Você usa o dinheiro para trazer felicidade à sua vida?


Qual a relação do dinheiro com a felicidade?

Como a vergonha e o tempo podem estar minando sua liberdade para atingir a SUA felicidade?


Uma rápida busca na internet é capaz de retornar vários artigos que defendem a ausência de uma relação direta entre dinheiro e felicidade. Outros defendem que sua importância é relativa. Eu defendo a ideia de um vínculo indireto, como já comentei algumas vezes nesse blog: dinheiro é apenas um meio, e não um fim em si mesmo.

O dinheiro, assim como uma arma ou como uma droga, pode ser usado para o bem ou para o mal. Não necessariamente aos outros, mas também a nós mesmos. O “bem” é algo facilmente percebido e alardeado aos quatro ventos, muitas vezes ilustrado através do consumismo. O “mal”, entretanto, frequentemente não fica claro para a maioria das pessoas.

A sociedade do consumo e da competição nos influencia a usá-lo para viver reiteradamente a vida dos outros ou ainda, para saciar majoritariamente seus desejos de curto prazo, influenciadas pelo marketing de que esse é o melhor uso que você pode fazer com seu dinheiro.

Será que essa felicidade, predominantemente passageira, é o princípio fundamental para que você tenha uma vida plena? Ou será que a liberdade pode possuir uma associação mais íntima com esse sentimento?

Qual a relação entre dinheiro e felicidade? Como interagem com o consumismo e o tempo?

A relação dinheiro x felicidade

É verdade que o dinheiro traz segurança e tranquilidade – que são importantes pilares para a felicidade, porém, muitas pesquisas mostram que isso ocorre até certo ponto. O valor monetário estabelecido para esse equilíbrio depende muito das aspirações e do modo de vida de cada pessoa. Logo, é bobagem fixarmos valores onde essa estabilidade ocorre.

Se você possui o suficiente para estabelecer uma moradia aprazível, para dar conforto, um bom futuro aos filhos e tirar férias anuais, você estabelece um padrão de uso racional do dinheiro e faz com que sua presença conduza sua vida ao caminho da felicidade. Um caminho para o bom minimalismo.

Por outro lado, pessoas que não possuem um mínimo de segurança financeira estão imersas em tantas preocupações e ansiedades que torna impossível viver, minimamente, de forma satisfatória. O dinheiro pode, sem dúvida, mudar de forma muito positiva a vida dessas pessoas.

Existem dois excelentes blogs da finansfera que falam muito sobre esse tema. Em uma publicação mais antiga, o Guilherme, do blog “Valores Reais”, que recentemente fez uma homenagem a este blog, resenhou o livro “Dinheiro pode comprar felicidade?”, de M.P. Dunleavey, infelizmente já fora de catálogo. Sua resenha traz alguma luz adicional ao tema.

Já a Rosana, também homenageada no post do Guilherme, escreveu em seu do blog “Simplicidade e Harmonia” considerações adicionais sobre o gene da felicidade, que nos ajuda a entender como se relacionar com esse sentimento. O que nos leva a pensar…

O que é felicidade?

Existem muitas teorias que questionam a concepção que a sociedade faz hoje da ideia de “felicidade”. Eu trarei apenas mais uma para complementar o ponto de vista do Guilherme e da Rosana.

Jordan Peterson, em seu excelente “12 Regras para a Vida“, usa o conceito taoísta dual de yang e yin, a ordem e o caos, para mostrar que o objetivo supremo do ser humano é encontrar o significado no limite entre esses pares intimamente entrelaçados. Permanecer nesse limite é permanecer no caminho da vida, e isso, ou é algo muito mais importante do que a felicidade, ou é a própria definição de felicidade.

Como tratamos com a ordem e o caos em nossa vida? Sem se aprofundar no pensamento taoísta mais profundo, poderíamos ampliar o conceito de felicidade, de forma que ele represente também a busca do significado da vida de cada um? Como equilibrar-se entre esses dois extremos?

