A alfabetização financeira dos norte-americanos


Os Estados Unidos são a referência do capitalismo mundial. É um país onde mais da metade da população investe em ações de empresas, número ao menos 30 vezes maior do que a realidade brasileira.

Mas será que, em toda essa vanguarda, a alfabetização financeira dos americanos também é uma referência para o mundo?


Abundância em educação financeira, mas…

Os Estados Unidos possuem uma abundância de publicações voltadas à alfabetização financeira. A educação financeira nas escolas é disseminada, existe uma infinidade de colunistas especializados em grandes veículos de comunicação e um conjunto de respeitáveis blogueiros sobre o assunto.

A riqueza do mercado editorial (uma leve busca na Amazon mostra que o número de livros de educação financeira é altíssimo), bem como a profusão de cursos de finanças pessoais, mostram que a população não é desassistida em relação ao tema.

Porém, essa fartura de material sobre o assunto não se traduz em grau efetivo de alfabetização financeira da população.

Recentemente, uma pesquisa de Charles Schwab com uma amostra representativa da sociedade americana revelou números que decepcionam àqueles que esperam que os americanos possuam uma educação financeira adequada. Vamos citar e comentar alguns deles.

As influências no controle financeiro dos norte-americanos

Redes Sociais

A maioria dos americanos estão mais focados no que as pessoas gastam (57%) em relação ao que elas economizam (43%). É um comportamento potencializado pela influência que as redes sociais possuem hoje nos hábitos de consumo das famílias norte-americanas, uma vez que 60% assinalaram que observam as postagens de seus amigos para ver como eles gastam seu dinheiro.

Antigamente, o círculo de influências para os gastos de consumo restringia-se a vizinhos, amigos de escola/trabalho e família. Hoje, com a infinidade de ambientes sociais que fazemos parte, o efeito é potencializado. É uma propaganda massiva que aponta que, para não nos sentirmos envergonhados pelo sucesso alheio, precisamos também evitar o minimalismo e consumir a qualquer custo.

Remessa Online - cupom de 15% de desconto
Acesse por esse link rastreável: agora é tudo automático na sua tela.

Os grupos mais influenciáveis por esse comportamento são a geração Z (que nasceram após 1995) e os milleniuns (nascidos entre 1980 e 1995). O interessante é que, por uma pequena margem, os milleniuns, mais velhos, são mais influenciáveis do que a geração já nascida na internet e nas redes sociais.

Isso é algo a ser observado no futuro. Existem alguns sinais que mostram que os mais jovens tendem a ser menos consumistas e serem mais alfabetizados financeiramente que a geração anterior, embora precisemos de mais evidências para manifestar uma clara tendência.

Famílias e amigos

Apesar de serem muito influenciados pelas mídias sociais, os norte-americanos entendem que essa influência é majoritariamente negativa, como mostra a tabela abaixo.

Influência das redes sociais e amigos e família nos hábitos de consumo e investimentos

Por outro lado, são mais inclinados a confiar na influência da família e dos amigos em sua alfabetização financeira.

Aqui deveríamos ter algumas perguntas a serem feitas adicionalmente aos participantes para podermos analisar melhor essas respostas:

  1. Apesar das redes sociais terem uma má influência, você é susceptível de, pelo lado emocional, ignorar essa condição suspeita? – (talvez aqui pudéssemos explicar sua influência apesar de ser algo considerado mau).
  2. As boas influências que recebe vêm de pessoas que, na prática, conseguiram o próprio sucesso financeiro?

As respostas à primeira questão talvez elucidasse o aparente paradoxo das pessoas prestarem tanta atenção nos gastos das pessoas pelas redes sociais e ao mesmo tempo, classificarem esse hábito como uma má influência. É um tipo de paralaxe cognitiva, onde seu comportamento é diferente daquele que deveria ocorrer pelo o que pensa sobre o assunto. É algo muito normal na sociedade atual.

Já na segunda questão, temos a influência baseada por laços afetivos, o que, teoricamente, não deveria entrar na pauta racional da discussão, uma vez que boas intenções não bastam na disseminação da educação financeira.

Isso é facilmente entendido por aquele tio que sempre se dispõe dar conselhos financeiros a você, mas ele mesmo batalha dia a dia para colocar suas contas em ordem. Em uma versão menos trágica, pode ser aquele primo que não se endivida, mas que vai trabalhar de sol a sol até seus 65 anos para conseguir uma aposentadoria do governo.

Falei de tios e primos aqui, mas também podemos colocar “pais” nessa situação. Apenas tentei deixar a coisa menos emocional… Mas acredito que a mensagem foi transmitida: sua alfabetização financeira crescerá se você “não confiar em alguém que não demonstre, em sua vida, o resultado concreto de seus ensinamentos“.

O difícil caminho dos norte-americanos para a liberdade financeira

A pesquisa também demonstrou que 59% dos norte-americanos vivem o dia a dia com seu salário mensal, sem possibilidades de separar algo para os investimentos – apenas 38% possuem um fundo de emergência.

A dívida de cartão de crédito é carregada por nada mais, nada menos que 44% das pessoas (com pagamento de juros altíssimos para os padrões dos países desenvolvidos), com despesas médias de quase U$S 500 mensais em gastos não essenciais.

Amazon Prime: teste gratuitamente e assine!
Pensando em assinar o Amazon Prime? Veja aqui se vale a pena!

Aqui podemos ver o copo meio cheio ou meio vazio, dependendo das percepções que temos do problema. Se compararmos a países menos desenvolvidos financeiramente como o Brasil, temos números muito bons. Duvido que por aqui temos uma parcela de cerca de 40% da população que já possuem o seu colchão de segurança em investimentos líquidos e com condições de investir mensalmente.

