começará a ser vendida prevendo aumento das taxas. Parte poderá ser direcionada a fundos imobiliários de tijolos, caso não tenha ocorrido ainda a plena valorização no preço atual dos imóveis, ou renda fixa de curto prazo, caso os juros ainda estejam acima de, digamos, 8%.

Na sequência, vendo que o negócio vai degringolar mesmo, vou encerrando minhas vendas em renda variável e passo a iniciar a transferência dos recursos em moeda estrangeira para o exterior. Os ativos comprados ainda são uma incógnita, pois em dois anos podem ocorrer muitos movimentos no exterior e essa análise só poderá ser feita no momento. E, convenhamos, essas elucubrações são apenas um exercício para uma possibilidade menos provável. Acredito, na verdade, na situação abaixo.

Por que o Bolsonaro será pior na economia do que o mercado pensa

Peço a rápida atenção aos leitores para a compreensão desse título. Vejam que não está escrito que o governo Bolsonaro será pior que o PT. Ele será melhor! Mas estou acrescentando aqui a variável “expectativa”. Enquanto o mercado financeiro espera coisas muito boas de um governo Bolsonaro, ele também espera coisas muito ruins, ao menos no curto prazo, de um governo petista.

Assim, é plenamente possível que um governo de esquerda surpreenda positivamente o mercado nesse prazo, como comentei anteriormente, enquanto o de direita, o decepcione. Bolsonaro será eleito com uma grande expectativa, não só no aspecto econômico, mas também sob aspectos morais e éticos. E a carga de responsabilidade que carrega é enorme. Mesmo na semana passada o mercado financeiro já sentiu alguma ducha fria em seus sonhos mais promissores. O tal do wishful thinking é algo que pode ser perigoso para entidades como o mercado e um, mesmo brando, estelionato eleitoral, seria desastroso.

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Desvios no consenso esperado poderão ter consequências consideráveis para as pessoas comuns e para o mercado, como decepções com privatizações, nomeações políticas para estatais, freios na reforma da previdência e pouco rigor nos gastos públicos. Eu não colocaria minha mão no fogo em uma consolidação definitiva do Paulo Guedes no super Ministério da Economia. Guardadas as devidas proporções, lembra do Joaquim Levy?…

Táticas de alocação de ativos para um governo Bolsonaro

De qualquer forma, estarei bem mais otimista, principalmente a longo prazo, em um governo do candidato do PSL. Minha expectativa é que tenhamos dois anos não tão bons, mas melhorando na sequência com a pressão na sociedade e legislativo pelas reformas estruturais. Estou contando com a nova bancada no Congresso para ajudar nesse processo.

Nessa situação, não passa pela minha cabeça a ideia de retirar dinheiro do país, ao menos até as próximas eleições. Acredito que o Brasil gerará mais alpha (terá um crescimento relativo maior) do que o mercado externo no eventual governo mais conservador. Afinal, já ficamos muito atrás nesses governos de esquerda, concordam? O câmbio também ficaria mais comportado. Assim, a não ser para as pessoas que planejam mudar para o exterior a curto prazo, não teria sentido iniciar uma nova carteira de investimentos lá fora.

Bom, seguindo o mesmo raciocínio, vamos partir da minha alocação atual de 25-30% de renda variável. Em um primeiro momento, não aumentarei esse percentual como em um governo Haddad. Acredito que teremos uma euforia irracional nos primeiros meses: ações subindo e curva de juros longos caindo. Se o Ibovespa atingir 100.000 pontos logo no início do governo, vou começar a diminuir a alocação de renda variável para 20-25%, vendendo ações e comprando um pouco de dólar, que deverá estar em queda.

Se o Ibovespa continuar subindo, vou diminuindo cada vez mais o percentual e comprando também títulos de curto prazo, prevendo uma piora nas expectativas e um aumento dos juros futuros. Isso ocorrendo, deslocaria então o dinheiro de curto prazo para vencimentos mais distantes. É um pouco difícil falar de tempo aqui, pois dependerá de como o novo governo estará lidando com as demandas da economia e do novo establishment político. Serão muitas variáveis.

Em algum momento, o mercado vai precificar a “expectativa” inicial e sofrer uma realização na renda variável, aumento os juros longos. Nesse caso, inverteria a tendência descrita acima: começaria a aumentar o percentual de ações na carteira de investimentos (máximo de 30-35%) e títulos longos. Até quando? Talvez seja um momento de incrementar a carteira de fundos imobiliários, uma vez que o IFIX pode ter caído em função da subida dos juros futuros, além da previsão de uma melhora estrutural no país nos próximos anos. Principalmente se o governo estiver com um bom apoio e com possibilidade de ser reeleito daqui a quatro anos.

Enfim…

Previsões… será que devemos dar tanta importância a elas? Ou seria melhor trabalhar com cenários e ter uma estratégia para cada um deles?

Prefiro a segunda opção, pois, apesar de o homem sempre desejar adivinhar o futuro, continuamos muito incompetentes em prognósticos. Seu caminho aparenta-se com a ideia de detalhismo, de querer avaliar e compreender o significado das nervuras de cada folha sem se atentar à floresta. E, concordando com um texto que li na semana passada do Felipe Miranda, a floresta é muito mais importante para a construção de seu patrimônio.

Enxergar a floresta é perceber serenamente quais são os cenários que se descortinam e como suas atitudes serão direcionadas em cada realidade possível. Isso torna-se ainda mais verdadeiro para quem gerencia sua carteira de investimentos através da alocação de ativos, pois a atribuição de percentuais e rebalanceamento adequado dos bens de seu portfólio, é muito mais determinante do que o ativo em si.

Em outras palavras, não importa se a PETR4 vai subir ou cair. Importa como o ativo está organizado em sua carteira e qual será o seu comportamento quando ocorrer uma grande variação em seu preço. Isso é o que trará grandes resultados a longo prazo, tornando os investidores mais próximos de sua liberdade financeira.

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