O fato é que acabaremos por chegar na definição de que o dinheiro pode, até certa altura, tornar qualquer pessoa mais feliz, dentre as áreas em que ele produz frutos. Porém, há esferas em que ele não produz resultado algum. E beneficiar-se dessa dualidade só será possível se você escolher utilizá-lo de acordo com seus valores e necessidades, conforme o modelo mental que possui perante a ele.

Se retornarmos aos estudos dos antigos textos gregos, encontramos duas definições que são associadas à felicidade: hedonismo e eudaimonia. O primeiro está mais associado ao prazer imediato, presente. Você já deve ter sentido aquela carga de impulsos eufóricos que recebe em alguma situação, não? Uma felicidade plena, mas momentânea.

Já a eudaimonia refere-se a algo mais a longo prazo, relativo a uma construção. Está associada muito à virtude e esforço para ampliar nosso potencial. Uma felicidade absoluta, mas edificada com o tempo.

Nesse sentido, o dinheiro pode ser usado para nos fornecer ambas variações de felicidade. Seu uso a curto prazo nos traz o prazer do presente, mais conectada ao hedonismo e à efemeridade. O investimento e o uso do dinheiro a longo prazo nos trazem mais sentido da vida, remetendo ao conceito de eudaimonia e sua felicidade perene.

Qual ideia você tem da felicidade? O que você necessita para seu prazer, pode prejudicar seu propósito e sentido de vida? Qual sua principal orientação: a gratificação imediata e provisória ou uma recompensa posterior, mas sustentável? Em outras palavras, como você poderia usar o dinheiro para trazer felicidade permanente em sua vida?

Usar o dinheiro para o ego ou viver a vida dos outros

O dinheiro só trará a você felicidade se você se permitir fazer suas próprias escolhas em sua vida. Ser protagonista das decisões que constroem sua existência e ser responsável pelas suas consequências é o que nos faz seres humanos na essência.

Um modelo mental programado para pensar no dinheiro como um fim e gastá-lo rapidamente a curto prazo pode trazer a você felicidade momentânea, mas também pode estar minando um prazer mais duradouro.

Há duas formas de estar preso a uma armadilha da qual não conseguimos – ou não podemos, nos desvencilhar.

1) A ditadura do consumismo e a vergonha camuflada

De tudo o que você consome, o que realmente provém de uma necessidade sincera? Perceba que nossas carências podem transitar tanto do lado racional (trocar um celular de dois anos que já está no berro) como emocional (comprar uma nova roupa por “cansar” das velhas, embora ainda estejam em perfeito estado). Ambas são legítimas.

Mas será que a maior parte de seu consumo – principalmente o emocional, vem do desejo genuíno de preencher um prazer interno? Se você, por exemplo, eliminar as compras por impulso, será que poderia avaliar melhor o que realmente precisaria para sua felicidade? É consenso entre os educadores financeiros que apenas “adiar” as compras pode fazer uma grande diferença nessa avaliação pessoal.

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O fato é que estamos vivendo uma época em que somos constantemente direcionados ao consumo. Para mantermos a ação das compras sempre em evidência, somos influenciados sob duas formas. E ambas manipulam nosso consumo de uma forma tal que, um fluxo de compras que poderia (ou deveria) ser finito, seja transformado em algo sem fim.

  1. A ditadura do “eu mereço”: no pretexto de buscarem recompensas por inúmeros atos de suas vidas, as pessoas consomem em excesso para aplacarem, na verdade, suas angústias e carências. É possível que você já tenha visto aquela embalagem cheia de “sonhos de valsa” no caixa do supermercado declamando “Você merece um!”. E com certeza, já ouviu pessoas próximas justificando suas compras por esse motivo.
  2. A ditadura da vergonha: as pessoas são induzidas a acreditarem que podem ser mais poderosas e desejáveis se consumirem os produtos do anúncio. O marketing trabalha com nosso sentimento de inferioridade perante às outras pessoas. Você nunca tem o suficiente, precisando sempre adquirir “coisas” para poder se igualar às pessoas de sucesso. Ou seja, você sempre é bombardeado pelo sentimento de vergonha perante à sociedade, que só será resolvido pelo consumo dos itens anunciados.