O número de pessoas endividadas também é menor que o Brasil, e as despesas mensais em gastos não essenciais resulta em um número relativamente baixo, comparativamente ao poder aquisitivo da população.

Mas a pesquisa não aprofundou em questões que poderiam nos ajudar a elucidar alguns pontos:

  1. Quantos meses de seus gastos mensais sua reserva financeira cobre?
  2. Você investe toda a sobra de seu salário ou a usa em compras para suprir suas recompensas pessoais?
  3. O que é um gasto essencial? Almoçar fora todos os dias da semana é um gasto essencial, por exemplo?

Com essas respostas, teríamos mais condições de fazer uma análise melhor e entender em que grau está a alfabetização financeira dos nossos vizinhos do norte.

A importância do planejamento financeiro

A pesquisa mostra que 46% dos consumidores pensam em metas financeiras, mas não possuem nenhum plano para atingi-las. Uma parte menor, não pensa em objetivos e nem possui um plano financeiro. Por eliminação, apenas 28% dos norte-americanos possui um propósito financeiro e também possuem um plano por escrito para alcançá-los.

O melhor vem agora. As pessoas que possuem um plano financeiro também têm uma melhor educação financeira, em virtude das situações que vivenciam em sua vida pessoal. Vejam nas figuras abaixo a diferença entre os que possuem um plano e os que não possuem nos seguintes aspectos:

  • Pagam suas contas e economizam todo mês;
  • Possuem um fundo de emergência;
  • Possuem investimentos automatizados após o recebimento de seu salário;
  • Nunca rolam a dívida do cartão de crédito e fazem empréstimos;
  • Rebalanceiam regularmente seu portfólio (essencial para a estratégia que uso para investimentos); 
  • Consideram a tolerância ao risco nos investimentos;
  • Estão por dentro das taxas e custos de cada investimento;
  • Sentem-se confiantes a alcançar suas metas financeiras;
  • Têm um portfólio diversificado (também essencial para uma boa alocação de ativos).
Planejamentos financeiros e importância
Planejamentos financeiros e resultados

Ou seja, aquela velha história de criarmos um planejamento financeiro e levá-lo a sério, pode mesmo ser essencial para atingirmos nossos objetivos de longo prazo! Pense nisso o quanto antes, caros leitores. Eu, particularmente, uso uma planilha do Excel para meu planejamento e a disponibilizei no artigo que comento sobre TSR e a TNRP.

Percepção de riqueza

Os americanos também disseram que eles precisam de mais de 2 milhões de dólares para se considerarem ricos. Apenas 8% deles disseram estar nesse estado.

Apenas 24% acreditam que chegam nessa condição dentro de 5 anos. 20% dão um prazo de 10 anos para alcançar esse número e mais 8% necessitarão de 25 anos. Ou seja, 40% acreditam que nunca chegarão nessa situação.

Pensando na nossa realidade, são números respeitáveis e ambiciosos. Acredito que o percentual dos brasileiros que responderiam que nunca chegariam a tal valor de patrimônio seria muito maior.

De qualquer forma, a maioria entende que dinheiro não é a única coisa na vida para sentir-se rico, e sim como eles vivem suas vidas (72%). Talvez uma questão de seguir alguns princípios. Apenas 28% fixam-se apenas em cifras bancárias. Esse é um pensamento que sempre frisei muito aqui no blog: o dinheiro é apenas um meio, não o objetivo. Há algo muito maior além dele.

Por outro lado, incrementando os dados meio contraditórios da pesquisa, 54% dos pesquisados disseram que gastariam todo um prêmio de 1 milhão de dólares que eles recebessem repentinamente. 28% responderam que pagariam dívidas, 44% guardariam a curto prazo ou investiriam e 7% fariam doações (dado numericamente pequeno, mas que reflete a realidade que os americanos são um dos povos que mais doam no fundo – aqui escrevi um artigo sobre filantropia).

Pensamentos finais sobre a educação financeira

A situação de analfabetismo financeiro não é exclusivo dos norte-americanos. Muito pelo contrário, há pesquisas que mostram que eles são um dos povos mais educados financeiramente do mundo.

Há um tempo atrás, publiquei os resultados de uma rápida enquete envolvendo pessoas de diversos países, cujo resumo pode ser lido em “O analfabetismo financeiro como uma barreira à sua independência financeira“. Você pode fazer o teste também (que possui apenas 3 perguntas) e ver como você se situa no ranking.

O ideal para avaliarmos a efetividade de uma educação financeira como política de sociedade desde a infância, como possui os Estados Unidos, seria avaliar uma pesquisa mais extensiva, incluindo países que não possuem a mesma condição. Apenas com esses dados, tendemos a realizar comparações para nossa realidade, mas não podemos afirmar causas e consequências, embora acredito que exista uma correlação forte entre elas.

Eu não tenho certeza o quanto essa política de ensino é disseminada nos Estados Unidos, mas confesso que, considerando sua existência, me decepcionei com alguns dados da pesquisa.

Considerando que a sociedade americana é muito mais rica que a nossa, o percentual de pessoas que poderiam atingir a independência financeira mais cedo deveria ser muito maior. Possivelmente, a influência consumista que as crianças e jovens recebem desde cedo ofusque a alfabetização financeira.

E você, o que acha desses dados? Está melhor do que o americano médio ou ainda está batalhando para chegar lá?

Explore mais o blog pelo menu no topo superior!…
Ou leia um pouco de minha história aqui ou então, ouça a entrevista que fiz para o podcast do blog SRIF365.

E, se gostou do texto, por que não ajudar a divulgá-lo em suas redes sociais através dos botões de compartilhamento?

Artigos mais recentes:

3.9 9 votes
O texto foi bom para você?
Assine para receber as respostas em seu e-mail!
Notifique-me a
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
0
Por que não deixar seu comentário?x