Samsara, nirvana e independência financeira


Você conhece os princípios do samsara e nirvana no budismo?

Como eles podem se relacionar com sua independência financeira?


Normalmente, leio mais de um livro por vez. Dentre eles, um sempre tem um lado mais “filosófico”. Dentre este tema, é frequente a presença de textos com pensamentos budistas. Um que comecei a ler esta semana é “108 contos e parábolas orientais”, da Monja Coen.

Nesse livro ela nos apresenta diversos koans, isso é, pequenas narrativas que questionam o nosso senso de racionalidade. Eles estimulam o rompimento entre as ideias da realidade e a própria realidade, fazendo com que vivenciemos a vida e não nos percamos apenas filosofando sobre ela.

Em um dos capítulos, um koan me chamou a atenção:

Budismo: samsara e nirvana (flor de lótus)

Durante uma conversa, o rei Milinda, que questionava sobre os ensinamentos de Buda, perguntou ao sábio Nagasena:
O que é o samsara?

O rei não entendeu sua primeira resposta e Nagasena replicou:

– É como o caroço de manga que plantamos depois de comer a fruta. Quando a grande árvore cresce, ela dá frutos, as pessoas comem para, em seguida, plantar os caroços. E dos caroços nasce uma grande mangueira, que dá frutos. Desse modo, a mangueira não tem fim. É assim, grande rei, que nascemos aqui, morremos ali, nascemos, morremos, nascemos, morremos. Grande rei, isso é samsara.

Depois de um tempo, o rei, ainda em dúvida, perguntou:

– O que resta quando o “eu” desvanece?
Nagasena, comovido, apontou para o lago coberto de flores de lótus.
O rei Milinda despertara”.

Nossas ações na roda do samsara

Os ensinamentos budistas provocam várias interpretações. Esse koan, me ensina muito mais de como nossas ações geram frutos no futuro do que uma análise mais direta relacionada à ressurreição física.

Nossas atitudes, palavras e pensamentos, repetidos dia a dia, provocam o nascimento de novos frutos, que, sendo férteis, são disseminados para outras pessoas que promoverão sua multiplicarão adiante.

A fertilidade não é, por si só, boa. Ela é desejável quando o fruto for bom. Se for mau, o melhor é que nossa herança adoeça e morra conosco, para não prejudicar as futuras gerações.

Percebe o quanto temos de responsabilidade enquanto estamos ativos nessa vida? Seremos como as flores de lótus a cada ciclo da roda do samsara?

Quais os mundos da roda do samsara em que escolhemos viver?

O samsara compreende seis mundos:

  1. O mundo dos seres celestiais: é um mundo de abundância para cada de seus habitantes. Nada falta a eles. A felicidade impera;
  2. O mundo dos asuras: aqui temos o mundo dos espíritos guerreiros. As pessoas estão tensas, sempre procurando brigas e atritos;
  3. O mundo dos humanos: o mundo do equilíbrio, onde sofremos tanto as emoções positivas quanto negativas;
  4. O mundo dos animais: onde vivemos apenas de forma instintiva, sem livre arbítrio e sem propósito;
  5. O mundo dos espíritos famintos: os seres desse mundo sempre reclamam de algo, nada é suficiente para eles;
  6. O mundo dos seres infernais: onde não existe nada para se apoiar, a infelicidade impera e as pessoas estão sempre sofrendo.

Podemos decidir os mundos onde passamos a maior parte de nosso tempo, enquanto giramos na roda do samsara. Durante apenas uma hora de nossa existência, podemos percorrer todos eles, e não necessariamente em vidas distintas.

A nossa responsabilidade provém do fato de que cada instante da vida é único e não se repete jamais. O que passou torna-se causa do que virá. O budismo mostra que nossas ações convertem-se nos frutos que deixaremos para nossa família e amigos.

Em quais dos seis mundos acima, você escolheria viver a maior parte do tempo?

Samsara e nirvana: prática e iluminação

O budismo também nos ensina a relação entre as práticas que temos nos mundos de samsara e o nirvana.

Mas o que é, afinal, o nirvana?

O nirvana é o extinguir, o cessar das oscilações da mente e do espírito. É abolir as dúvidas e da confusão que nos faz viver nos mundos inferiores. É o estabelecimento da verdade e do caminho correto.

Quando atingimos o nirvana, cessamos o fogo das paixões e aquietamos a mente. Não colocamos mais lenha na fogueira. Nos livramos do sofrimento, da ansiedade e da culpa.

Viver na roda do samsara é lidar com nossas atitudes. Nirvana é o estado dessa consequência. Samsara é prática. Nirvana é iluminação. Através da compreensão de nossas ações na roda do samsara, penetramos no nirvana, dizia Buda.

Não precisamos esperar outra vida para alcançar a libertação. Não devemos perder essa oportunidade. Se entendermos o sentido da natureza transitória e da interdependência de cada ação, pensamento e palavra, entendemos que nosso “eu” é algo efêmero. Entendemos o samsara e o nirvana.

Quando o “eu” desvanece, o “não-eu” se manifesta. Nossas atitudes nessa existência afetarão a manifestação de diversas vidas no futuro. Podemos influenciar a vida em vida, criando efeitos que permanecerão indefinidamente no caminho da existência humana, mesmo convivendo com os animais, espíritos famintos e seres infernais.