Para mais detalhes desse aspecto e um bate-papo sobre hedonismo, veja o texto “Quando a vergonha ofusca o real prazer e lesa sua independência financeira

Sob esses aspectos, como estamos usando o dinheiro para nos trazer a felicidade verdadeira? Pelos padrões atuais, parece que ser feliz é, para citar o texto já batido na rede, comprar algo que você não precisa, com o intuito de impressionar os outros (ou massagear seu próprio ego), para ser uma pessoa que você não é, e, muitas vezes, com o dinheiro que você não tem (ou que poderia ser usado de uma forma mais inteligente).

Será que nossas expectativas não estão muito além do que realmente poderíamos imaginar para uma vida feliz? Será que precisamos de tudo o que está exposto nas vitrines para alimentar nossa autoestima? Ou um pouco mais de minimalismo é proveitoso?

Acredito que o descompasso entre as nossas reais necessidades e as expectativas subjetivas trabalham muito mais para trazer infelicidade às nossas vidas do que o contrário. Quem possui esse modelo mental acima, nunca estará satisfeito com sua vida e consigo próprio. Como viver dessa forma poderia trazer felicidade?

2) O mal uso do tempo

Para viabilizar as compras banais estimuladas pelas “ditaduras” do consumo, a maioria das pessoas comete um erro ainda mais grave: o preenchimento excessivo de um tempo que não volta mais.

Tempo é o elemento universal da igualdade: todos temos o mesmo quando nascemos. E, através do livre arbítrio, escolhemos o que fazer com ele ao longo de nossa vida. É responsabilidade de cada pessoa direcionar o tempo restante de sua vida para a busca inteligente da felicidade.

As pessoas perdem tempo de várias maneiras, como usá-lo inutilmente em redes sociais, para citar um fato dentro do espírito de nosso tempo. Mas, dentro do contexto do tema desse artigo, também usam uma parte considerável do tempo em nossa vida para financiar o consumismo excessivo.

A forma de manter a alimentação de suas expectativas e a manutenção de sua autoestima é, em geral, através de seu trabalho, que preenche muitas horas de sua vida, seja direta ou indiretamente. Um tempo que poderia ser mais bem utilizado.

Pense no quanto você poderia expandir sua felicidade se tivesse mais tempo? Como poderia usá-lo para atingir seus objetivos maiores, seus sonhos? Se você está preso a um emprego ou a um trabalho que não lhe dá prazer e que oferece a sua vida apenas o salário mensal, acredita mesmo que esta é uma forma de ser feliz?

Entendo as limitações da maioria da população e, de fato, dependente de um emprego para sua sobrevivência. Direciono, entretanto, o meu ponto para as pessoas que usam esse salário mensal para sustentar padrões de consumo desnecessários, que não trazem felicidade perene. Olhe ao seu lado e verá muitas pessoas nessa situação.

Será que esse tempo não poderia ser utilizado de formas melhores? Será que seus propósitos mais íntimos é ficar de segunda a sexta (quando não de final de semana), acordando cedo, voltando tarde e vendendo o seu tempo de vida para financiar a roda do consumismo?

Percebam os leitores que estou falando de uma perspectiva mais ampla. É óbvio que a maioria de nós, não privilegiados, temos que passar por um período da vida nesse ritmo, como eu também passei. O intuito da provocação é fazer com que pensemos em uma porta de saída que possa trazer felicidade plena a nossa vida. Este é o assunto do tópico final.

O uso do dinheiro como um meio para atingir fins mais nobres. Liberdade é felicidade?

