Seu “perfil financeiro” pode influenciar suas decisões de investimentos?


O rótulo de “perfil financeiro” atribuído a você nos questionários realizados pelos agentes financeiros induz suas próprias decisões de investimentos?
Será que eles auxiliam em algo ou é mais uma imposição estúpida imposta pela legislação?


No artigo “Gerentes de bancos, gestores digitais e casas de análise: em quem confiar?”, escrevi sobre a importância do processo de aquisição de conhecimento para termos independência e responsabilidade na escolha da alocação de nossos investimentos, incorporando em nossa própria vida, o papel fundamental de protagonista, seja escolhendo nossos próprios ativos ou acatando sugestões dentro de uma estratégia sólida de investimentos.

A forma como você usará essa sabedoria está (ou deveria estar) diretamente ligada aos seus objetivos de vida. Mas será que o rótulo atribuído a você pelo questionário que você preencheu na corretora de valores, definindo seu perfil financeiro, influencia, inconscientemente, suas decisões?

Qual o rótulo de seu perfil financeiro?

Perfil financeiro x conhecimento

Será que faz sentido falarmos em “perfil financeiro”? Eu confesso que tenho dificuldade de responder a essa pergunta afirmativamente se alguém me questionar. É fato que, naturalmente, temos um perfil de investimentos, resgatado do subconsciente, para gerenciar nossos ativos. Ele pode, porém, mudar conforme a estratégia que estamos aplicando no momento. Não deveria ser um rótulo atribuído.

Uma coisa é certa: essa estratégia possui uma relação diretamente ligada ao nível de conhecimento  que possuímos dos diversos ativos financeiros. Imagine uma pessoa que não conheça o mercado de opções de ações. Ela estará muito menos susceptível a incluir esse tipo de investimento no seu portfólio, não porque ela não o considere uma boa opção, mas sim porque o desconhece e não sente segurança na sua aplicação.

Por outro lado, é possível que uma pessoa que entenda sobre esse mercado, conheça bem seus benefícios e riscos, e mesmo assim, prefira não incluir esses ativos em sua carteira de investimento simplesmente por uma decisão pessoal vinculada a uma estratégia específica. A diferença das duas situações é que a segunda decidiu com base em informações e a primeira o fez pelo desconhecimento.

Isso mostra como o conhecimento é muito mais importante do que um suposto “perfil” financeiro. Quando mais opções tivermos em nosso menu, mais variações de estratégias podemos aplicar para nosso portfólio. É notória a diferença de oportunidades entre pessoas que atingem um grau mínimo de inteligência financeira e aquelas que dizem que não têm tempo para isso. E acreditem: para abandonar esse papel de coadjuvante no gerenciamento de nossos recursos financeiros, precisamos de muito menos tempo do que se imagina.

A maioria das pessoas fica reticente pela suposta falta de tempo em compreender o mercado financeiro. Mas proponho uma análise: observe o quanto de seu tempo diário é consumido com programas de televisão, navegação em redes sociais ou qualquer outra atividade passiva. Arrisco a dizer que sua conclusão será que a falta de tempo, na verdade, não é determinante. O que é determinante, de fato, é assumirmos a responsabilidade pelos nossos atos.

O IPS – Investment Policy Statement

O IPS, ou, em português, a Política de Investimento Pessoal é uma abordagem mais completa para associar o conhecimento com a adequação de um perfil financeiro de cada pessoa. Ele á muito usado em private bankings e family offices para os clientes mais abastados.

Em resumo, os especialistas traçam um perfil com alto nível de personalização ao investidor, que passa, além do risco, retorno e liquidez, pelo seu horizonte de investimento, onde ele está em seu ciclo de vida atual, sua estrutura familiar e dependentes, tributação e sucessão patrimonial.

Nesses casos, quando associado ao conhecimento mais profundo da pessoa, o “perfil financeiro” pode fazer mais sentido e ser útil em uma abordagem mais ampla para a escolha de seus investimentos. Ele poderá funcionar como um guia para ajudar o investidor a lembrar, controlar e desenvolver suas próprias decisões.

Os questionários dos agentes financeiros

Apesar da exceção do conceito mais elaborado do IPS, o conceito de “perfil financeiro” propagado nas corretoras de valores e na mídia está disseminado de forma irresponsável. As escalas apresentadas, que vão do conservador ao agressivo, estão em diversas plataformas de investimentos e corretoras de valores, e são elaboradas através de um questionário cujo preenchimento é obrigatório. E pasmem, tem de ser renovado anualmente! As perguntas que nos fazem não abordam o que é realmente importante e as respostas, de forma alguma, nos dizem se estamos aptos ou não a investir em determinados ativos.