Flores de lótus crescem em águas lamacentas e são puras, imaculadas. A sujeira não se assenta nelas, como mostrou Nagasena ao rei Milinda.

Samsara, Nirvana e independência financeira

Como toda essa história nos contada pelo budismo encontra paralelos com o que tenho publicado nesse blog sobre a independência financeira?

Só alcançamos a iluminação, o nirvana, se escolhermos viver a maior parte do tempo no mundo dos seres celestiais. É lá que teremos paz, tranquilidade e serenidade para percebermos verdades universais, como as manifestações que nossas atitudes causam ao mundo, sucessivamente.

O tempo disponível conquistado através de uma viagem lenta


Escrevo há tempos sobre a importância de escolher bem o uso do tempo nas nossas vidas. Quando possuímos e controlamos nosso tempo, entendemos melhor o “eu”, a importância de algumas atitudes que tomamos em vida e exercitamos nossa responsabilidade em relação a elas.

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A única forma de decidir, sem influências, o que fazer com o seu tempo, é possuir sua liberdade financeira. E, se você não pertence a uma minoria privilegiada, a única maneira de fazer sua viagem lenta à independência financeira, é investindo, construindo um portfólio sólido que seja suficiente para lhe fornecer a autonomia necessária e agir como protagonista em sua vida.

Como conseguir a independência financeira?

É claro que é impossível responder essa pergunta nesse espaço. Há a necessidade de muita leitura para mudar modelos mentais, desenvolvidos e reforçados por uma cultura de falta de alfabetização financeira e sociedade consumista. Podemos, entretanto, resumir a resposta sob dois aspectos:

  • É necessário investir corretamente: conhecer o mínimo sobre juros compostos, carteira de investimentos e possuir o reconhecimento de que não existe “atalhos” para a riqueza. A caminhada deve ser feita um passo por vez, mantendo sempre um pé no chão.
  • É necessário não gastar excessivamente: entender que o prazer real não está associado com “coisas” e sim com “vivências”. Só entendendo essa lógica você perceberá que não precisa passar pela vergonha e pela competição com os demais que a sociedade do consumo impõe a você.

A libertação para viver a roda do samsara

Quando aceitamos que o prazer real da vida está muito além dos bens materiais, a capacidade de ser feliz amplia-se a níveis inimagináveis. São remotas as chances de passarmos, mesmo que para uma pequena visita, pelos mundos dos seres infernais e famintos. Estamos bem com o que conquistamos. Temos tudo o que precisamos para estar em paz.

Quando temos tempo para nos dedicar ao conhecimento, sejam leituras, cursos ou simplesmente conversas com pessoas interessantes, deixamos de viver por instinto. Largamos a corrida dos ratos, onde acordamos para trabalhar, voltamos para casa para dormir e perdemos nosso final de semana porque estamos “cansados”. Assim, raramente passaremos também pelo mundo dos animais instintivos, vivendo um deserto moderno.

Vagar pelo mundo dos humanos é inevitável, em virtude da vida em sociedade. Mesmo que não tenhamos tantos altos e baixos, compartilhamos a felicidade e decepções de outras pessoas. Possuindo a serenidade devida, tendo resolvido seus problemas financeiros e dispondo de mais tempo, estaremos, entretanto, mais aptos a ajudá-las. Lembra do guia de segurança no avião que diz para colocarmos primeiro a máscara de oxigênio na gente? É por aí…

Quando você está em paz e tranquilidade, não vê motivos para andar pelo mundo dos asuras. Pouca coisa incomoda. Palavras ríspidas não surtem efeito. Você tem o equilíbrio e a sensatez de retirar-se de uma situação no momento certo: antes de visitar os espíritos guerreiros.

Por eliminação, se você pouco visita esses cinco mundos, estará na maior parte do tempo no mundo dos espíritos celestiais. Você estará apto a criar causas-condições-efeitos de compreensão profunda e de ternura ilimitada, manifestando os princípios da sabedoria e compaixão. Ou ainda, os alicerces da transformação de samsara em nirvana.

E vocês leitores, por quais mundos estão passando na maior parte do tempo?

Explore mais o blog pelo menu no topo superior! E para me conhecer mais, você ainda pode…
assistir uma entrevista de vídeo no YouTube
ler sobre um resumo de minha história
ouvir uma entrevista de podcast no YouTube
participar de um papo de boteco
curtir uma live descontraída no Instagram
… ou adquirir um livro que reúne tudo que aprendi nos 20 anos da jornada à independência financeira.

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Danilo
3 anos atrás

Meus parabéns André. Ótimo post.

Obrigado.

Forte abraço!

Victor Moura
Victor Moura
3 anos atrás

Direto, rápido e certeiro, me ajudou a aprimorar meu ponto de vista. Grato de verdade

Marcos Célio Carvalho Defina
Marcos Célio Carvalho Defina
3 anos atrás

Aprecio muito seus posts pois eles mesclam primorosamente a objetividade do mundo financeiro com a subjetividade da filosofia de vida e comportamentos inclusive sugerindo discretamente atitudes que nos tornarao seres mais evoluídos espiritualmente durante essa existência. Parabéns pela rara e culta iniciativa

Arthur
Arthur
3 anos atrás

Essa leitura é preciosíssima
Melhor texto que leio em muito tempo
Obrigado!

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