Acredito que os leitores concordam comigo que não há resposta certa para a pergunta: “O que te faz feliz?” A felicidade é algo relativo e depende da individualidade, das aspirações e da harmonia na vida de cada pessoa.

Ninguém, seja seus pais, amigos ou vizinhos sabem o que te faz feliz. Não siga fórmulas prontas de outras pessoas. Isso pode, na verdade, ser o caminho mais rápido para a infelicidade.

Porém, para edificar uma vida prazerosa precisamos daquela variável fundamental: o tempo. Seja para usá-lo com quem ama, seja para aproveitá-lo em viagens, seja para construir seu canto onde você possa estar bem. Ao final das contas, para construir em sua vida uma situação de paz e equilíbrio onde você tenha condições de ser feliz. Ou, ao menos, para poder refletir o que lhe traz felicidade.

O tempo é o maior bem que você possui. Apesar disso, sua importância é ignorada na sociedade atual. As pessoas o desperdiçam de várias maneiras, sem se dar conta de que ele é o meio essencial para criar a vida feliz que sonha. Seja vivendo o presente, como também preparando o futuro.

É fácil concordar com as palavras acima, mas muitos continuam lutando dia a dia, de sol a sol, contra essas ideias uma vez que não as convertem em atitudes efetivas. Os hábitos de consumo e as barreiras emocionais continuam muito mais fortes do que o juízo.

Quando você se liberta de vender seu tempo para outras pessoas ou para um estilo de vida que não lhe traz verdadeira felicidade, você adquire a possibilidade de viver sua própria vida e avaliar melhor o que deseja. A forma mais comum para chegar nessa situação é, durante um período de sua vida, separar parte de seus ganhos e investir com sabedoria. Se você não faz parte de uma classe privilegiada, não há outro caminho.

Quando você investe, você compra tempo. Quando você faz isso constantemente, você torna sua independência financeira cada vez mais próxima. Uma vez alcançada, você será protagonista de sua vida e poderá decidir quais as ações necessárias para tornar realidade as respostas da pergunta no primeiro parágrafo desse tópico.

Boa sorte!

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Renato
Renato
3 anos atrás

Sempre a mesma história. Não uso não, uso para trazer mais dinheiro que vai me trazer mais dinheiro e assim a roda gira. Estou pelo jogo em si não pelo resultado.

Danilo
4 anos atrás

Parabéns André e muito obrigado, venho aprendendo muito com suas pastagens…
Abraço…

Simplicidade e Harmonia
4 anos atrás

André, “Para viabilizar as compras banais estimuladas pelas “ditaduras” do consumo, a maioria das pessoas comete um erro ainda mais grave: o preenchimento excessivo de um tempo que não volta mais.” Precisamos estar muito atentos para não cairmos na roda do consumo, das ilusões e distrações, pois dessa forma, lá se vai nosso precioso tempo com coisas que não valem tanto a pena. Além disso, vivemos em um mundo com excesso de estímulos sensoriais, pois poucos conseguem se sentir confortáveis em silêncio, na simplicidade e entrando em contato consigo mesmos. Então eu fico pensando: onde foi que a humanidade se… Leia mais »

Frugal
4 anos atrás

Ainda não uso plenamente, mas uso.
A época de usar muito mais ainda vai chegar amigo.

Abraço!

Viver Sem Pressa
4 anos atrás

Oi André, tudo bem? Sabe que algumas pessoas não gostam de ter tempo, porque ter tempo, significa ter que encarar a si mesmo. Então tem gente que acumula tarefas sem fundamento só para estar permanentemente ocupado. Ontem, foi a minha segunda aula de natação. Eu já sabia que nadava bem, apesar de nunca ter tido oportunidade de ter um professor de natação por falta de dinheiro. Mas ontem, meu professor falou que eu tinha condições de competir (deve ser essas competições locais), que eu nado muito bem, bom posicionamento, bom pulmão, boa velocidade. Fiquei feliz! Mas ao mesmo tempo fiquei… Leia mais »

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