Há perguntas em que se misturam conceitos, como perguntar sobre o nosso “conhecimento” em investimentos e apresentar uma resposta em que você busca segurança e abre mão de rentabilidade. Outras onde perguntam o que você faria com seu patrimônio se ocorresse uma baixa do mercado. Outras ainda, querem saber por quanto tempo você irá deixar seu dinheiro investido na corretora.

Nesses questionários, os agentes financeiros supõem que você vai usar apenas sua plataforma para colocar todo o seu patrimônio e que você não possui estratégia nenhuma de investimentos. Se estou abrindo uma conta em uma corretora apenas para operar ETFs de renda variável (RV), por exemplo, eu precisaria dar respostas ao questionário que me classificariam como “agressivo”. Mas, e se o montante que mantenho nessa corretora represente apenas 5% do meu patrimônio?

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Vivenciei uma das situações mais absurdas dessas “amarras” no ano passado, que é agravada pelo fato de que nesse caso você não foi apenas rotulado: você foi impedido de investir. Na gestora Vérios, só é possível investir em RV se depositarmos mais do que R$ 50mil em sua carteira (veja texto e comentários no artigo inicial de comparação das gestoras digitais).

O absurdo é que a régua, nesse caso, é financeira, totalmente desvinculada ao conhecimento que possuímos do mercado. Nessa comparação entre gestoras, não pude criar uma carteira com renda variável na Vérios, uma vez que não queria expor demais meu portfólio em algo que ainda estou avaliando. Veja o artigo atualizado mensalmente com as rentabilidades das gestoras digitais aqui.

Questionários são alheios à sua estratégia global de investimentos

Enfim, as perguntas, e o quanto você tem disponível para investir em determinada plataforma, não dizem nada a respeito do que você poderia ou não fazer com o seu dinheiro, pois não desvendam quais as corretas alocações de ativos que você possui. Muitas vezes até, a desinformação é dominante, como a ideia de que pessoas conservadoras devem aplicar somente na poupança ou Tesouro Selic. Isso realmente ocorre quando não temos uma boa compreensão do mercado e uma orientação suficiente.

É possível, por exemplo, ser conservador aplicando em ações, focando em empresas sólidas e com bom pagamento de dividendos, por exemplo. Ainda mais com a nova realidade dos juros baixos no Brasil, insistir em ser conservador sem investir em renda variável pode prejudicar muito seu patrimônio no futuro.

Mesmo as opções, classificadas como alto risco, podem possuir algumas estratégias conservadoras como a realização de venda coberta. A venda coberta aliada à compra de uma ação, inclusive, é uma operação mais segura do que a compra da ação de forma isolada. São possivelmente alternativas que nunca são analisadas de forma imparcial por uma pessoa de perfil financeiro “conservador” que desconhece o mercado.

As respostas desses questionários ficam ainda mais sem sentido se usamos a estratégia de Alocação de Ativos na nossa carteira de investimentos, realocando-a periodicamente de forma inteligente. É uma forma segura e comprovadamente mais rentável do que manter o dinheiro somente em poupança ou na maioria dos fundos de investimentos bancários.

Claro que aqui precisamos de algo além do conhecimento mainstream da mídia. E é esse conhecimento que convido o leitor a adquirir, através dos links desse texto, tendo a certeza de que os frutos que virão no futuro compensarão esse empenho no presente.

P.S.: Em 2020, escrevi um texto onde apresento e esclareço a diferenciação que faço dos termos perfis de investidor e perfis de investimentos. Apesar de ambos estarem englobados no conceito geral de “perfil financeiro”, possuem grandes distinções. O primeiro, está ligado à pessoa, e o segundo, às classes de ativos que investe. Leia mais em “Perfil financeiro, perfil de investidor ou perfil de investimento: quais as diferenças?“.

Explore mais o blog pelo menu no topo superior!…
Ou leia um pouco de minha história aqui ou então, ouça a entrevista que fiz para o podcast do blog SRIF365.

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Fire, eu?
4 anos atrás

Excelente post, parabéns!
Concordo contigo, essa questão de perfil de investidor é muito superficial e está longe de estar alinhada com uma estratégia global de investimentos e diferentes posturas que o investidor toma dependendo do seu conhecimento do ativo e do momento do ciclo que o mercado se encontra.
Abs!

Anônimo
Anônimo
4 anos atrás

Excelente post, parabéns!
Concordo contigo, essa questão de perfil de investidor é muito superficial e está longe de estar alinhada com uma estratégia global de investimentos e diferentes posturas que o investidor toma dependendo do seu conhecimento do ativo e do momento do ciclo que o mercado se encontra.
Abs!

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